Ninguém vai calar Bruno Fagundes. Quem segue o ator nas redes sociais sabe que o espaço é usado pelo rapaz para se divertir (e divertir a gente), para encher os olhos de fãs mais afoitos (as) e, especialmente, para se posicionar contra ou a favor de alguma coisa. Assunto é o que não falta.
“Eu faço questão de me pronunciar nas minhas redes porque é indissociável o artista Bruno do cidadão Bruno. E eu sou tanto um quanto o outro. Hoje, a gente tem o dever cívico, o dever moral de se posicionar, porque a gente está vivendo um horror”, comenta, em entrevista ao Correio.
Politizado, Bruno comemora que o setor cultural começa a se reerguer após a pandemia, período “muito cruel com o setor cultural no mundo, imagina no Brasil”. Mas nem tudo está como antes. “Nosso trabalho depende muito de afeto, da proximidade, do contato. E isso tudo foi modificado. Mas nós, artistas, somos tão fortes, tão resilientes, que a gente sobrevive e ultrapassa todas essas dificuldades para contar uma boa história, que é o que nos motiva e nos mantém vivos. O que nos resta é seguir e se adaptar”, ensina.
A carreira de Bruno foi calcada nos palcos e no streaming. Com apenas Meu pedacinho de chão (2014) na lista de novelas, ele se prepara para o segundo folhetim. O ator estará em Cara e coragem, novela de Cláudia Souto prevista para maio de 2022. Foi sobre esse novo trabalho, sobre as dificuldades e os louros do streaming nacional e arte em geral que Bruno Fagundes conversou com o Correio. Confira!
Meu pedacinho de chão foi sua única novela inteira. E isso foi em 2014. Ano que vem, você volta em Cara e coragem. Porque o gênero não é tão presente na sua carreira?
Não fiz mais novela porque é impossível estar em mais de um lugar ao mesmo tempo (risos). Terminei a novela em 2015. De lá para cá, fiz seis peças de teatro, dois musicais, duas participações em série, três filmes. Eu não parei nenhum minuto (risos). Quase tive estafa duas vezes, sempre correndo atrás das minhas coisas e nunca fiquei parado esperando a oportunidade voltar. Além do que, quando eu terminei a novela e assinei com a Netflix (para 3%), eu não poderia estar na Globo. As pessoas me perguntam ‘você nunca mais fez televisão’. Eu fiz. A Netflix foi feita como uma televisão, para ser assistida em uma televisão. Quando eu terminei a última temporada de 3%, em 2020, veio a pandemia e o hiato dela. Agora, vieram outras oportunidades, mas achei que a novela era a melhor delas. Foi um encontro feliz de agendas e de oportunidades.
Como está sendo a volta às novelas? Imagino que essa volta ainda na pandemia esteja sendo um pouco diferente, não?
Muita coisa mudou neste momento que a gente ainda está vivendo, incerto quanto ao futuro. Ao mesmo tempo, não estamos mais naquele momento tão agressivo da pandemia. Muita coisa mudou. Eu tive a oportunidade de fazer um trabalho na pandemia e estou fazendo outro agora, para um streaming, e está tudo diferente. Nosso trabalho depende muito de afeto, da proximidade dos atores, do contato. E isso tudo foi modificado. Mas nós, artistas, somos tão fortes, tão resilientes, que sobrevivemos e ultrapassamos todas essas dificuldades para contar uma boa história, que é o que nos motiva e nos mantém vivos. O que nos resta é seguir e se adaptar.
O que você pode adiantar de seu personagem em Cara e coragem?
Não posso falar muito para não “queimar a largada”. Mas uma coisa que posso adiantar é que o personagem tem um apelo à fisicalidade, que é uma coisa de que eu gosto muito, e que vai ter muito enrosco ali. Isso vai ser muita ferramenta não só pra mim, para o meu trabalho como ator, mas para o público também. Estou bem ansioso.
Seu personagem terá uma ligação com a arte por ser dono de uma escola circense. Vocês abordarão também as dificuldades de se viver de arte no Brasil?
Ainda não tenho certeza, porque não tive acesso a todos os textos, mas só o fato de a gente estar fazendo uma companhia de arte dentro de uma novela num período pós-pandemia, no Brasil, já é falar sobre as dificuldades de fazer arte no país. É extremamente político e contundente. Estamos fazendo arte sobre a arte. Isso já vai dar pano para a manga, com certeza.
Como foi seu preparo para esse papel, já que o universo circense não é novo para você?
Eu amo circo. Faz pelo menos cinco anos que eu desenvolvo essa expressão artística em mim e sou um apaixonado. Achei no circo algo que é o meu esporte. Quando eu fiz o teste para a novela achei que soubessem (da ligação de Bruno com a arte circense), mas descobri depois que não sabiam. Foi uma supercoincidência. Eu sempre acho que o “estar pronto é tudo”, como dizia Shakespeare. Quero criar condições para cada vez mais estar pronto para as oportunidades quando elas surgirem. Claro que tem o fator sorte, porque circo é uma coisa específica, principalmente os aéreos, e, de repente, eu caio com um personagem em que vou usar isso que tenho desenvolvido há um tempo.
Você pôde “emprestar” alguma coisa ao personagem?
