Cláudio Gabriel, ator. Cláudio Gabriel, ator. Crédito: Priscila Nicheli

Claudio Gabriel retorna à popularidade do horário nobre

Publicado em Entrevista, Novela, Perfil

Como Tadeu em “Terra e paixão”, ator carioca de 54 anos se reencontra com a faixa que o consagrou no ano 2000, em “Laços de família”

Patrick Selvatti

 

Mais de duas décadas após o grande sucesso como o faz-tudo Severino de Laços de família e uma longa lista de trabalhos no audiovisual, o ator Claudio Gabriel retorna ao horário nobre da Globo em Terra e paixão. E, mais uma vez com um papel divertido e popular, conquista o público. “É claro que uma novela das nove da Rede Globo, ainda por cima fazendo esse grande sucesso, ainda é o carro-chefe da fama”, afirma.

Na produção de Walcyr Carrasco, assim como na de Manoel Carlos de 23 anos atrás, o carioca está inserido em um contexto rural. A diferença é que antes ele fazia um empregado e agora é o patrão. “A novela [Laços de família, de 2000] fez grande sucesso e o Severino também. Investi no humor e deu certo. Manoel Carlos [autor] gostou, os diretores também e deram linha na pipa, como costumo dizer”, relembra.

Na pele do empresário rural Tadeu, Claudio é um homem casado que se rende à sedução de uma cam girl mascarada vivida por Tatá Werneck e fica tão obcecado com a ideia de revelar a identidade da Rainha Delícia que contrata um hacker. Ainda que a abordagem da trama seja cômica, o artista compreende a questão séria por trás da história: os crimes digitais. “Infelizmente, a internet ainda é uma terra sem lei, em muitos casos. Sei que há julgamentos e punições para estes criminosos, mas muitos deles acabam se safando”, lamenta ele, que celebra 32 anos de carreira, com alguns prêmios no teatro e no cinema.

Entre um trabalho e outro, Claudio Gabriel também se dedica às artes plásticas. Em 2010, o artista decidiu investir em cursos de pintura na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage. Lá, ele se aprofundei no universo da pintura contemporânea, estudando e me aprimorando com grandes mestres da famosa Geração 80. “A pintura é hoje de suma importância para mim, um exercício de liberdade de expressão que vem das entranhas da alma, da minha percepção da vida e de minha visão de mundo”, argumenta.

Cláudio Gabriel se dedica à pintura | Divulgação

ENTREVISTA/ Claudio Gabriel

Em Terra e paixão, seu personagem, de uma forma divertida, é obcecado pela figura misteriosa de uma cam girl a ponto de contratar um hacker para desvendar a identidade dela. Mas essa trama levanta um pouco uma questão séria, que é a dos crimes digitais. É um assunto que, de certa forma, você se interessa?

Sim, me interesso. Penso que, infelizmente, a internet ainda é uma “terra sem lei”, em muitos casos. Sei que há julgamentos e punições para estes criminosos, mas muitos deles acabam se safando. Basta pensarmos que muitas pessoas se passam facilmente por outras com um perfil falso de Instagram, por exemplo. Eu mesmo recebo assédios digitais que muitas vezes são fáceis de saber que se tratam de golpe ou falsidade ideológica. Mas em outros casos, não. Indo um pouco além, isso me faz pensar também sobre um problema que levou os atores americanos a decretarem greve no setor, se juntando a roteiristas, diretores etc. Aqui no Brasil, o caso é pior ainda. Não há regulamentação justa para remuneração de direitos autorais sobre programas que são reexibidos exaustivamente nas plataformas de streaming. Não se trata de crime, mas de uma injustiça, e isso também entra no campo da falta de leis em relação ao uso de nossas imagens e criações, que são reexibidas ao bel prazer dos donos destas plataformas, que lucram absurdamente, mas não querem pagar nada aos atores e atrizes.

Em 2000, você fez um trabalho que marcou muito o imaginário coletivo, em Laços de família. Que lembranças você tem dessa novela e como ela marcou sua carreira?

Considero essa novela como um marco, uma primeira virada na minha carreira. Não era tão jovem, tinha 30 anos na época, e nem foi meu primeiro trabalho na TV. Mas foi o que me revelou para produtores de elenco, diretores, autores e público em geral. A novela fez grande sucesso e o Severino também. Investi no humor e deu certo. Manoel Carlos gostou, os diretores também e deram “linha na pipa”, como costumo dizer. Tive um parceiro muito importante também para esse sucesso: o ator José Mayer, que foi muito generoso. Até hoje sou abordado por fãs que se referem ao personagem e, de certa forma, tudo o que veio depois no audiovisual, em se tratando de humor e comédia, principalmente, foi um desdobramento natural desse projeto.

Você passou alguns anos na Record e retornou à Globo, mas antes passou pelo streaming. É perceptível a diferença de abordagem das pessoas nas ruas antes e depois desse regresso? 

Percebo uma abordagem crescente nas ruas, pelo conjunto da obra, ou seja, pelos muitos anos de trabalho no audiovisual. Os fãs me reconhecem por trabalhos diversos: da Record, da Globo, do Impuros, no streaming. Mas é claro que uma novela das nove da Rede Globo, ainda por cima fazendo esse grande sucesso, ainda é o carro-chefe da fama. Nesse sentido, faz diferença, sim. 

Entre a comédia e o drama, onde a sua alma mais se encaixa? 

Gosto de fazer de tudo, ser eclético, e atuar é uma paixão. Mas penso que o humor está em tudo que faço, é como um molho especial para todos os personagens. Inclusive, acho que toda obra que mescla drama e comédia, seja na trama ou na construção dos personagens, ganha pontos a mais, pois se aproxima da própria vida. E esse é o objetivo. Somos essa mistura. O ser humano é capaz de gargalhar num velório, por exemplo. Quando dou aula na minha Oficina do Riso, na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), falo muito sobre isso.

Como foi que as artes plásticas/visuais surgiram na sua vida e que importância elas têm? 

Fiz alguns cursos de ilustração e pintura na época em que estudava teatro na Martins Pena, no centro do Rio, nos anos 1990. Mas foi em 2010 que resolvi investir em cursos de pintura na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage. Lá, me aprofundei no universo da pintura contemporânea, estudando e me aprimorando com grandes mestres da famosa “geração 80”. A partir daí, comecei a participar de salões e exposições de arte. Virou uma realidade. A pintura é hoje de suma importância para mim, um exercício de liberdade de expressão que vem das entranhas da alma, da minha percepção da vida e de minha visão de mundo. Pretendo que meu trabalho seja conhecido e reconhecido cada vez mais.