por Pedro Ibarra
A adolescência é um tempo difícil, marcado pelos hormônios à flor da pele, mudanças na vida e, principalmente, pela vontade de caminhar com as próprias pernas. Muitos queriam ter a chance de voltar para esta época para talvez fazer as coisas de forma diferente, mudar o passado. É neste tema da maturidade e a relação com fatos ocorridos no passado que se baseia a série De volta aos 15, adaptação original Netflix do livro homônimo da autora Bruna Vieira. O seriado estreia na próxima sexta-feira (25/2), na plataforma.
Na série, Anita é uma mulher de 30 anos que vive sozinha em São Paulo. Ao voltar para Imperatriz (MA), cidade onde nasceu e cresceu, e visitar o quarto da juventude, ela acaba caindo num vortex temporal que a leva de volta a 2006, ano em que tinha 15 anos e iniciava a trajetória no ensino médio, percebendo tudo que tinha de errado no grupo de pessoas com quem ela andava na adolescência.
As atrizes Maisa e Camila Queiroz dividem a personagem de Anita. A ex-estrela do SBT vive a protagonista do passado, enquanto a artista conhecida por Verdades secretas faz a versão mais velha do papel principal. “A gente queria criar a Anita juntas desde o princípio, então, a Anita tem um pouquinho da Camila e um pouquinho da Maisa”, explica Camila Queiroz. As duas intérpretes fizeram um trabalho conjunto que ficou vivo além do trabalho. “Demos um match, como diria a Maisa. Foi uma conexão muito verdadeira que aconteceu também fora da série”, complementa.
O trabalho conjunto também serviu para que Maisa se adaptasse ao ano de 2006. Nascida em 2002, a atriz era apenas uma criança na época e, na série, precisa interpretar uma adolescente. “Foi uma experiência de me jogar. Aproveitar que a ficção estava permitindo essa imersão e ir com tudo. As minhas referências todas mudaram enquanto eu estava fazendo a série”, afirma Maisa.
Camila lembra também que ajudou no que podia a colega. “Quando eu encontrava a Maisa, tentava passar as minhas emoções e o que lembrava da época. Tentava expor como tudo aquilo me tocava, para que pudesse fazer mais sentido para ela, já que não fazia parte da adolescência dela como da minha”, conta. “Foi um grande privilégio poder viver 2006 em 2021, e rodeada de pessoas tão incríveis, que também estavam vivendo tudo aquilo comigo”, adiciona Maisa.
Mesmo sendo uma série de pegada adolescente, não significa que a produção não toca em temas mais complexos. O seriado traz discussões importantes e atuais, como masculinidade tóxica, questões de gênero e sexualidade, e adapta para uma linguagem acessível ao público jovem que está no início da formação da cabeça e da personalidade. “Eu conversei com os meus colegas de elenco depois de a gente ter assistido aos primeiros episódios, e concordou que tínhamos que ter assistido a essa série com 13, 14 ou 15 anos”, rememora Maisa. “Assim, poderíamos aprender sobre certos temas com leveza, principalmente, sobre questões de gênero e sexualidade.”
“Acho que a ficção tem um jeito bonito de tocar e mudar as pessoas. Se a gente conseguir fazer isso por meio do seriado, que bom. E que isso sirva de exemplo para outras produções colocarem representatividade dessa maneira leve, fluida, fácil, sem clichê e deixando tudo explicadinho de forma natural”, fala Maisa. “Sempre existiu a questão: como colocar isso na tela? Como explicar isso para o jovem? Porque a gente aprendeu muito pela internet e negando o ódio a esses grupos. Porém, a gente está falando sobre isso tudo na série com muito amor, muita delicadeza e de uma forma muito natural”, conclui Camila.
As duas acreditam que, além de uma história divertida, engraçada e cheia de reviravoltas, a série entrega muitas mensagens importantes. “Uma das mensagens que eu mais acredito da série é que você pode chegar aos 30 anos e não necessariamente saber o que você quer fazer da própria vida”, crê Camila. “Acho que o grande aprendizado que fica é a frase que o pai da Anita fala para ela: ‘As pessoas não são coisas que a gente pode consertar'”, aponta Maisa, que também faz um resumo do que entende como moral de De volta aos 15. “Essa é uma mensagem bacana, tanto para quem tem 15 e acha que sabe de tudo quanto para quem tem 30 e acha que sabe de tudo. A gente tem que aceitar que cada um sabe o que é melhor para si e, se não souber, é porque a pessoa tem que aprender com aquele erro”, completa.
Em outro momento
Uma das atrizes estreantes do elenco é Amanda Azevedo. Ela, que interpreta Luiza, irmã mais velha de Anita na fase adolescente, comemora a oportunidade na série. “Foi uma experiência muito incrível, foi demais. Minha personagem é superinteressante, ela tem um arco muito legal, então eu consegui me experimentar em diferentes lugares, diferentes situações emocionais. Aprendi muito”, afirma Amanda, que tem trabalhos no teatro e uma websérie de sucesso no Instagram, intitulada Call com Cleo — a produção já tem duas temporadas e foi indicada ao Rio Webcast, uma das principais premiações do gênero no Brasil e no mundo.
“Foi a minha primeira experiência grande no audiovisual no geral. Eu senti um ambiente muito seguro, desde diretoras e todos os meus colegas de elenco me receberam superbem”, explica Amanda. Ela vê como muito positiva a estreia no ambiente audiovisual. “Foi um lugar muito seguro e bom para eu começar. Todo mundo tava ali para se ajudar, crescer juntos e fazer um negócio lindo”, completa.
A personagem da jovem artista faz o contraponto com a Anita de Maisa. Enquanto a protagonista é livre e sonhadora, a irmã é muito apegada ao status social; enquanto Anita é uma rebelde, Luiza é uma figura exemplar para a pequena cidade de Imperatriz. “Minha personagem é a filha perfeita, a namorada perfeita e a menina perfeita de uma cidade do interior”, conta a atriz, que divide o papel com Mariana Rios, que interpreta a versão adulta. “Porém, tem muito da expectativa alheia nessa perfeição, e a série trabalha muito nesse sentido de delimitar o que é nosso e o que é uma expectativa dos outros sobre nós”, acrescenta
No entanto, ela deixa claro que, apesar de às vezes antagonizar, não é uma vilã, é uma personagem com qualidades e defeitos e, principalmente, a irmã mais velha da protagonista. “Minha expectativa é que gostem da Luiza e se identifiquem”, comenta. “Espero que o público a receba muito bem para que tenhamos segunda temporada e continuemos contando essa história, de forma mais madura, porque a gente saiu muito diferente desse processo todo.”
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