The midnight gospel traz humor e reflexão para você não pirar na quarentena

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Animação da Netflix The midnight gospel diverte e pode acalmar seu coração nesse período de isolamento social. Leia crítica!

A animação The midnight gospel é daqueles desenhos que provam que o gênero já não é mais só para as crianças faz tempo. A série em 8 episódios está no catálogo da Netflix e, nos moldes de Big mouth (leia aqui a crítica), South park e Super drags (leia crítica), traz temas que não fazem parte do universo infantil de maneira escrachada e divertida, sob medida para os adultos. Tanto que The midnight gospel não é recomendada para menores de 18 anos, segundo a classificação indicativa que aparece no serviço de streaming.

The midnight gospel chega ao Brasil num momento em que as pessoas estão abertas a escutar sobre os temas tratados no espaço cast (espécie de podcast espacial) comandado pelo protagonista Chancy. Por meio de uma espécie de simulador de galáxias, o rapaz viaja por planetas diferentes em busca de entrevistas para o programa. Assim, ele passa por uma invasão zumbi, por um planeta de palhaços, pela época medieval e outros cenários.

As entrevistas que Chancy faz são baseadas no podcast de Duncan Trussel, criador da série ao lado de Pendleton Ward. A temática é a nossa existência ー Chancy passa por questões inerentes ao nascimento, à morte e ao renascimento nas conversas. Meditação, hinduísmo, budismo, solidão, perdão e como lidar com a morte são assuntos recorrentes.

Os episódios 4 (Ordenando um corvo), 5 (Rei das colheres) e 8 (Como eu nasci) se destacam dos demais por apostar um pouco mais forte no lirismo ao falar de amor próprio e ao próximo, autoconhecimento e renascimento, respectivamente. Quase no fim de cada episódio há uma música que cumpre o papel de resumir o que foi dito ali. É como um Mestre dos Magos de Caverna do dragão.

No sétimo episódio, Papo com a morte, como o próprio nome sugere, a morte é a entrevistada. “Esteja presente nos pequenos momentos marcantes” é um dos conselhos que Chancy ouve ao se dar conta de que não aproveitava bem as oportunidades de ser feliz no dia a dia. A morte também vai trazer um interessante viés sobre a indústria que se criou em volta das cerimônias de despedida, muitas vezes deixando de lado o próprio sentimento.

Chancy entrevista a morte em um dos episódios de The midnight gospel

The midnight gospel poderia ser uma série pesada, com reflexões saídas de um livro de autoajuda, e daquelas a que a gente assiste com um lenço em mãos para enxugar as lágrimas. Mas não. Desde o excessivo colorido dos traços à velocidade verborrágica dos diálogos recheados de palavrões passando pela curta duração dos episódios (só um passa dos 30 minutos) e por um sem fim de violência — tudo parece contribuir para a falta de profundidade do que poderia ser muito profundo. É tocante, mas merecia menos barulho, mais silêncios. Como a vida, às vezes, nos pede.

A impressão é que ali está uma primeira lição da escola e que o aluno ー no caso o público ー pode avançar na matéria indo atrás das pílulas lançadas durante a série. Não deixa de ser um bom motivo para nos aprofundarmos (em outra série ou em livros) em questões que nos gritam nos dias de hoje.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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