Produção de excelente qualidade, Dirty John conta com nomes de peso no elenco
Quando Dirty John figurou na disputada lista de melhor minissérie ou telefilme da edição 2019 do Globo de Ouro foi a grande chance do canal Bravo ganhar espaço. A pequena emissora de tevê a cabo já era famosa pelo tom popular, sendo a casa da franquia The real housewives. Alguns podem até ter torcido o nariz para a entrada da empresa na concorrida lista de melhores do ano, mas basta um olhar mais profundo sobre Dirty John para entender que o projeto não poderia ter tido uma casa melhor.
A grande verdade é que a minissérie apresenta um conteúdo extremamente popular com excelente qualidade: sedução, mistério, assassinato e o melhor, tendo Los Angeles e uma classe média alta da população como pano de fundo.
A história – que é real – conta como Debra Newell (Britton, que também responde pela produção-executiva), uma designer de interiores bem-sucedida que se envolve com o perigoso John Meehan (Eric Bana) em um relacionamento assolador, apaixonante, violento e, por fim, fatal.
Debra conhece John por meio de aplicativos de relacionamento. Depois de ter o quarto casamento fracassado, a mulher está no fundo do poço em relação a solidão, e entre encontros com verdadeiros “losers” do mundo on-line, Debra vê um verdadeiro oásis ao conhecer John, um (suposto) médico bem-educado, bonito e gentil.
O enredo de Dirty John não é inédito e já passou por diversas plataformas desde a matéria impressa do jornal Los Angeles Times em outubro de 2017, até o podcast em seis capítulos criado pelo jornalista Christopher Goffard no mesmo ano.
O podcast foi o que de fato levou Dirty John ao estrelato. Com uma narração impecável e um ritmo absolutamente cativante é impossível não pensar em uma história televisiva para aqueles acontecimentos que ecoam na sua cabeça por vários minutos – e que inclusive você pode ouvir gratuitamente aqui – e Connie Britton foi a responsável por tirar aquele enredo da voz de Goffard e levar para a Bravo.
Ritmo é diferencial de Dirty John
O piloto apresenta, essencialmente, como o relacionamento de Debra e John é avassalador e os leva a um casamento após poucas semanas do primeiro encontro. O público também conhece, aos poucos, como a personalidade de John não é exatamente o que o homem deixa aparentar a Debra, isso especialmente pelo contato dele com as filhas da mulher, Veronica (Juno Temple) e Terra (Julia Garner).
O grande diferencial de Dirty John é exatamente o fato da violência ser uma consequência e não o meio principal de prender a atenção do público naquela situação de abuso.
Não é de hoje que a tevê e o cinema abordam a violência contra mulher, mas tratar essa abordagem pelo prisma da violência psicológica e não estritamente física é algo que poucas produções conseguem, logo, mesmo sem um enredo incrivelmente original, a primeira parte da história encontra um excelente ritmo de representar como um relacionamento abusivo é construído.
Destaques de Dirty John
É importante fazer dois destaques no excelente elenco de Dirty John. O primeiro, e já quase tradicional, fica com Connie Britton. Mais do que uma boa atriz, Britton, a cada produção que estreia (desde Friday night lights), ensina que uma boa história vai além de investimentos ou nome famosos que integram o projeto.
Outro destaque fica com Julia Garner. A atriz dá um verdadeiro show de atuação, não só ao mudar da água para o vinho entre as personagens de Ruth, em Ozark, para a Terra, em Dirty John, mas também por apresentar uma sensibilidade ímpar em um papel “secundário” e “rápido”, mas fundamental para representar o quanto violência doméstica vai além do casal envolvido.
Dirty John é uma excelente opção de minissérie que dificilmente conseguirá desbancar American crime story ou Objetos cortantes na corrida pelas estatuetas nesta temporada de premiações, mas que, com certeza, não deixa por menos o merecimento de atenção do público.