Nova produção da Netflix, Ninguém tá olhando estreia na sexta-feira (22/11). Confira crítica da primeira temporada sem spoilers!
A comédia brasileira vive um ótimo momento, com produções que transitam por diferentes lados do humor, apostando em piadas inteligentes e aprofundadas e ainda do conceito bastante popular da dramédia. Esse é o caso de Ninguém tá olhando, que estreia na sexta-feira (22/11) na Netflix, mais uma trama seriada brasileira de humor da plataforma que funciona — Samantha! também foi muito bem.
Criada e dirigida por Daniel Rezende, que se destacou no filme candidato brasileiro a uma vaga no Oscar Bingo: O rei das manhãs em anos anteriores, a série apresenta todo um novo universo, em que a Terra é protegida por angelus, espécie de anjos da guarda que, diariamente, recebem ordens de quem vão proteger naquele dia. Tudo isso de uma forma bastante burocrática, ao modo de uma antiga repartição.
Só que esse sistema entra em colapso quando um novo angelus surge no 5511° Distrito: o contestador Uli (Victor Lamoglia). Diferentemente dos outros colegas, ele não se conforma em apenas seguir as regras. Ele quer entender o processo, e ter o direito de escolher a quem vai ajudar. Incapaz de seguir as ordens arbitrárias do chefe, o inspetor nada contestador Fred (Augusto Madeira), Uli começa a tomar decisões próprias que o levam a conhecer Miriam (Kéfera Buchmann), uma humana feminista que também busca superar padrões. Essa relação entre os dois levanta o debate sobre o papel de cada um no mundo, ao mesmo tempo em que cria um caos no mundo do angelus.
Crítica de Ninguém tá olhando
À primeira vista, Ninguém tá olhando parece uma trama difícil. Mas essa complicação fica apenas na premissa. Na tela, é fácil entender todo o contexto, que é muito bem destrinchado no primeiro episódio, quando o público é apresentado a Uli e a todo o sistema angelus, que conta ainda com a mal-humorada Greta (Júlia Rabello), o tímido Chun (Danilo de Moura) e a carismática Wanda (Telma Souza), braço direito de Fred.
Esse universo proposto por Daniel Rezende é muito interessante. O cineasta mergulhou em um dos piores conceitos brasileiros — a burocracia — para fazer piada. E isso funciona muito bem por ser relacionável. Os personagens também são bem construídos e bem interpretados pelo elenco. Destaque para o trio Uli, Greta e Chun, que entrega os melhores momentos da série.
No núcleo da “Terra”, o protagonismo é de Miriam (Kéfera Buchmann), uma personagem feminista e engajada, algo extremamente atual e que a faz bastante carismática. Mas quem realmente rouba a cena é o veterinário sem noção Sandro, vivido por Leandro Ramos. Ele dá a dose certa de humor para esse cenário.
Ninguém tá olhando tem episódios curtos — com média de 20 minutos — e que sempre terminam com gancho, o que faz com que o ritmo seja envolvente e leve o espectador a logo querer emendar outro capítulo no modo “maratona”. As referências pops também são outro ponto alto. Há citações a Cidade dos anjos, Bingo e séries da Netflix, como BoJack Horseman. Sem falar em “mitos” do dia a dia sobre os anjos, como o calafrio ser uma reação ao toque de um angelus e o sumiço — normalmente sem explicação — de isqueiros, canetas e meias, e as piadas sobre as crenças em astrologia e nos polêmicos coachs.
Essa forma diferenciada de fazer humor torna Ninguém tá olhando uma comédia cativante e também profunda. Como bem disse Daniel Rezende em entrevista ao Correio, há uma discussão sobre existencialismo na segunda e na terceira camada da série, que a fazem ainda melhor. Ao mesmo tempo que leva a risada, a série tem momentos sutis de levantam a reflexão do público. Sem falar que termina com um gancho que pede a renovação. Acenda sua vela e já peça ao seu angelus uma segunda temporada!