Logo na primeira cena, o telespectador de Sob pressão já sabe o ritmo da produção que estreia nesta terça (25/7), na Globo, depois da novela A força do querer. No meio de mais um dia corrido e difícil, o cirurgião-chefe Evandro (Julio Andrade) vê a esposa Madalena (Natália Lage) chegar em estado de choque a um hospital público no morro do Rio de Janeiro após um grave acidente de carro. Sem ter como salvar o grande amor da vida dele — o hospital não tem recursos, os leitos estão lotados e médicos não foram trabalhar –, Evandro vê a esposa morrer e se culpa por isso. Tudo isso nos é passado de uma só vez, em poucos minutos do seriado. Chega a faltar ar.
Sob pressão não é sobre as sequelas que Madalena poderia ter caso sobrevivesse ou sobre as doenças enfrentadas pelos pacientes de Evandro, Carolina (Marjorie Estiano), Amir (Orã Figueiredo), Décio (Bruno Garcia) e Charles (Pablo Sanábio). É mais sobre as mazelas que fazem com que a saúde pública brasileira esteja à beira de um caos — não é uma exclusividade de morros cariocas.
Aqui, o maior problema de saúde pública não está ligado aos batidões frenéticos e rebolados nos shorts minúsculos e bermudas folgadas do funk, como sugere projeto de lei que será apreciado por nossos deputados fora da ficção. Estamos diante de problemas reais e muito mais graves. No hospital de Sob pressão faltam médicos e sobram pacientes e questões a serem resolvidas. É a realidade brazuca chegando ao seriado ER.
Evandro segura o rojão se drogando com medicamentos, mas faz de tudo pelos pacientes: compra remédio para um com o dinheiro vindo do suborno de outro, que quer ser transferido para uma ala melhor — como se houvesse alguma ala boa por ali. O diretor Samuel (Stepan Nercessian) doa sangue para um paciente porque o banco do hospital está vazio. Evandro drena o ferimento de uma paciente com um pedaço da mangueira do jardim. Carol usa a lanterna do celular de Amir para enxergar durante um procedimento. A equipe é surpreendida pela falta de luz no meio de uma cirurgia.
No primeiro episódio de Sob pressão – que, aliás, tem quase uma hora de duração sem contar as propagandas, produção mais longa do que se costuma ver na faixa –, o público vai acompanhar três histórias, além da morte de Madalena.
A ação do seriado dá um salto de um ano no tempo e uma mulher grávida de sete meses também acidentada chega ao hospital. A equipe de Evandro tem que salvar mãe e bebê. Ao mesmo tempo, o sambista Antenor (Monarco) luta contra um câncer no estômago e tenta convencer os médicos a dar a ele uma dose de cachaça antes da cirurgia. Na outra trama, um menino engole cocaína disfarçada de bala dada por engano pelo irmão, traficante.
Os médicos também têm seus dramas particulares: Evandro é viciado em remédios e ainda não lida bem com a morte de Madalena. Carolina é apaixonada por Evandro. Samuel parece ter uma rixa com o governo. Outras tramas paralelas devem aparecer.
A direção ágil de Andrucha Waddington e as atuações de todo o elenco, especialmente de Julio Andrade, Marjorie Estiano e Orã Figueiredo (o anestesista dele é impagável e garante um respiro cômico à trama) garantem a qualidade de Sob pressão. Também é muito bom ver a volta de Ângela Leal à Globo como a simpática Noêmia.
Mas se você tem problemas com sangue, esqueça o seriado. Não são poucos os closes em procedimentos como agulhadas ou pontos — alguns, desnecessários. Também pode dificultar o excesso de termos como entubamento, chocado (para quem está em estado de choque), drenagem e uma série de nomes complicados de medicamentos, sempre em falta.
Por fim, Sob pressão chega para ocupar uma faixa que há algum tempo vem sendo destinada ao humor. Pode gerar estranhamento, mas tem tudo para conquistar o público. A mim, conquistou!
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