Delegada na Netflix, Ester Dias celebra sucesso de série

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Aliada da protagonista em Bom dia, Verônica, atriz de 39 anos fala da importância de se denunciar as violências contra a mulher

Patrick Selvatti

Produção de sucesso mundial na Netflix, a série Bom dia, Verônica teve seu desfecho na terceira temporada, que chegou em fevereiro à plataforma de streaming. Nessa última leva de episódios, a atriz Ester Dias, 39 anos, marca presença novamente, como a delegada Glória, a policial que ajuda a protagonista (vivida pela premiada Tainá Muller) a investigar os mafiosos que a perseguem. “Acho que a gente já passou da hora de normalizar pessoas negras em espaços de poder e liderança. Ter uma chefe de polícia preta na ficção traz para outras pessoas (principalmente mulheres) pretas a possibilidade de se verem representadas”, defende.

Na série, as violências contra as mulheres permeiam as ações policiais e Ester contou ao Próximo capítulo como enxerga esse cenário ainda tão covardemente machista da sociedade em pleno 2024. “Falar sobre a violência contra a mulher no Brasil é perceber um sintoma de uma sociedade patriarcal e machista e, enquanto seguirmos normalizando essas violências, esse cenário não vai mudar”, afirmou.

Ester ressalta que, ainda hoje, as mulheres chegam às delegacias para denunciar seus opressores e são questionadas sobre o que estavam vestindo. “Ao invés de serem acolhidas, elas são hostilizadas e culpabilizadas. Vivemos numa sociedade que segue reforçando a cultura do estupro, ter uma série como Bom dia, Verônica, que joga uma luz sobre esse assunto é trazer a pauta para ser discutida em sociedade e acho que esse é o maior legado da série”, concluiu a atriz.

Cria do Nós do Morro, a atriz também esteve nas séries Carcereiros e Sob pressão (Globoplay) e no remake de Pantanal, em que interpretou a mãe de Muda (Bella Campos). Ester, em breve, poderá ser vista em dois longas-metragens: Mãe fora da caixa, com Miá Mello, e Tudo por um popstar 2, em que faz a mãe de uma das protagonistas, interpretada por Gabriella Saraivah.

ENTREVISTA | Ester Dias

Como se preparou para dar vida a uma delegada de polícia?

Eu sou uma atriz muito intuitiva, antes de pensar na profissão de qualquer personagem eu gosto de pensar quem é essa personagem ,seus valores, suas características, sua história de vida , eu e a Ana Kfouri que preparou o elenco da 2a temporada ,conversamos muito sobre esses detalhes ,sobre quem era a Glória, qual era a energia dessa personagem , que precisa se impor dentro de um ambiente majoritariamente masculino, que precisa ser vista como líder.
Tivemos também a experiência de visitar uma delegacia , conhecer mais sobre a polícia civil, experimentar a parte técnica e tática ,de como segurar uma arma , como se proteger ao entrar num ambiente possivelmente hostil , foi muito interessante ver o trabalho da polícia mais de perto.

Bom dia, Verônica tem as violências contra as mulheres permeando as ações policiais. Como enxerga esse cenário ainda tão covardemente machista da sociedade em pleno 2024?

Falar sobre a violência contra a mulher no Brasil é perceber um sintoma de uma sociedade patriarcal e machista e enquanto seguirmos normalizando essas violências, esse cenário não vai mudar.
Mulheres chegam às delegacias para denunciar seus opressores e são questionadas sobre o que estavam vestindo. Ao invés de serem acolhidas, elas são hostilizadas e culpabilizadas. Vivemos numa sociedade que segue reforçando a cultura do estupro, ter uma série como Bom dia, Verônica que joga uma luz sobre esse assunto é trazer a pauta pra ser discutida em sociedade e acho que esse é o maior legado da série.

Onde o feminismo se manifesta na sua vida pessoal?

Se entender feminista é acima de tudo um trabalho diário de questionar se as nossas escolhas são realmente nossas ou são reações automáticas de uma cultura que ensinou que as mulheres devem se portar de tal maneira e ocupar tais espaços, espaços esses que são diferentes quando a gente olha a partir de uma perspectiva que leve em consideração raça e classe social. É importante que a gente perceba que os papéis de gênero são construções sociais , nenhuma mulher nasce com a habilidade compulsória de ser uma boa dona de casa ou ser mãe, muitas são por que assim aprenderam durante toda a vida e sequer sabiam que tinham opções diferentes. O feminismo se manifesta diariamente em lugares que as vezes nem me dou conta  , na maneira como convivo  entre mulheres, valorizando, respeitando e rebatendo a ideia machista de que mulheres competem entre si, na maneira como não aceito comportamentos que me coloquem a cargo da responsabilidade do cuidado da família e da casa ,e de que o homem deve nos ajudar nas tarefas, homem não ajuda , homem participa das responsabilidades tanto quanto a mulher.

Uma chefe de polícia que, além de uma mulher bonita e empoderada, é preta. Qual a importância, para você, de se retratar essa realidade onde o povo preto ocupa esse lado também, e não apenas o do bandido ou periférico?

Acho que a gente já passou da hora de normalizar pessoas negras em espaços de poder e liderança, ter uma chefe de polícia preta na ficção traz pra outras pessoas (principalmente mulheres) pretas a possibilidade de se verem representadas e a perspectiva de que ela podem se enxergar ocupando aquele espaço , que elas têm o direito de pertencer à espaços que nos foram negados decorrentes de um sistema opressor que sempre colocou em locais de subserviência, porém, mais do que sermos retratados em espaços socialmente e economicamente mais valorizados, o que muitos de nós atores pretos almejamos é interpretar personagens com boas histórias. Acho ainda mais grave do que pessoas pretas estarem geralmente representando papéis periféricos  é perceber o quanto nós atores pretos temos menos chance de ocupar papéis de protagonismo, papéis que demonstrem a complexidade humana em nossas contradições. Eu não vejo problema algum em interpretar uma personagem de origem humilde, periférica, desde que fosse uma personagem que tivesse história, com seus desejos e contradições, com aquilo que nos torna humanos .

Patrick Selvatti

Sabe noveleiro de carteirinha? A paixão começou ainda na infância, quando chorou na morte de Tancredo Neves porque a cobertura comeu um capítulo de A gata comeu. Fã de Gilberto Braga, ama Quatro por quatro e assiste até as que não gosta, só para comentar.

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