Eu não posso emprestar, eu vou ser esse personagem por inteiro. Eu sempre brinco que o tempo de preparo que a gente tem para um personagem é a vida inteira porque nosso processo é cumulativo, somamos todo nosso conhecimento, e em todo personagem, em todo desafio usamos todo o nosso conhecimento. Tenho treinado muito mais agora. Não vejo a hora de estrear.
Você esteve em 3% e em Sense 8. Como comparar as indústrias brasileira e americana no audiovisual?
Algumas questões devem ser levadas em consideração. A gente ainda está tateando bastante na nossa linguagem de série. Eu fiz parte da série 3%, que foi o primeiro produto brasileiro da Netflix. De lá pra cá, as coisas mudaram radicalmente. Hoje em dia, a Netflix tem um escritório no Brasil, mas quando começamos, lá em 3%, quando entrei na segunda temporada, estava tudo ainda muito novo. Em tempo histórico, isso é pouco tempo. A coisa ainda está em desenvolvimento.
Fora a questão orçamentária, ficamos devendo em algum aspecto?
Não é só uma questão orçamentária, mas uma questão mesmo de criar tradição. Estamos começando a criar nossa tradição de série e começando a educar o público a consumir séries brasileiras. Estamos no início ainda. Obviamente, a meta é chegar numa indústria como a americana. Eles são pioneiros e fazem isso há mais tempo que nós. Mas é só uma questão de tempo mesmo. Temos uma matéria prima incrível, excelentes profissionais, excelentes ideias, muitas possibilidades de história.
E como está o mercado?
Eu vejo agora o mercado mais aquecido porque os streamings estão chegando ao Brasil e, por obrigatoriedade, eles têm que produzir bastante conteúdo nacional. Espero que, depois desse momento de pandemia, a gente tenha uma efervescência cultural e de produção. Aí vamos começar a entender nosso público cada vez mais e exercitar mais para chegar na excelência. Estamos criando condições para isso. Eu já li várias matérias de revistas americanas importantes falando que, se 3% tivesse o mesmo orçamento de Stranger things, a gente seria uma febre mundial. Temos feito muito com muito pouco no Brasil. É uma questão de tempo, resiliência e aprimoramento que tem chegado.
A pandemia foi muito cruel para o setor cultural brasileiro, especialmente porque o período já era ruim. Como fazer para que a arte não morra e continue chegando aos brasileiros?
A pandemia foi muito cruel com todos os setores, com o setor cultural, no mundo, imagina no Brasil. Nunca tivemos apoio do Estado, apoio efetivo de um Estado presente. Isso nunca aconteceu no Brasil, ao passo que em Londres a cultura é política de Estado, ela tem o papel tão importante quanto uma guerra. É o que faz uma nação se reconhecer como nação. Não é à toa que eles são os maiores do mundo.
Como resistir, então?
Eu tenho dito muito nas minhas redes e em conversas: o artista não vai parar nunca. Acho que nove entre 10 artistas não pararam durante a pandemia e estão fazendo do jeito que dá, seja teatro on-line, seja podcasts, lives… Os atores não pararam e a gente não parou. Não se cala um artista facilmente. Eu realmente acredito nisso. Agora, a parte mais importante da equação para que a arte não morra é o público. Se você gosta de arte, se interessa por arte, assim que tudo voltar ao normal ou a um novo normal, volte a frequentar, volte a comprar ingressos, compre entrada inteira para ajudar a produção. Não é um dinheiro mal gasto. É um dinheiro que vai ajudar a produção a sobreviver. É interessante a gente pensar nessa responsabilidade de duas mãos.
Ano que vem é eleitoral. Já vimos vários exemplos de artistas que se posicionam —partidariamente ou não. Posicionar-se é um dever do artista Bruno Fagundes? Ou é uma opção do cidadão Bruno?
Eu faço questão de me pronunciar nas minhas redes porque é indissociável o artista Bruno do cidadão Bruno. E eu sou tanto um quanto o outro. Hoje, temos o dever cívico, o dever moral de se posicionar, porque a gente está vivendo um horror. Ainda mais quando o meu setor é diretamente atingido, é alvo.
Como você lida com a cobrança de fãs nas redes sociais com relação a isso?
Eu não vejo cobrança. Eu vejo pessoas que se posicionam diferente. E tudo bem. Isso é democracia. Mas o que é muito perigoso é que as pessoas estão com a escuta fechada. Temos que começar a se ouvir para que a gente cresça. Enquanto estiver alguém ouvindo, eu vou estar sempre falando. E mesmo se alguém não estiver disposto a ouvir, que é o que tem acontecido, continuarei falando, porque tem que ser falado, tem que ser apontado. Neste momento, é uma obrigação, principalmente, moral.
Você já tem planos para os palcos, as telas ou o streaming para os próximos meses, além da novela?
Muitos planos, muitos planos (risos). Vamos nos adaptando a tudo o que acontece. A pandemia transformou, mudou ou cancelou muitos desses planos ou adiou. Mas eles estão todos aqui. Eu estou com uma peça em que vou produzir e trabalhar como ator. É um projeto muito ambicioso, que eu vou fazer com um grande amigo como diretor. Ainda não sabemos exatamente a data. E estou gravando uma série para o streaming que deve estrear em 2022. É como eu falei: não vou me calar, não vou parar. Espero que tenha alguém do outro lado para compartilhar, para se emocionar comigo.
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