Crítica: Tá no ar volta com menos foco na TV, mas continua bom

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Programa de Marcelo Adnet, Tá no ar continua sendo o que há de mais espirituoso na TV aberta. Confira crítica da atração que volta nesta terça-feira (23/1).

Começa nesta terça-feira (23/1) a quinta temporada do Tá no ar: A TV na TV, que será exibida às terças, após o BBB. O primeiro episódio foi disponibilizado antes para assinantes da Globo Play, estratégia que a Globo vem utilizando acertadamente com frequência. O Próximo Capítulo assistiu à estreia e te conta como foi, o que mudou e o que continuou na série que este ano concorreu ao Emmy Internacional de melhor comédia.

A tônica do Tá no ar continua a mesma: fazer graça, com piadas inteligentes e longe do estilo pastelão, de assuntos mais sérios, sem poupar quase ninguém. A primeira diferença deste ano é que o principal foco não é a televisão. Pelo menos não na estreia. A crítica à televisão e as paródias de programas da Globo e de outras emissoras estão lá, mas não são mais o que há de mais contundente.

Marcelo Adnet, Marcius Melhem e companhia (aliás, a companhia ganha a presença de Eduardo Sterblitch e ainda não foi desta vez que a Globo acertou com o rapaz) investem em temas sociais que estão em voga, especialmente a representatividade, seja de negros, seja de mulheres, seja de homossexuais. As bandeiras estão todas em punho, mas de maneira divertida, claro! É até bom para mostrar a alguns militantes xiitas (sim… eles existem) que dá para levar leveza ao tema.

Isso acontece quando, por exemplo, as campanhas de doação são satirizadas no clipe Quando isso vai parar?, que chega a emocionar de verdade. Caiu um cisco no meu olho quando eu assisti. Ou quando tio Sukita (lembra dele?) vira uma propaganda contra a objetificação da mulher.

Outro assunto que aparece bastante na estreia e, como 2018 é ano de eleição, deve continuar pela temporada inteira é política. Os candidatos fictícios Tia Jacira, Pizzaiolo Cleber e Vidente Carminha (“não vote em mim porque eu vi que não vou ganhar”) poderiam muito bem estar na propaganda eleitoral de setembro. Infelizmente. Assim, como o slogan “Brasil: um país para poucos” exibido depois de um quadro.

A rapidez das piadas apresentadas no ‘zapping’ pode atrapalhar o entendimento

Mas claro que ainda há quadros sobre televisão no humorístico. Desses, o melhor momento é o sensacional Walking back: Ressuscitando ideias que estavam enterradas. Os zumbis morrem de medo ao se deparar com um cenário aterrorizante em que têm que enfrentar misóginos de um lado, religiosos de outro e facebookianos pela frente. “Cuidado, o discurso é contagioso”. Alerta mais do que oportuno.

Entre um e outro quadro há ainda o “zapping” que o programa faz desde a primeira temporada. Desta vez, com uma novidade: além da barra que existia no passado, algumas vezes vem um mosaico de canais alusivo à Netflix. Essas esquetes bem rápidas têm um problema: podem fazer com que piadas inspiradas passem despercebidas, o que é uma pena. É o caso da notícia de que Putin será coreógrafo da Nenê de Vila Matilde e de um estudo da Nasa que comprova que a autoestima de Susana Vieira pode ser vista da lua.

O elenco é um ponto forte de Tá no ar, com exceção de um mal aproveitado Eduardo Sterblitch. Marcelo Adnet é engraçado, mas quem rouba mesmo a cena é Marcius Melhem (Leia entrevista com o ator). Ele passa de um tipo para outro com competência extrema e aproveita cada segundo no ar. O programa de estreia foi todo dele. Dele e da Fátima Bernardes. Inexplicavelmente, o programa dela serviu como uma espécie de fio condutor de vários quadros. Será que Fátima está precisando de audiência? Outras participações especiais, como Cid Moreira anunciando o sabonete íntimo Dermacid Moreira e Mateus Solano estrelando Família Solano funcionaram.

Oba! Eles voltaram. Veja o que continua agradando em Tá no ar.

O revoltado contra a Globo


Mesmo que com poucas entradas, meu personagem preferido de Tá no ar está de volta. O nordestino que faz (auto?) crítica à Globo está afiado quando reclama da falta de representatividade de atores nordestinos em papéis de nordestinos nas novelas, crítica que reverbera eco de uma carta aberta enviada por atores à emissora no fim de 2017. “Seus folhetins são golpistas, Rede Globo. É isso mesmo?”. Ponto para o Tá no ar!

Os Karlakians
O reality show sobre a família ganha mais uma temporada. Confesso que, para mim, está longe de ser o ponto alto do programa. Mas serve para Adnet ter o melhor momento dele na estreia.

O povo fala no final
No subir dos créditos, a gente já fica esperando: lá vêm as “entrevistas” com o pessoal na rua. Tudo de mentirinha, claro. Em uma delas uma “atriz” reclama que os atores da Globo se acham melhores do que os da Record. Climão!

As paródias

Elas estão de volta para fechar o episódio com gostinho de quero mais. Como não poderia deixar de ser, a da estreia é sobre um tema que está em voga: a bissexualidade. Aqui, sim, Eduardo Sterblich ganha espaço e solta a voz numa letra inspirada e com refrão-chiclete.

Cadê o Jardim Urgente?
Pois é… Cadê, Rede Globo? Senti falta. Tomara que seja só um episódio de férias, pois o apresentador aparece fazendo propaganda da própria companhia aérea, Bevilacqua linhas aéreas. Não chega nem perto do quadro. Pena.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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