Edição especial de Pega pega traz dilema ético de forma leve, numa comédia ágil e com boas interpretações
Dilemas éticos, triângulo amoroso na terceira idade, roubo milionário, preconceitos racial e de gênero. Os temas poderiam levar a novela Pega pega (2017) sem sustos ao horário das 21h. Mas o tom de leveza adotado pela equipe capitaneada pela autora Cláudia Souto e pelo diretor-geral Luiz Henrique Rios resultou numa ágil trama das 19h. A partir de segunda-feira (17/7), o folhetim está de volta, no que promete ser a última reprise do horário devido à pandemia.
Pega pega começa com o roubo de US$ 40 milhões do hotel Copacabana Palace, que acaba de ser vendido por essa quantia pelo ex-dono Pedrinho William Guimarães (Marcos Caruso). O que poderia representar uma luxuosa aposentadoria ao empresário bon vivant se transforma numa enorme dor de cabeça porque o concierge Malagueta (Marcelo Serrado) bola um plano para roubar o montante. Ele reúne na missão o garçom Júlio (Thiago Martins); o recepcionista Agnaldo (João Baldasserini) e a namorada dele, a camareira Sandra Helena (Nanda Costa). O detalhe é que nenhum deles tem experiência com assaltos e eles entram nessa movidos pelas dificuldades na família.
“Acho que talvez a discussão trazida por Pega pega seja mais importante agora, pois o país está mais antiético e preconceituoso. É tragicamente mais atual. Ao mesmo tempo, é muito bom provocar a reflexão no público novamente”, reflete a autora Cláudia Souto, em entrevista coletiva. “Pega pega fala sobre a escolha ética de cada um. São escolhas diárias, é um assunto para sempre, eterno”, completa o diretor Luiz Henrique Rios.
Uma das marcas de Pega pega, além da leveza, é a humanização dos personagens que tradicionalmente seriam vistos como vilões, como os quatro ladrões, ou mesmo a arrogante Sabine (Irene Ravache), que guarda um segredo sobre a adoção do filho Dom (David Junior).
“A novela é extremamente sedutora. Por isso somos levados a torcer pelos bandidos. Os personagens não são maniqueístas, não têm só o lado bom ou só o lado ruim, é como na vida. Sabine é uma desequilibrada, mas isso não a impede de amar o filho que ela mesma sequestrou”, afirma Irene Ravache. Ela ainda ressalta a importância de a novela apresentar um triângulo amoroso entre pessoas mais velhas, referindo-se a Pedrinho, Sabine e Arlete (Elizabeth Savala).“É um triângulo com pessoas mais velhas que estão com o poder do amor, da libido”, reforça.
Para Thiago Martins, os ladrões humanizados pela história de vida ainda contam com uma ajudinha da realidade fora das telas. “Se comparado ao que vemos hoje, eles são pequenos”, brinca.
Marcos Caruso encerra mostrando que a identificação entre os personagens e o telespectador vai além da humanização dos quatro ladrões. “O Pedrinho representa o povo brasileiro. Fomos roubados em tudo que temos, na nossa dignidade. E ele acha que está tudo bem passar por isso. A lição que fica é que não está! Não está tudo bem termos tido a dignidade roubada. Temos que nos revoltar”. Essa é a tal reflexão de que Cláudia começa falando.