Com 20 anos de carreira, ator pernambucano de 26 anos fugiu de casa para estudar teatro, morou nas ruas de Minas Gerais e já trabalhou em circo
Patrick Selvatti
Na série Cangaço Novo, na Prime Video, Geyson Luiz dá vida a Pino, um cangaceiro insaciável pelo ódio. Nascido em Limoeiro, na zona da mata pernambucana, o ator de 26 anos celebra a possibilidade de discutir política, corrupção, cangaço e outros temas relevantes que estão na trama. Para ele, é reconhecer que o ofício do artista não é só em prol do entretenimento. “Também é, por natureza da linguagem, questionarmos o que acontece com a nossa civilização no intenso agora. A arte do encontro tem suas provocações, do reflexo do olhar humano ao mais belo e o mais horrendo da natureza e da civilização”, afirma.
Geyson também estrela a série A lama dos dias, que vai ganhar segunda temporada no Canal Brasil em breve e retrata o manguebeat e o movimento cultural de Recife nos anos 90. “Todo pernambucano tem em sua essência o que o movimento apenas afirma, essa autenticidade que pulsa no grave do baque solto e virado do nosso maracatu, o suor no corpo do brincante, esse afeto vai além do estado de Pernambuco, não existe fronteiras. A influência da cultura popular é presente em toda minha trajetória como artista. Carrego no corpo essa memória viva do meu povo”, conta.
O ator tem uma história bacana de superação. Aos 13 anos, ele fugiu de casa por falta de apoio familiar e foi trabalhar num circo. Chegou a voltar para casa, mas por pouco tempo. Por meio do grupo de teatro, geyson teve oportunidade de fazer um intercâmbio em Minas Gerais, onde ficou por dois anos. Sem querer retornar à cidade natal, chegou a morar nas ruas mineiras até ser convidado para alegrar o público no circo do ator Marcos Frota e no Le Cirque.
ENTREVISTA/ Geyson Luiz
Você é nordestino e está no elenco da elogiada série Cangaço Novo, da Prime. Como é usar a sua arte para ajudar a discutir temas como política, corrupção, cangaço e outros temas relevantes que estão na trama?
É reconhecer que o ofício do artista não é só em prol do entretenimento, como também é, por natureza da linguagem, questionarmos o que acontece com a nossa civilização no intenso agora. A arte do encontro tem suas provocações, do reflexo do olhar humano ao mais belo e o mais horrendo da natureza e da civilização.
Além disso, você estrela a série A lama dos dias, que vai ganhar segunda temporada no Canal Brasil em breve. Como buscou se preparar para uma trama que retrata o manguebeat e o movimento cultural de Recife nos anos 90 quando nem era nascido?
Todo Pernambucano tem em sua essência o que o movimento apenas afirma, essa autenticidade que pulsa no grave do baque solto e virado do nosso maracatu, o suor no corpo do brincante, esse afeto vai além do estado de Pernambuco, não existe fronteiras. A influência da cultura popular é presente em toda minha trajetória como artista. Como, por exemplo, ao me vestir com os trajes do caboclo de lança, uma das figuras do folguedo popular Maracatu rural: usava um galho de arruda atrás da orelha e um cravo ou rosa branca na boca para manter o corpo fechado, proteger-me. Eu era um intenso brincante do Cavalo marinho, ogã, dançava e cantava no terreiro que ficava no alto da serra. Carrego no corpo essa memória viva do meu povo.
Como tem observado o crescimento de produções ambientadas no Nordeste e que estão dando preferência a artistas da região, inclusive muitos desconhecidos do grande público?
É um momento chave para a nossa classe, dentro desse eixo norte – nordeste, os olhares estão voltados para novas narrativas e suas complexidades que o nosso país carrega, em cada estado com o seu sotaque, costumes, tradições. No trabalho do ator, temos de entender que não existe só uma forma de naturalidade, construir uma personagem dentro dos padrões existentes que o público tem acompanhado. Na atuação, não podemos pensar só em estereótipos, todo indivíduo carrega uma história, sua luta, razões que na arte trazemos para reflexão da existência. O Artista tem a responsabilidade com o seu público, fazer pensar, não ter medo de sentir, se emocionar. A vida é breve.
Você chegou até a morar na rua por conta do sonho de viver de arte. Hoje, já conquistando um espaço no mercado, como você analisa sua trajetória?
Sem medo de viver, a persistência de um sonho e uma necessidade de ter a minha família bem, é combustível que dão sentido para acreditar nos próprios caminhos, a arte sempre foi um lugar de celebração da existência, todas as vezes que estava no sinal, com o rosto pintado, o nariz vermelho na frente dos carros, questionava-me, e logo um sorriso se escancara, “eu ainda estou aqui”.
Qual foi o maior aprendizado do período em que viveu nas ruas e foi trabalhar em um circo?
O amor. O incentivo artístico veio de muita inspiração do que me afetava na realidade da minha infância, a visceralidade dos fatos de um ambiente caótico e efêmero, tornava a arte uma tradução de inquietude e vulnerabilidade escancarada de um pirralho que adormecia com pesadelos sobre os homens e acordava cheio de sonhos vivos. Admitindo os erros que o ser humano carrega como a fortaleza para quebrar muros da ignorância, da dor e do caos pela sobrevivência.” moras nas ruas, o amor foi uma busca, não que seja só por alguém ou algo, mas fui atrás desse princípio dentro de mim e estou no caminho dela, hoje, esse movimento involuntário tem me feito chegar aqui.