Crítica: La otra mirada, a série que é uma aula sobre feminismo

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Série espanhola La otra mirada retrata o dia a dia das mulheres no século 20 sob o ponto de vista de professoras e alunas de uma escola exclusiva para meninas

Feminismo é uma palavra controversa. Ela causa temor em muita gente. Isso porque há ainda quem não entenda o real significado do termo. Como uma aula sobre a o tema, a série La otra mirada faz esse serviço e mostra o verdadeiro conceito de feminismo por da história de suas personagens. Disponível nos serviços on-demand Now e Claro Vídeos, a série espanhola foi criada por Josep Cister Rubio e Jaime Vaca e já foi indicada a dois prêmios da ATV Awars Spain, melhor série e melhor atriz, além de ter feito barulho na Espanha.

A produção se passa no século 20 e acompanha a história de um grupo de professoras e estudantes em uma escola exclusiva para meninas em Sevilha, na Espanha — bem ao estilo do filme O sorriso de Mona Lisa, de 2003, e protagonizado por Julia Roberts. A narrativa tem início por meio da história de Teresa (Patricia López Arnaiz), uma mulher que assassina o embaixador espanhol em Portugal e foge para Sevilha em busca de solucionar um mistério, que pode ter a ver com a motivação do crime. Lá, ela entra para o quadro de professoras de uma escola para meninas e muda o cotidiano dessas mulheres.

Apesar de Teresa ter em sua trajetória o assassinato e o mistério em torno dele, o que a personagem agrega a série está muito mais ligado a sua personalidade, do que ao crime que cometeu, que é uma trama bem paralela. Teresa é uma mulher à frente de seu tempo: usa calças, num período em que isso era considerado estranho; fuma na frente de todo mundo; se sustenta sozinha; e deixa claro que não está atrás de um marido lutando sempre por sua liberdade sexual. A entrada de uma professora assim em uma escola tradicional transforma todo o ambiente. Além de querer resolver o próprio mistério, Teresa quer levar a essas mulheres e meninas uma outra visão, um outro olhar, como o próprio nome da série sugere. E é a partir disso que La otra mirada debate temas que levam a entender o feminismo.

Crédito: Reprodução/Internet

Naquele período as mulheres não tinham direito ao voto e a série toca nisso quando coloca as estudantes pedindo para votar na hora de escolher a nova diretora da instituição. Também naquela época uma mulher solteira era vista com maus olhos (Teresa é o melhor exemplo aqui), imagina àquela que fosse mãe solteira (retratada na figura da mãe de Macarena, uma das estudantes da escola) e quem dirá uma mulher que admitisse uma sexualidade diferente da heterossexual (aqui vou omitir a personagem para não dar spoiler) e esses são outros assuntos abordados pela produção. A diferença salarial entre homens e mulheres (vista quando entra um homem no quadro de professores da escola), os casos de abuso sexual por companheiros, a descoberta da sexualidade pelas mulheres e tantos outros assuntos que permeiam o lado feminino também estão representados na história.

Tudo isso com muita leveza e com ares de descobertas. Afinal de contas, aquelas personagens também não haviam pensado em todos esses assuntos até a chegada de Teresa. É ela quem acaba abrindo a cabeça de todas aquelas mulheres, sejam elas as professoras Ángela (Cecilia Freire) e Luísa (Ana Wagener) e a diretora Manuela (Macarena García), sejam elas as alunas Roberta (Begoña Vargas), Margarita (Lucía Díez), María Jesús (Abril Montilla), Macarena (Paula Sánchez de la Nieta) e Flavia (Carla Campra). Todas elas viviam a vida tradicional e esperada das mulhees do século 20.

Crédito: Reprodução/Internet

La otra mirada é do tipo de joia preciosa dentro da programação televisiva. Apesar de ainda não ser conhecida pelo público brasileiro, merece toda a atenção que as produções em língua espanhola tem recebido por sua qualidade, boas interpretações, além do tempo extremamente atual.

A primeira temporada é composta por 13 episódios. Uma segunda ainda não está confirmada. Quer assistir? Clique aqui.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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