Ator Pedro Alves estreia na Globo como o Guga de Malhação, personagem que apresenta discussões sobre preconceito ao público de Malhação – Toda forma de amar. Confira entrevista com ele!
Preconceito contra homossexuais e contra pobres. Essas são as principais discussões contemporâneas que permeiam Guga, personagem de Pedro Alves em Malhação – Toda forma de amar. A trama de Emanuel Jacobina ainda traz outros temas da atualidade, como inclusão social de surdos, preconceito racial, violência urbana.
“A TV tem que ser um espelho da vida, de questões que nos rodeiam, e a homossexualidade é uma questão da sociedade moderna”, afirma Pedro, em entrevista ao Próximo Capítulo. “Temos vários temas em um personagem só. Guga é de uma família muito rica, de uma condição social diferente do pessoal de Caxias. Mostrar que Guga não tem esse preconceito de transitar nessas camadas sociais, é incentivar famílias a pensarem da mesma forma. É retirar o público de sua bolha social e permitir abertura”, continua o ator.
Pedro é bissexual e falou disso abertamente no início da temporada de Malhação. A ideia não era se exibir, mas, sim, chamar a atenção para o respeito à orientação sexual de cada um. “A mudança que quero pro mundo tem que começar por mim. Não me sentiria bem ao deitar no travesseiro e ignorar o sofrimento de gente que não tem voz quando eu poderia ajudar com a minha. Mas eu não tenho o dever de me posicionar. Cada um tem suas razões válidas para falar ou não. Não opino sobre a vida dos outros”, afirma, enfático.
Isso o aproximou do público, que o procura para desabafar e tirar dúvidas. “Eu costumo tranquilizar sempre, dizendo que precisamos enxergar a luz no futuro e tentar dialogar de forma amorosa para atingir quem ele necessita”, conta.
Na entrevista a seguir, Pedro Alves fala sobre a importância de Guga, produção teatral e o tempo em que morou na Bélgica. Confira!
Leia entrevista com Pedro Alves!
O Guga finge namorar a Rita. Faria isso por alguém?
Eu faria! Talvez eu não deixasse durar como o Guga deixa, mentira por muito tempo sempre acaba mal. Mas faria se fosse por uma boa causa.
Você tem recebido muitos “pedidos de ajuda” por causa das questões levantadas por Guga? O que você costuma responder a esses fãs?
Diariamente recebo pedidos de ajuda, o que me comove muito. Eu costumo tranquilizar sempre, dizendo que precisamos enxergar a luz no futuro e tentar dialogar de forma amorosa para atingir quem ele necessita.
Você sente muita pressão para que vá ao ar um beijo entre o Guga e o Serginho? O que pensa sobre isso?
A pressão é bem grande por parte dos jovens! Eles querem igualdade entre os casais e torcem demais para o beijo “Guginho”. Eu penso que a demora do beijo é uma estratégia do autor e da direção para que não haja estranhamento do público que ainda tem receio em ver um beijo gay. Eles precisam pensar no público em geral e infelizmente nem todos acham isso natural.
Na temporada passada de Malhação, o Michael era homossexual e tinha muito destaque. Mas esta temporada tem um protagonista homossexual, o Guga. Vê isso como um avanço na representatividade na TV aberta?
Claramente! A TV tem que ser um espelho da vida, de questões que nos rodeiam, e a homossexualidade é uma questão da sociedade moderna. Ela precisa ser discutida e normalizada. Tiro o chapéu para o autor, diretor e pra casa que investiram nessa trama.
Qual é a importância de uma novela voltada para o público juvenil abordar o assunto da descoberta da sexualidade?
A adolescência é justamente esse período em que todos estão se entendendo sexualmente. Estão se conhecendo, se percebendo. Trazer a descoberta do Guga é dar voz aos jovens que também estão passando por esses questionamentos e não sabem muito como lidar. Para eles, se verem representados é como um carinho e um reconforto de que não estão sós.
O Guga está se revelando aos poucos para os amigos e familiares. Até para o público demorou a ficar claro que ele é homossexual. Acha que isso é uma estratégia para que ele conquiste o público antes, diminuindo o risco de rejeição?
Exatamente, acho que é sim uma estratégia muito bem construída e digna. Evita esse risco que você menciona, para atingir quem tem seus receios sobre o tema e conseguir acolher essas pessoas para que elas sintam empatia pelo personagem.
Chegou a ter medo de o personagem ser rejeitado pelo público?
Eu não tive esse medo! É um papel como outro e eu não posso me basear em medo da receptividade. Mas ficaria triste caso acontecesse, não por mim, mas por entender que seria uma pena com quem necessita da história.
Além do preconceito por ser homossexual, o Guga sofre preconceito do pai e de alguns amigos de infância por conta da amizade com o pessoal da Baixada. Esse tipo de preconceito social ainda acontece bastante. Acha que a novela pode ajudar no combate?
Sim, temos vários temas em um só. Guga é de uma família muito rica, de uma condição social diferente do pessoal de Caxias. Mostrar que Guga não tem esse preconceito de transitar nessas camadas sociais, é incentivar famílias a pensarem da mesma forma. É retirar o público de sua bolha social e permitir abertura.
O Guga finge namorar a Rita. Faria isso por alguém?
Eu faria! Talvez eu não deixasse durar como o Guga deixa, mentira por muito tempo sempre acaba mal. Mas faria se fosse por uma boa causa.
Recentemente você deu várias entrevistas falando sobre sua bissexualidade. Revelar-se assim é um ato político? Acha que, como artista, você tem o dever de se posicionar?
Eu prefiro falar em ato social, para melhor entendimento do público em geral. Foi um ato natural e social! É necessário começar a normalizar isso. A mudança que quero pro mundo tem que começar por mim, não me sentiria bem ao deitar no travesseiro e ignorar o sofrimento de gente que não tem voz quando eu poderia ajudar com a minha. Mas eu não tenho o dever de me posicionar. Cada um tem suas razões válidas para falar ou não. Não opino sobre a vida dos outros.
Você morou muito tempo na Bélgica, sendo alfabetizado em francês e começou a fazer teatro lá. A cultura é muito mais valorizada na Europa do que aqui. Isso ajudou na sua carreira?
A cultura é extremamente valorizada por lá. Eu morava em uma cidade de 8.000 pessoas e que tinha um teatro muito bem conservado. As mesmas peças que passavam na capital iam para lá. Países evoluídos socialmente e politicamente, sabem que cultura e educação andam juntos. Cultura é ter senso crítico, é sabedoria.
É mais fácil fazer teatro lá do que aqui por causa do incentivo?
Sim, lá o teatro é uma profissão extremamente difícil em sua formação. Fazer faculdade de artes cênicas e conseguir se formar é extremamente complicado por ser muito puxado. Demanda muito estudo e dedicação. Mas consequentemente é mais valorizada e incentivada.
Tem como o Brasil atingir tal nível de incentivo? De que maneira?
Claro! O Brasil é riquíssimo, mas a cultura política não dá valor à arte. Não são intelectuais que reconhecem o valor de um livro, de uma peça, de uma música. Não dão valor porque incentivar a arte é justamente incentivar a inteligência e a crítica. É o medo de a população ter consciência do poder que tem.
Porque você voltou para o Brasil, mesmo tendo carreira lá? Sentiu falta do país?
Eu não fiz carreira profissional lá, somente acadêmica e às vezes era convidado para fazer certas peças. Mas voltei porque o sangue brasileiro me chamou às minhas origens. Às vezes o caminho mais fácil não é o mais recompensador. Queria voltar às origens e agradecê-las.