Com Coisa mais linda, a Netflix acerta em cheio. Produção tem tudo para ser a melhor série brasileira do streaming
A Netflix já vem dado seus passos no Brasil apostando em séries nacionais. Tudo começou com 3%, produção de ficção científica que dividiu opiniões no país, mas conquistou o mundo. Depois veio O mecanismo, uma série inspirada nos acontecimentos políticos, que gerou muita polêmica. Até que chegou a comédia Samantha!, que teve menos barulho do que merecia, já que está no mesmo nível que produções como a norte-americana Fuller house. Agora a plataforma aposta em Coisa mais linda, de Giuliano Cedroni e Heather Roth.
A produção se passa no final dos anos 1950 e gira em torno de Maria Luiza (Maria Casadevall), que se muda de São Paulo para o Rio de Janeiro para reencontrar o marido, com quem vai abrir um restaurante. No entanto, quando a paulista chega à cidade maravilhosa se depara com um cenário inesperado: um apartamento mixuruca longe da praia, nada do esposo, indícios de amantes e uma conta bancária zerada.
O abandono e a frustração fazem com que Maria Luiza coloque fogo em várias roupas e bilhetinhos das amantes do marido. A labareta chama atenção de Adélia (Pathy Dejesus), empregada doméstica de uma das moradoras do prédio. As duas, então, compartilham um momento, o que se tornará, ao longo da série, numa relação de companheirismo.
Logo no primeiro episódio, Coisa mais linda ainda apresenta outras duas mulheres, que, como a protagonista Maria Luiza, serão de extrema importância na narrativa. São elas: Lígia (Fernanda Vasconcellos), amiga de infância de Maria Luiza que deseja voltar a cantar, mas sofre com um marido opressor; e Thereza (Mel Lisboa), cunhada de Lígia e uma jornalista completamente independente, que luta pela presença feminina na revista em que trabalha.
As histórias e os dramas das quatro mulheres são o ponto forte da série em retratar como era — e ainda pode ser nos dias de hoje — opressor ser uma mulher num mundo machista.
Em pleno fim dos anos 1950 e início de 1960, Maria Luiza decide ficar no Rio de Janeiro e transformar o espaço do restaurante em uma casa de shows, já que a música sempre foi uma paixão e ela percebe a pulsação de novos ritmos no Rio de Janeiro. E é nesse momento que a produção começa a discutir as questões ligadas às mulheres.
Sem a figura do marido, Maria Luiza encontra várias dificuldades par realizar o sonho. Dificuldades essas que são destrinchadas na série, assim como as barreiras que as outras três mulheres centrais da trama enfrentam: Adélia por ser negra, moradora do morro e praticamente uma mãe solo; Lígia por ser reprimida pelo marido; e Thereza por ter que enfrentar o machismo dentro do ambiente de trabalho.
Paralelamente ao quarteto de protagonistas, a série conta ainda com dois outros personagens essenciais para o outro foco da série: a música nacional. São eles: Chico (Leandro Lima), um promissor cantor de bossa nova e samba, que se aproxima de Maria Luiza; e Capitão (Ícaro Silva), músico que se relaciona com Adélia. É por meio da figura dos dois que o seriado começa a retratar o surgimento da bossa nova e da força do samba naquele período no Brasil.
Crítica de Coisa mais linda
A força feminina e a música brasileira são os dois pilares de Coisa mais linda, que vai explorar o momento musical daquela época por meio da casa de shows criada por Maria Luiza em uma história com sete episódios na primeira temporada.
Visualmente, a série é bem bonita e explora bem as cores. Há boas atuações, o que torna os personagens empáticos. Num primeiro momento Maria Casadevall parece um pouco forçada como Maria Luiza, mas logo a atriz consegue virar o jogo e entregar uma protagonista carismática. A trilha sonora também é outro ponto forte de Coisa mais linda.
Tem tudo para ser uma série que vai funcionar com o público brasileiro — que conhece muito bem as quatro atrizes protagonistas e a linguagem escolhida na produção — e mais ainda com o estrangeiro, que costuma se encantar com a música brasileira e com o visual do Rio de Janeiro. Inclusive, a faixa de abertura do seriado dá logo essa dica. É Garota de Ipanema, de Tom Jobim, em inglês. E a pegada da produção também, que mostra um Brasil que os gringos gostam de ver.