Destaque de Pantanal, Isabel Teixeira fala sobre a nova fase da carreira

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Chegando à reta final da novela, Isabel Teixeira comenta o sucesso da personagem Maria Bruaca em Pantanal

Por Pedro Ibarra

Um dos assuntos mais comentados do ano de 2022 foi o remake da novela Pantanal. A produção, que ficou conhecida na TV Manchete em 1990, ganhou uma nova roupagem na Globo. Se a novela foi um dos assuntos do ano, um dos assuntos do folhetim foi Maria Bruaca, personagem de Isabel Teixeira. A atriz, no primeiro papel teledramatúrgico de relevância, foi destaque absoluto com cenas memoráveis e um novo apelo à personagem.

Maria Bruaca é uma mulher submissa ao marido, o fazendeiro Tenório (Murilo Benício), e, por isso, sofre diversos abusos, morais, patrimoniais e físicos. Ela é infeliz e foge, vai para a chalana e, posteriormente, se aloja na casa de Zé Leôncio (Marcos Palmeira). Nesse processo de buscar liberdade, a personagem encontra Alcides (Juliano Cazarré), um homem que realmente a ama, a respeita e a trata como ela verdadeiramente deseja.

A figura foi considerada um ponto alto em uma novela toda muito elogiada. A atuação de Isabel Teixeira deu uma emoção a mais para a personagem, que na versão de 1990 já era lembrada, mas, em 2022, ganhou um caráter mais denso e dramático. A Maria Bruaca é um show à parte no belo conjunto que é Pantanal.

Isabel Teixeira atribui esse sucesso a uma somatória do trabalho que fez com os novos tempos e um público mais antenado. “Nós estamos, enquanto sociedade, em um momento em que a gente tá, sim, nomeando, apontando e dizendo chega pra algumas coisas”, afirma a atriz em entrevista à Revista. Para ela, os 30 anos entre uma versão e outra da novela foram um período necessário para mudar a mentalidade do público. “Eu não acredito muito que mudança de paradigma, de pensamento, a mudança cultural mais profunda, aconteça da noite para o dia, não acredito. Eu acho que ela vem acontecendo, essa é uma grande mudança”, adiciona.

A personagem passa por alguns dos momentos mais duros da novela. Maria Bruaca realmente sofre e tem uma trajetória dolorosa. “Ela normatizou coisas que são consideradas abuso e que não podem acontecer, ela precisava romper com isso, precisava sair”, afirma a artista, que cita o papel de conscientização da trama. A obra mostrou para o público que o abuso está em ações mais graves, mas também pode ser presenciada nas minúcias, justamente, por meio do triângulo formado por Maria, Tenório e Alcides.

A atriz traça um comparativo claro com a forma como Bruaca era vista em 1990 e em 2022. O público lembrava da personagem como um alívio cômico. “Ela é uma mulher que se vê em uma situação de abuso, porque a situação em que ela vivia com Tenório estava estagnada. Essa relação abusiva incomodou muito as pessoas, sendo que 30 anos atrás não haviam se incomodado tanto. Como se, há 30 anos, o absurdo da situação que ela vivia fosse um pouco mais aceitável do que hoje”, analisa a artista.

Apesar de serem duas versões muito diferentes da Maria Bruaca, Isabel acredita que o trabalho dela foi dar continuidade ao de Ângela Leal, responsável pela personagem em 1990. “Eu considero que Ângela é uma autora dessa personagem”, diz a atriz. “Eu tenho a sorte de ter dado continuidade a um trabalho que ela começou, eu me sinto muito honrada por isso. O meu sucesso se deve à forma como essa história conseguiu ser revitalizada e pôde conversar com o novo público.”

A arte de sonhar

Nascida em uma casa de arte, filha do cantor e compositor Renato Teixeira, a atriz fez aulas de dança e mergulhou no teatro, onde faz carreira até hoje. “Eu nasci em um lar de arte. A minha criação me levou a ser a artista que eu sou, porque minha mãe proporcionou um campo de liberdade, de transparência e de festa dentro de casa, que fez com que isso fosse alimentado”, explica a atriz. “A arte é a manifestação do sonho, e ela me instrumentalizou para isso que estou vivendo”, acrescenta.

Ao pai ela atribui a relação com a palavra. Isabel, além de atriz, escreve e tem na sala de casa, que ela chama de ateliê, um pequeno espaço em que edita os próprios livros. “A minha relação com meu pai, que é poeta, sempre foi a palavra dele no meu ouvido. Eu acho isso muito bonito”, fala. “Eu faço teatro por causa da palavra, eu honro a palavra da teledramaturgia e eu gosto dos livros.”

Nessa busca pela palavra, ela agora corre atrás de mais, e pensa o futuro como um grande processo desconhecido que quer viver. “Eu sou do instante”, clama. “Esse instante eu quero aproveitar cada dia, cada segundo, cada minuto em que eu esteja aqui nesta vida, porque eu adoro viver”, adiciona a artista, que conta que tem vontade de voltar a fazer novela, desta vez em uma obra aberta.

Ela afirma que para sempre Pantanal estará no coração e que vai sentir saudades dos momentos que viveu nos sets montados no bioma e, principalmente, do público. “Eu vou sentir saudade desse acolhimento do público, todo dia, quando a novela está passando. Eu adoro isso”, conta. O momento muda, mas a arte permanece e, assim como Ângela Leal, Isabel Teixeira está eternizada como Maria Bruaca na história da televisão brasileira. “Ela ficou. Ela vai ficar. Ela está aí. Ela vai estar aí sempre e eu vou dar um passo no desconhecido agora”, conclui.

Pedro Ibarra

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