Segunda temporada da série nacional Coisa mais linda amplia arco de debate, dando mais visibilidade às demais personagens
Lançada no ano passado na Netflix, a série nacional Coisa mais linda está de volta. A partir de 19 de junho, a produção ganha novos episódios na segunda temporada. Dessa vez, a trama está mais complexa, ampliando o olhar para além da protagonista Maria Luiza, vivida por Maria Casadevall, personagem que, na primeira temporada, assumiu o comando de uma casa de shows, batizada de Coisa mais linda — daí o nome do seriado —, após ter sido abandonada pelo marido no Rio de Janeiro.
Ainda na primeira temporada, Malu estava rodeada de três amigas: a cantora Lígia (Fernanda Vasconcellos), a jornalista Thereza (Mel Lisboa) e a ex-empregada doméstica e sócia Adélia (Pathy Dejesus), que já roubavam a cena na produção e discutiam temas femininos, como emancipação, empoderamento e violência. Porém, mesmo que cada uma tivesse conflitos próprios, a série ainda tinha uma característica de estar centrada em Maria Luiza e também num caráter mais de apresentação, natural de uma primeira temporada.
A partir de agora, a narrativa tem mais complexidade. A segunda temporada começa a partir dos desdobramentos do trágico acontecimento do final da primeira, quando Lígia e Malu são atingidas por tiros disparados por Augusto Soares (Gustavo Vaz) durante o réveillon de 1960. Malu fica hospitalizada, vê o ex-marido retornar e assumir o lugar dela no Coisa mais linda e usará a força alimentada pelo trauma para se recolocar no mercado. Thereza precisa lidar com as mudanças no casamento com Nelson (Alexandre Cioletti) após a descoberta de que ele é pai de Conceição (Sarah Vitória). Já Adélia se prepara para o casamento com o Capitão (Ícaro Silva) e toda a nova dinâmica familiar que inclui a irmã Ivone (Larissa Nunes) querendo investir na carreira de cantora e o retorno de uma figura do passado.
“Para Adélia eu achei: “Uau, foi maravilhoso”. Porque muito se falou que, na primeira temporada, a Adélia em relação as outras personagens tinha menos ambientação. A gente sabia muito pouco de onde ela vinha, quais pessoas conviviam com ela. Na segunda temporada, isso é escancarado de uma forma muito linda, com novos personagens, dramas só dela. Ela deixa de ser uma personagem que fica orbitando em torno da Malu para ter uma história própria”, avalia Pathy Dejesus em entrevista ao Correio.
Mel Lisboa também pontua a evolução de Thereza na segunda temporada. “Acho que na primeira temporada há uma apresentação das personagens. Na linha geral de quem são essas quatro mulheres e as questões distintas dos universos delas, que abordam questões importantes e diferentes. Na segunda temporada, isso se aprofunda. No caso da Thereza, por ela entrar em contato com essa fragilidade. Ela é uma personagem feminina desconstruída, mas humana e passível de vulnerabilidade”, avalia a atriz.
A música ainda tem espaço em Coisa mais linda, mas agora de uma forma mais secundária. O que importa mesmo agora são as histórias das personagens. “Nessa segunda temporada fomos agraciados com a chegada de novos personagens, um núcleo negro forte e efetivo. Ninguém está figurando, todo mundo tem papel e bem importante”, classifica Pathy.
Temática feminista
Apesar de se passar na década de 1960, Coisa mais linda se destacou desde a primeira temporada pela abordagem de temas atuais envolvendo o universo feminino. Na sequência, a característica se mantém e novos debates que dialogam com a atualidade também aparecem. “Acho que a série tem um potencial enorme em relação a essas questões, porque as aborda de forma delicada, porém contundente que faz o espectador ter uma reflexão. Abraça tanto pessoas que já têm consciência dessas causas — machismo, racismo e feminicídio — quanto aquelas que ainda não. É um entretenimento, mas que te faz pensar nos dias de hoje”, reflete Mel Lisboa.
“Coisa mais linda não tem como objetivo levantar bandeiras, isso acontece de forma orgânica. Isso é que é o mais lindo da nossa série. A gente se comprometeu a fazer um entretenimento consciente. Se você for levar a ferro e fogo, muitas coisas e conquistas, talvez, não coubessem naquela época. Mas acho muito interessante essa forma de mostrar, porque traz menos resistência das pessoas. Colocamos muita gente para questionar e fazer um paralelo com o mundo atual”, completa Pathy Dejesus.
Repercussão no Brasil
Coisa mais linda foi uma das primeiras séries brasileiras originais da Netflix a ter boa repercussão com o público nacional. “O feedback me surpreendeu, superou as minhas expectativas. O que, de certa forma, tem uma responsabilidade para a segunda temporada. A expectativa foi criada. Mas acho que nosso trabalho é entregar, e foi feito com muita dedicação”, afirma Pathy Dejesus
A intérprete de Adélia destaca, ainda, a importância do lançamento da série em meio ao isolamento social. “As pessoas estão tendo que recorrer às artes para desopilar um pouco. Tomara, então, que Coisa mais linda sirva de entretenimento num momento como esse”, completa.
Mel Lisboa aproveita para dizer que tanto a boa repercussão da série, quanto o maior tempo do público dedicado aos produtos nacionais na quarentena possam servir de exemplo para a valorização do audiovisual brasileiro. “É um público muito acostumado a consumir novelas e que, agora, está começando a migrar para outros conteúdos audiovisuais e de cultura produzidos no Brasil. As séries e os filmes estão indo muito bem nacionalmente e internacionalmente. Coisa mais linda é uma porta que se abre para que esses preconceitos com o conteúdo brasileiro caiam”, comenta.