Ator Antonio Saboia acha que a arte é plena quando une entretenimento e informação, como nas séries O mecanismo e Rotas do ódio. Leia entrevista completa!
O desejo atual do ator Antonio Saboia na tevê é o de viver um vilão, daqueles bem malvados e clássicos. O gostinho ele já deu ao público como o Matias, participação em Tempo de amar.
Enquanto a novela (quem sabe dirigida por José Luiz Villamarim, como o ator deseja?) não vem, Antonio Saboia nos brinda com duas séries pra lá de engajadas: O mecanismo, da Netflix, e Rotas do ódio, do Universal Channel.
“É sempre muito mais interessante quando se consegue aliar entretenimento e esclarecimento na dosagem certa”, reflete Saboia sobre o lado social do ofício dele.
A produção do Universal Channel chama a atenção por, em ano de eleição, expor as mazelas sociais do país.
“Faria campanha para defender ideias como as que defendemos no Rotas do ódio, por exemplo, para alertar sobre o preconceito e a intolerância no Brasil. É importante que as pessoas se conscientizem de que somos a nação que mais mata homossexual no mundo e que a cada 20 minutos morre um negro neste país”, completa.
Saboia é um cidadão do mundo: tem nacionalidades brasileira e francesa e ainda atuou em palcos britânicos. Sobrou até para a gente, do quadradinho. O ator morou duas vezes em Brasília e ainda rodou aqui cenas da minissérie da Globo, Felizes para sempre?.
“Eu cresci em Brasília, morei 4 anos quando criança e mais 2 quando voltei a morar no Brasil. Minhas primeiras lembranças de vida são em Brasília. Tenho um carinho enorme pela cidade e sempre vou visitar amigos e família”, relembra esse quase brasiliense.
Leia entrevista completa com Antonio Saboia!
Você começou a carreira na França, estudou na Inglaterra e agora está no Brasil. É muito diferente atuar nesses países?
O princípio é o mesmo. Claro que quanto mais próximo de sua cultura mais fácil fica. No caso do Brasil e da França, me sinto em casa por conta das raízes familiares. Na Inglaterra, foi mais difícil no início, mas a minha dupla identidade, francesa e brasileira, me assegurou esse lado cidadão universal (risos) e acabei também me sentindo em casa entre os “brits”.
Quais são as particularidades de ser ator no Brasil?
O networking, a tomada de contato com produtores e diretores sempre me pareceu ser mais fluida e rápida do que em outros países. Mas, ainda assim, acho que é mais fácil abordar o meio do cinema ou da televisão no Brasil. O pessoal não é tão hermético quanto lá fora.
Você fez Felizes para sempre?, minissérie que teve cenas rodadas em Brasília. Que lembranças tem da cidade?
Na verdade, eu cresci em Brasília, morei 4 anos quando criança e mais 2 quando voltei a morar no Brasil. Minhas primeiras lembranças de vida são em Brasília. Tenho um carinho enorme pela cidade e sempre vou visitar amigos e família.
Você esteve no filme Lula, o filho do Brasil e na série O mecanismo, da Netflix. A arte também pode ser um instrumento de esclarecimento político?
Pode sim, claro. E é sempre muito mais interessante quando se consegue aliar entretenimento e esclarecimento na dosagem certa.
Como você vê a participação de artistas em campanhas políticas? Já fez ou faria alguma?
Eu não acredito em partidos, acredito em ideias que precisam ser defendidas. Faria campanha para defender ideias como as que defendemos no Rotas do ódio, por exemplo, para alertar sobre o preconceito e a intolerância no Brasil.
Em Rotas do ódio você vive Julio, um chefe de operações da polícia, e gravou várias cenas de violência. Tratar do tema da violência urbana mostrando mais violência não incentiva os agressores?
A série não estiliza ou glamouriza a violência. Ao contrário. Ela denuncia as agressões diárias sofridas pela comunidade LGBT e pelos negros no Brasil. É importante que as pessoas se conscientizem de que somos a nação que mais mata homossexual no mundo e que a cada 20 minutos morre um negro neste país.
O Brasil produz cada vez mais séries, como Rotas do ódio. Como é participar desse novo nicho?
Esse nicho tem se aprimorado muito a cada ano. Os roteiros de séries que li ultimamente não devem nada aos seriados feitos no exterior. Claro, ainda não temos aquelas verbas olímpicas, mas a qualidade das nossas produções aumenta a cada dia, sem dúvida.
Você acaba se destacando mais no cinema e em seriados do que nas novelas. É uma opção sua?
Eu sempre corri muito atrás de cinema e como as pessoas que fazem cinema são as mesmas que fazem séries acabei entrando nesse nicho. Mas adoraria fazer um papel bacana de vilão como o Matias que fiz em Tempo de amar, com direção do Jayme Monjardim. Mas adoraria que, da próxima vez, tivesse um personagem que participasse de uma novela inteira. Quero muito trabalhar com o José Luiz Villamarim por exemplo.
Você estará no filme Bacurau, de Kléber Mendonça Filho. O que pode adiantar sobre esse trabalho?
Como todos os filmes do Kleber, Bacurau é um filme engajado politicamente, de entretenimento claro, mas político. Ainda não podemos falar muito do projeto, mas estou feliz e honrado de fazer parte dele. E, estou certo de que o público vai curtir quando o lançarmos.
Você é um do roteiristas do filme Calvário. Consegue deixar o lado ator de lado quando escreve?
Por ser ator, o que eu defendo muito é a ideia de que o roteiro precisa sempre dar espaço para a improvisação nas falas. Acredito que sem essa liberdade não pode haver naturalidade ou autenticidade no trabalho do ator. O roteiro é um guia, não precisa ser um dogma.