A primeira cena da quarta temporada de Mister Brau, que estreia na Globo nesta terça-feira (24/4) depois de O outro lado do paraíso, deixa claro que o foco dos próximos episódios será em Michele (Taís Araújo). Absoluta no palco, ela está em turnê internacional, com direito a dançarinos, a gritos de “thank you” e “I love you” e ao marido dela, Brau (Lázaro Ramos), escondido tocando tamborim no fundo do palco.
Ao término do show, Michele pede para que Brau fique quieto para que ela possa falar com Shakira em paz ー elas precisam acertar a data de um show, mas a agenda de Michele está lotada. Essa cena não dura um minuto, mas deixa claro o mote da temporada: Brau quer se reencontrar como músico, como marido e como homem. “Estou precisando de me empoderar”, diz o personagem, num tom perfeitamente debochado impresso por Lázaro.
O melhor do texto de Mister Brau, assinado por Jorge Furtado, nesse aspecto é que ele foge da simples e batida disputa entre o sexos. “Na turnê de 2015, eu estava em segundo plano, mas estava ao seu lado. Agora, ninguém me vê”, reclama Brau. Ele não quer ser maior que Michele. Quer ser do mesmo tamanho dela ー e, como o homem moderno, não sabe muito bem o que isso significa.
Num rompante, Brau decide que quer se separar de Michele e sai de casa, voltando para Madureira, movimento calculado para ser temporário. Mas a mídia descobre via redes sociais de um dos filhos do casal. O inferno está instalado e, com medo de serem acusados de ter feito uma jogada de marketing, Brau e Michele decidem fazer de conta que estão separados, o que (finalmente) rende bons momentos a Lázaro. E a Brau, que volta a ter o nome no trend topics. Num deles, Brau vai ao motel com Michele disfarçado, com um peruca loira hilária. Ao sugerir que, da outra vez, ela vá disfarçada para que ele não saia como único traído na mídia, ela se nega a “alimentar esse orgulho machista”.
Nem só de Michele e Brau vive a produção. Com coadjuvantes bem desenvolvidos e interpretados por bons atores, o autor Jorge Furtado sabe que tem nas mãos um bom respiro para o casal protagonista.
Os vizinhos deles, Andreia (Fernanda Freitas) e Henrique (George Sauma), passam por um momento delicado. Ela é presa depois que a Polícia Federal descobre que o pai dela usava o nome dela em transações escusas. Advogado, Henrique não sabe nem o que dizer aos policiais ー “como eu vou dizer que nós não sabíamos de nada depois que essa frase virou piada?”.
Henrique consegue converter a pena de Andreia em prisão domiciliar, mas a casa onde eles moram está interditada pela Polícia Federal. Então, de tornozeleira eletrônica (boa sacada de um esperto Jorge Furtado), Andreia vai morar de favor nas dependências de empregada da casa de Michele, de quem Andreia não gosta desde as temporadas passadas de Mister Brau.
Outro núcleo de coadjuvantes que deu certo, mas promete dar mais certo ainda é o de Madureira, bairro onde moram os amigos de Brau, Lima (Luís Miranda) e Carmo (Cacau Protásio, lembrando um pouco o tom da Terezinha de Vai que cola, o que não chega a ser um grande problema).
Outro acerto de Mister Brau é que as cenas são intermediadas por músicas de Michele e Brau. Mais do que compor a trilha, as faixas divertem e ajudam na narrativa ao trazer versos “o amor é uma tortura que perdura” e “foi bobaginha, aconteceu”.
Na quarta temporada, Mister Brau mostra que ainda tem fôlego, coisa rara entre as comédias brasileiras. Com bom elenco e bom texto, continua dando show.
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