Crítica: Série do Globo Play, Além da ilha, com Paulo Gustavo, é uma sucessão de erros

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Além da ilha tem atores que chamam a atenção, mas personagens ruins e texto sem graça põem tudo a perder. Leia a crítica da série do Globo Play!

Disponibilizada no Globo Play e com a promessa de um dia ir para a TV (Globo ou Multishow poderiam ser caminhos naturais), a série Além da ilha prometia agradar antes de estrear. O projeto tem a mesma estratégia de Se eu fechar os olhos agora, também lançado primeiro na plataforma on demand.

O elenco é encabeçado por Paulo Gustavo e tem Katiúscia Canoro, Letícia Lima e Monique Alfradique no elenco. Mas não basta. O texto é muito sem graça. A atração mira no humor e no suspense, mas erra todos os alvos.

Paulo Gustavo é Beto ー ou pelo menos esse é o nome do personagem porque Paulo Gustavo é ele mesmo há vários trabalhos. O homem ganha na loteria e vai comemorar a grande sorte num passeio de barco com os amigos Sheila (Monique Alfradique), Cardoso (Gabriel Godoy), Bia (Letícia Lima) e Guta (Katiúscia Canoro). Afastados da costa e isolados no meio do mar, eles resolvem nadar. Um a um, o grupo vai ao mar e ninguém se lembra que eles não têm como voltar ao barco porque não desceram a escada.

Eles ficam à deriva, não são socorridos e acordam numa ilha aparentemente deserta sãos e salvos ー Bia precisa de uma respiração boca a boca, mas nada que não seja pretexto batido para um clima entre ela e Cardoso.

É nesse ritmo que as piadas de Além da ilha vão, uma a uma, naufragando. Sem bom texto, fica difícil fazer comédia. Paulo Gustavo grita como se estivesse no Vai que cola e ainda narra a história toda num recurso que não diz a que veio; Letícia Lima e Monique Alfradique passam em branco. Só Katiúscia Canoro e Gabriel Godoy ー mais ele do que ela ー conseguem bons momentos.

Paulo Gustavo é a estrela de ‘Além da ilha’: mais do mesmo

Depois de dias na mata e de achar um casarão com cara de abandonado ーcenário em que os estereótipos da patricinha Bia, da esotérica Sheila, do atrapalhado Cardoso e da nerd Guta são reforçados à exaustão ー, o grupo é encontrado por Theodoro (André Mattos), o dono do local. Como repete a todo momento, Beto sonhou várias vezes que aquilo ia acontecer justamente como estava sendo. Daí o carinho que ele tem pelo local. Ele acaba comprando a ilha de Theodoro para construir um resort de mistério, o Mistery Island.

Nem o mistério salva Além da ilha

A ideia é que o Mistery Island seja um resort onde os hóspedes passem o tempo numa caça ao tesouro recheada de perigos da mata. A partir do quarto episódio, o ar de mistério aumenta. Mas Além da ilha não se assume nem como uma série de humor escrachado, nem como uma atração de suspense. Não tem força para nenhuma das duas coisas.

Como se estivessem num jogo de scape, desses que estão na moda, os hóspedes têm que achar os pedaços do mapa, juntar as peças e achar o baú com moedas. Quem tem vontade de escapar logo dessa armadilha é o público.

Theobaldo é o típico vilão misterioso: só anda armado, tem um telefone no qual fala o tempo todo, sussurrando segredos com não sei quem. As coisas começam a dar errado: uma das hóspedes se perde do grupo, sai do perímetro onde as câmeras instaladas por Bia alcançam e eles pensam que ela morreu; sai sangue em vez de água de uma das torneiras; o lago que era para ter dois jacarés tem dezenas e por aí vai. Um dos erros, quando um chá alucinógeno é colocando no prato de sopa no jantar, rende boas cenas.

Para não deixar ninguém desesperado, Beto e os amigos dele dizem para os hóspedes que faz tudo parte da experiência. Enquanto eles estão entretidos com a tal caça ao tesouro ー que dura dias, o quinteto vira uma espécie de turma do Scooby Doo, mas sem a menor graça ou esperteza. As situações vão se repetindo e o público, cansado, se pergunta: precisava de 10 episódios? Não precisava nem de um. Como eles são curtos e Paulo Gustavo é rentável, não se assuste se Além da ilha virar filme nas telinhas ou nas telonas. Não se assuste, mas fuja!

No meio das investigações, eles descobrem Tobias (Guilherme Piva), nativo que mora na ilha e tem um ódio mal explicado por Theodoro. Sem acertar nem no mistério (que mistério, gente?), nem no humor, Além da ilha decepciona mais uma vez no final. Clichês dos clichês, vem um gancho que deixa em aberto a possibilidade de uma nova temporada. Possibilidade, não, ameaça.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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