Últimos dias foram promissores para as séries brasileiras no streaming e em canais fechados. A atriz brasiliense Mariana Nunes brilha na densa Um dia qualquer, que estreia segunda-feira (17/8)
O Brasil é um dos países reconhecidos internacionalmente pelas novelas que produz e exporta. Títulos como Escrava Isaura e Vale tudo fazem sucesso mundo afora. Por isso, é natural que as séries brasileiras sigam pelo mesmo caminho. Certo? Não! O país demorou a engrenar boas produções em canais fechados e plataformas de streaming. Mas agora nossa gente bronzeada vem mostrar valor. Recentemente, dois títulos nacionais ganharam o catálogo da Netflix: a estreante Mundo mistério e a consagrada 3%, que chegou sexta-feira à quarta e última temporada. Além disso, Um dia qualquer, com a brasiliense Mariana Nunes no elenco, estreia nesta segunda (17/8), às 22h, no Space.
“Antes da pandemia as séries brasileiras viviam um momento de efervescência, com muita gente botando pra jogo ideias que são a cara do Brasil. A gente está vendo agora produções que foram feitas antes de tudo. Espero que, quando voltarmos a gravar, venham mais roteiros interessantes e cheios de camadas como o de Um dia qualquer”, analisa Mariana, em entrevista ao Correio. Realmente, camada é o que não falta a Penha, personagem muito bem defendida por Mariana na série de estreia de Pedro von Krüger na direção de ficção.
Num intervalo de 10 anos ela passa da exuberante sócia do marido, Seu Chapa (Jefferson Brasil), no tráfico de drogas a uma viúva sóbria e religiosa dedicada aos filhos. “A Penha tem a família muito forte dentro dela. Na primeira fase, ela cuida do ‘negócio’ do marido para sustentar os filhos e, na segunda, cresce ao não saber onde o filho está ou se ele está vivo”, define Mariana, que ouvia funk ー principalmente na Penha mais contida — para que essa força interior da personagem aflorasse.
Um dia qualquer expõe sem medos uma ferida da sociedade brasileira: a guerra de poder entre os traficantes e os milicianos dentro de uma comunidade. Mas o roteiro vai além. “A série fala dessa disputa, mas é sobre afeto também. A Penha é uma mulher como várias outras mulheres pretas que temem pelos seus filhos quando eles saem, que sofrem por não saber o paradeiro deles quando eles ‘somem’”, afirma Mariana.
Os outros personagens também ganham esse ar de humanidade: o público entra na casa do miliciano Quirino (Augusto Madeira) e vê o carinho que ele tem pelo filho mais velho; e acompanha de perto o amor e a dedicação da Penha do passado pelo marido e pelos filhos. A atriz ainda ressalta que Um dia qualquer ultrapassa a visão romantizada que nos acostumamos a ver da vida na favela na ficção.
Últimas cenas
Talvez 3% tenha sido a pioneira entre as séries brasileiras a despontar para o mundo do streaming. A primeira temporada, lançada em 2016, fez sucesso em toda a América Latina, levando a Netflix a confirmar a segunda leva de episódios e, agora, chegar à quarta sequência, disponível desde sexta-feira na plataforma.
No desfecho da saga o público continua a acompanhar o conflito entre a sofrida Concha e o conforto do Maralto, espécie de divisão de classes sociais vivida até as últimas consequências, como numa guerra sempre pronta para estourar num Brasil futurista. Na quarta temporada, o poder no Processo 108 acaba mudando de mãos, numa disputa sangrenta marcada pela falta de ética.
A nova liderança, de André (Bruno Fagundes) se mostra ainda mais agressiva e arma uma armadilha, convidando integrantes da Concha, liderados por Michelle (Bianca Comparato) e Joana (Vaneza Oliveira) para uma visita de paz ao Maralto. Mas o que se vive não tem nada de pacífico e servirá como mote para mais uma tentativa de destruição. Nomes como Zezé Motta, Rodolfo Valente, Laila Garin, Cynthia Senek e Rafael Lozano completam o elenco.
Atualidade
Se o mote de 3% tem os dois pés na ficção científica, os de Mundo mistério estão completamente calcados na realidade, na ciência. A série, lançada há menos de um mês na Netflix, é como se fosse uma expansão do que Felipe Castanhari já fazia no Youtube, no canal Nostalgia. Em 8 episódios de cerca de meia hora, Felipe se debruça sobre temas como inteligência artificial, extinção dos dinossauros e o Triângulo das Bermudas.
A ideia de Mundo mistério passa longe de esgotar os assuntos ー vide o tempo médio do episódio — , mas é a de despertar o interesse a curiosidade sobre eles. É como se fosse uma introdução bem feita, o menos engessada possível, didática, mas não chata.
Na série, Felipe não está sozinho. As explicações dele contam com a ajuda da doutora Thay (Lilian Regina) e de B.R.I.G.G.S. (Guilherme Briggs), espécie de inteligência artificial que dá o mote para os assuntos tratados na série e acaba chamando bastante a atenção. O atrapalhado zelador Betinho (Bruno Miranda) também acaba colaborando. Mundo mistério acaba sendo uma opção para aprender e se divertir ao mesmo tempo. E não se engane: é para todas as idades.