Lançado no cinema no ano passado, O Doutrinador, de Gustavo Bonafé, ganhou uma versão televisiva que estreou em 1º de setembro no Canal Space, com sete episódios. A produção é inspirada na HQ homônima, de Luciano Cunha, e retrata a vida de Miguel Montessanti (Kiko Pissolato), agente da Divisão Armada Especial (DAE) que assume a alcunha de vigilante noturno após uma tragédia familiar. A versão que chega na telinha é praticamente a mesma, com alguns conteúdos e personagens extras que prometem expandir o universo.
Para contar a história do anti-herói, O Doutrinador primeiramente introduz seu protagonista. Na tela, o espectador é levado à vida de Miguel antes de se tornar o vigilante. Agente da DAE, ele está à frente da investigação da Operação Linfoma, que prendeu o governador Sandro Correa por corrupção e desvio de dinheiro da saúde pública. No meio da operação, Sandro acaba sendo solto, voltando ao governo e Miguel é acometido por uma tragédia, que muda a percepção de vida dele.
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É a partir desse momento que a série mostra suas fragilidades. A forma como a produção trata a morte da filha de Miguel é quase que um recurso conveniente. Enquanto caminhava ao lado do pai para assistir a um jogo da Seleção Brasileira, a menina é atingida por uma bala perdida, em uma cena em que não há nenhuma confusão e sequer motivo — ao menos aparente — para esse tiro.
Precisando de atendimento público, a menina morre nos braços do pai dentro do hospital. Diante desse sentimento de luto e de raiva, Miguel segue para um protesto contra Sandro Correa. E é lá que assume o papel do vigilante — após uma máscara, mais uma vez, convenientemente cair do lado do personagem. Brigando com os policiais que fazem a guarda da prefeitura, ele segue para matar Correa na “porrada”. Isso o torna conhecido como O Doutrinador. A partir daí, ele começa um cerco contra políticos corruptos, em uma sequência alucinante de mortes.
Essas duas fragilidades em pontos-chaves são os principais defeitos de O Doutrinador — A série. Mesmo assim, se essas partes foram relevadas, a produção pode conquistar o público. A história é, claro, chama atenção do espectador brasileiro, principalmente, se for levado em consideração o fato de que o herói escolhe como vítimas os políticos corruptos. No entanto, esse anti-heroísmo de escolher matar também pode ser visto como algo que afasta.
Esse dilema não é novo no universo de heróis. Tanto em O Justiceiro, da Netflix, como nas primeiras temporadas de Arrow, da Warner Channel, essas eram questões dos protagonistas. A inovação de O Doutrinador fica no fato de não adotar o já batido “caso das semana” em produções seriadas de heróis.
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