Em entrevista ao Próximo Capítulo, Emmilio Moreira falou sobre a novela e a experiência como Airton, o padrinho da protagonista Maria da Paz
A passagem pelas novelas A regra do jogo e Malhação — Viva a diferença ajudou Emmilio Moreira a integrar o elenco de A dona do pedaço. Foi o produtor de elenco, com quem ele já havia trabalhado nessas duas produções, que o convidou para dar vida a Airton, padrinho da protagonista Maria da Paz (Juliana Paes) e figura importante na fuga da personagem para São Paulo após a matança em Rio Vermelho, cidade fictícia no Espírito Santo.
“Como bom padrinho de cidade do interior do Brasil, tem uma ligação afetiva e paternal com ela. Arrisca sua vida para salvá-la. Ele está presente em momentos importantes da primeira fase da novela, inclusive a fuga de Maria da Paz para São Paulo. Airton e Josiane, a madrinha (Ana Barroso), são quem salvam ou tentam salvar as filhas da família Ramirez, Maria da Paz e Zenaide (Maeve Jinkings)”, lembra o ator.
Para dar vida ao personagem, ele foi com o elenco para o Sul do país, onde a novela teve a primeira fase gravada. “Foi bastante intenso, pois as primeiras semanas foram gravadas nos pampas gaúchos, quase no Uruguai. Eram muitas horas de estrada e isso nos ajudava na composição das personagens. O cansaço e a contemplação das paisagens eram elementos importantes para o estado emocional que precisávamos para as cenas. E tivemos a sorte de ter a própria população dos povoados em que gravamos, fazendo figuração”, revela.
Airton teve destaque na primeira fase da novela. O ator não revelou se o personagem volta. Porém, Emmilio Moreira não para. Ele está aguardando a estreia do filme Um broto legal, que retrata a história da cantora Celly Campello. Ele interpreta o jornalista Reali Júnior, apresentador do programa Crush em Hi Fi. O filme tem previsão de estreia nos cinemas em 2020.
Entrevista / Emmilio Moreira
Como surgiu a oportunidade de integrar o elenco de A dona do pedaço?
Foi uma bela surpresa. Recebi um telefonema do produtor de elenco da novela dizendo que tinha me indicado para o papel, e me perguntando se tinha disponibilidade para gravar no Sul do país, ainda naquela semana. Já tinha trabalhado com o Guilherme, fazendo participações em A regra do jogo e em Malhação – Viva a diferença. É muito bom quando as coisas acontecem assim, rápido, não dá tempo de criar muita expectativa.
Como você se preparou para viver o médico Airton?
Nossa preparadora de elenco, Paloma Riani, que já me conhece de outros trabalhos, nos pediu o tempo todo para observarmos nossos corpos e sentir a conexão com a terra, com o chão, com a aridez das locações. Foi bastante intenso, pois as primeiras semanas foram gravadas nos pampas gaúchos, quase no Uruguai. Eram muitas horas de estrada e isso nos ajudava na composição das personagens. O cansaço e a contemplação das paisagens eram elementos importantes para o estado emocional que precisávamos para as cenas. E tivemos a sorte de ter a própria população dos povoados em que gravamos, fazendo figuração. Nas conversas com eles e no rosto de cada um, podíamos ver nossas personagens da fictícia cidade de Rio Vermelho. No começo da novela a situação é extrema: duas famílias de justiceiros que brigam entre si, em um lugar onde eles são a lei e andam armados. A morte é coisa cotidiana para eles e o Dr. Airton lida com isso a vida toda. Muitas cenas de ação e de tensão exigiam também uma frieza disfarçada.
Seu personagem terá uma ligação especial com a protagonista, Maria da Paz. O que pode contar sobre essa relação?
Airton é o padrinho de Maria da Paz (Juliana Paes). E como bom padrinho de cidade do interior do Brasil, tem uma ligação afetiva e paternal com ela. Arrisca sua vida para salvá-la. Ele está presente em momentos importantes dessa primeira fase da novela, inclusive a fuga de Maria da Paz para São Paulo. Airton e Josiane, a madrinha (Ana Barroso), são quem salvam ou tentam salvar as filhas da família Ramirez, Maria da Paz e Zenaide (Maeve Jinkings). Maria Paz tem verdadeira adoração pelos padrinhos a ponto de prometer que se tiver um filho ou filha levará o nome de um deles. É um homem do interior, sério, mas também afetivo. Foi muito bom resgatar essa posição do padrinho, quase como um segundo pai. Aquele que acompanha e é também responsável pela criação. Lembro que na minha infância no interior do Estado de São Paulo pedíamos a benção aos nossos padrinhos. A relação com Maria da Paz passa por isso também.
A novela A dona do pedaço terá a esperança e a positividade como temas fortes. Para você, qual é a importância do folhetim trazer esse contraponto aos dias de hoje?
Acho fundamental, fundamental. Porque vivemos em um país onde o acesso à Cultura não é prioridade do governo. A poesia, a beleza e a esperança são artigos finos e nem sempre presentes no dia a dia. Sempre penso nisso quando faço um trabalho com essa projeção. Penso nas pessoas que estão nos cantos desse país, que trabalharam o dia todo, ou que estão buscando emprego, enfrentando condições adversas. E que quando chegam em casa têm uma tevê. Para muitos, o único contato do dia com um pouco de poesia e beleza é por meio desta televisão. Falar de esperança hoje é um ato revolucionário, pois a realidade já é dura demais. Sim, Maria da Paz é uma mulher forte e cheia de esperança.
Além de novela, você estará neste ano no filme Um broto legal. O que pode contar sobre a sua experiência nesse filme?
Um broto legal é a história de Celly Campello, uma cantora de muito sucesso na década de 1950/1960 e que resolve deixar a carreira no auge para casar com o amor de sua adolescência. O filme já foi gravado e deve estrear somente em 2020. Foi uma experiência interessante, pois faço o jornalista Reali Júnior. Ele foi o apresentador do programa Crush em Hi Fi, bem no inicio mesmo da tevê brasileira. Adoro essa possibilidade que minha profissão me dá, de voltar no tempo, de vestir uma época. Na década de 1960, ainda não tínhamos perdido a inocência e a cordialidade. Ainda éramos “O país do futuro”.
Além desses, você tem outros projetos em vista?
Em cinema ainda não. E também não sei como vai ficar nossa produção cinematográfica, o que me preocupa muito. Estamos vivendo um momento de grandes incertezas. A Agência Nacional de Cinema (Ancine) ter suspendido os repasses de novas verbas para produção de filmes e séries de tevê, é muito preocupante, pois há uma indústria do áudio visual crescendo em número e qualidade, e que pode ser sufocada. Mas tenho planos para o teatro. Estou comprando os direitos de uma peça inglesa, quero montar ainda este ano aqui em São Paulo. Não posso falar muito, mas é um texto importante para esse momento politico que estamos vivendo.
Como se descobriu ator?
Teve um momento na infância que achei que seria padre, gostava de participar da missa. Depois percebi que eu gostava mesmo era do palco. O teatro entrou primeiro na minha vida, só muito tempo depois veio a televisão e o cinema. Não fui eu que escolhi o teatro, foi o teatro que me escolheu. Veio como salvação, com um porto seguro, que contraditoriamente vive me questionando e me colocando em movimento. Ser ator é viver em uma corda bamba, buscando um equilíbrio que é efêmero sempre. Isso me fascina e me renova. Desde os 16 anos, sabia que esse seria meu caminho de vida, minha religião mesmo. E de lá pra cá venho construindo essas pontes na minha vida, cada trabalho novo é uma ponte para o próximo.