A proximidade com o assunto foi o que levou a atriz Darília Oliveira à novela Órfãos da Terra. Antes de integrar o elenco, a artista idealizou, ao lado de Yasmin Garcez (que também está no elenco do folhetim), uma peça que tinha a guerra na Síria como temática. “Nós estávamos muito envolvidas com o assunto e, como eu já havia trabalhado em Os dias eram assim e Velho Chico com o diretor da novela, Gustavo Fernandez, fiz o convite para que ele assistisse à peça”, conta ao Próximo Capítulo. Deu certo e Darília abocanhou o papel de Áida, uma das esposas do sheik Aziz (Herson Capri).
Para interpretar a personagem, a atriz fez um grande trabalho de imersão cultural. “Tivemos aula de dança, prosódia, cultura, história, economia local, e também tivemos muito contato com sírios e libaneses, o que, para mim, foi a parte mais interessante do processo de preparação. Foi fundamental ouvir as narrativas dos sírios e libaneses, em situação de refúgio ou não. O convívio e a troca de experiências me ajudou a tirar o véu dos estereótipos e dos preconceitos”, revela.
Sobre a personalidade e característica de Áida, que chamou atenção na novela ao denunciar quando Soraia (Letícia Sabatella) — outra esposa do sheik — fugiu com Hussein (Bruno Cabrerizo), ela diz: “Vejo a Áida como uma mulher que se desdobra para cuidar da casa e da filha, e que, apesar do convívio com as outras esposas, se sente excluída. Com desejos ambiciosos, Áida aproveita o aparecimento de um conflito para conseguir galgar um espaço dentro da estrutura familiar”.
Você percebe similaridades com Áida?
A Áida se comporta de maneira diferente da minha, porém sempre que estou compondo uma personagem tento buscar pontos de aproximação entre as minhas experiências de vida e a história que vou retratar.
A novela debate temas importantes. Para você, qual é a importância do entretenimento trazer discussões atuais e distintas?
As novelas costumam ditar moda e influenciar comportamentos. Por estarem inseridas no cotidiano de muitas famílias, são consideradas importantes instrumentos de informação e de formação de opinião. Por isso, os temas abordados pelas telenovelas precisam ser tratados com muito cuidado e respeito à cultura e aos contextos retratados, para que os mesmos não sejam negligenciados. Ao meu ver, para atingirmos maior qualidade em nossos produtos audiovisuais, é fundamental que exista diversidade nas escolhas dos assuntos. Torço muito para que nossas produções sejam mais democráticas e dialoguem com a pluralidade da nossa cultura.
Essa é uma preocupação sua?
Normalmente, quando estou realizando um trabalho, sempre me preocupo com as questões sociais relacionadas a eles. Por acreditar que Órfãos da Terra tem potencial para gerar grande impacto de conscientização e desmitificação na comunidade telespectadora, me debrucei intensamente sobre pesquisas que envolviam refugiados, islã e mulheres muçulmanas. Como disse anteriormente, troquei muita informação com pessoas nascidas na Síria e no Líbano, busquei referência no cinema e nas artes plásticas e li muitos livros e artigos que falavam a este respeito, buscando construir uma perspectiva mais realista sobre o Oriente Médio. A partir das minhas leituras e pesquisas, fiz muitas análises críticas que me ajudaram a construir a personagem Áida. A todo momento me preocupei em não ser negligente com os temas que a novela está abordando. Órfãos da Terra vai dar visibilidade a uma cultura que é constantemente injustiçada e subjugada e, como atriz, me vejo na obrigação de orientar o público a enxergar o mundo árabe a partir de uma outra perspectiva. Afinal, os árabes são um povo riquíssimo em cultura e história, e, parte dela, veio imigrada para a América do Sul, e ajudou a formar nosso país.
A sua personagem é mais uma das esposas de Aziz e se sentirá um pouco excluída dentro da casa. Esse núcleo irá debater o machismo? Se sim, como?
Dentro da casa não acontecerá um debate aberto por conta da repressão sofrida pelas mulheres, porém a novela irá colocar muitos pontos de questionamento sobre o machismo. A dramaturgia e a direção estão abordando de forma muito inteligente e sensível a realidade opressora das esposas do Aziz.
Como você se descobriu atriz?
Antes de iniciar esta carreira, eu fazia faculdade de Belas Artes na UFRJ e trabalhava como cenógrafa em algumas peças de teatro da universidade. Durante os processos criativos, eu assistia a quase todos os ensaios com os atores e a direção. Foi observando os atores em atividade criativa que eu comecei a me interessar pelo ofício. Tomei a iniciativa de procurar um curso livre de interpretação para poder me exercitar, e acabei conseguindo uma bolsa em uma das melhores faculdades de teatro do Rio de Janeiro, do momento. Mergulhei de cabeça nos estudos e, quando me senti preparada, comecei a me dedicar à criação de cenas para festivais de teatro. Foi a partir do trabalho autoral e da parceria com amigos do teatro que começaram a surgir as oportunidades no mercado profissional teatral e na televisão.
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