Crítica: Special, da Netflix, é tão boa que merecia episódios maiores

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Special trata da paralisia cerebral de forma leve e bem humorada, mas poderia ser menos superficial. Leia a crítica da série da Netflix!

Não dá para negar que há muito de coragem em Special, série disponibilizada recentemente no catálogo da Netflix. O drama com pitadas de comédia (ou comédia com pitadas de drama, se você preferir) foi criado e estrelado por Ryan O’Connell. Ele vive Ryan Hayes, personagem gay e com paralisia cerebral inspirado na própria vida de O’Connell e no livro I’m special: And other lies we tell ourselves (Eu sou especial: E outras mentiras que contamos para nós mesmos, em tradução livre para o português), escrito por ele mesmo.

Cena da série SpecialCena da série Special
A vida de Karen muda completamente com a independência do filho, Ryan

Em Special, Ryan (o personagem) tem um “grau moderado” de paralisia cerebral e vive os dilemas de não conseguir um emprego ou um namorado por causa disso. Talvez Ryan seja mais atingido pela baixa autoestima e pela superproteção da mãe, Karen (Jessica Hecht), que tem medo que o filho siga a vida. Logo no início de Special, Ryan consegue um estágio, mas esconde que tem paralisia cerebral da chefe e dos colegas (ele diz que manca devido a um atropelamento ocorrido dias antes de começar no trabalho), o que gera uma série de situações constrangedoras para ele.

A principal arma de Ryan e de Special contra o preconceito ー note que o rapaz enfrenta pelo menos dois deles ー é o humor. Ele é extremamente bem humorado e não se furta em rir de si mesmo antes que as outras pessoas o façam. O escudo é eficiente tanto na vida real como na tela.

Special lembra outras séries de sucesso na Netflix

Personagens cativantes são um dos trunfos de Special

A estrutura de Special é outro ponto alto da atração da Netflix. Com oito curtos episódios (somados eles não chegam a duas horas) e ritmo ágil, a série lembra Atypical e Please like me, duas séries que estão também no catálogo do serviço de streaming. Com a primeira, a semelhança está no tom adotado, de, com delicadeza, humanizar os personagens principais ー no caso de Atypical (Leia a crítica da primeira temporada), Sam (Keir Gilchrist) tem autismo. Com Please like me (Leia a crítica), a ligação se dá pelo ritmo dos diálogos, sempre ácidos, e pela curta duração dos episódios.

Special ainda é corada por boas interpretações. Ryan O’Connell alterna momentos engraçados e dramáticos, sempre nos despertando carinho, por mais que ele julgue ser impossível se apaixonar por ele. Jessica Hecht entrega uma mãe completamente humanizada, um personagem complexo que se transforma com a independência do filho. Por fim, Punam Patel, intérprete da bem resolvida Kim (colega negra e plus size de Ryan), também tem momentos de brilho.

O problema é que, com episódios tão curtos, Special não consegue ir muito a fundo nas questões levantadas. A reflexão não chega mastigada ao público e às vezes nem chega, o que é um problema numa série tão delicada. Personagens como Kim e Karen mereciam ser mais bem desenvolvidos, assim como questões que desembocam na baixa autoestima de Ryan. Quem sabe ficará para uma segunda temporada, ainda não anunciada pela Netflix?

Mesmo um pouco superficial, a delicada e engraçada Special merece seu tempo. Afinal, é mais curta do que muito longa-metragem.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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