A atriz paulista Bruna Aiiso estreou, neste ano, na série A todo vapor, disponível na Amazon Prime Vídeo. A produção é a primeira feita no Brasil do estilo steampunk, subgênero da ficção científica ambientado no passado, mas com interferências modernas tecnológicas. “Dramaturgicamente, é um gênero nunca explorado no Brasil. Eu também não conhecia antes de atuar nele!”, admite.
Em A todo vapor, a história se passa em 1908, com elementos da época, e também mais modernos, com coisas que, inclusive, nem existem ainda em 2020. “É uma estética retrofuturista. A ideia do símbolo da engrenagem, presente nos pôsteres, é misturar esse superprogresso com a estética e funcionamento da tecnologia antiga, o mesmo com os trens e máquinas a vapor”, explica.
A trama é protagonizada por personagens conhecidos da literatura brasileira. Apesar disso, Bruna vive um papel criado especialmente para a série: a ninja Nioko Takeda, que é obrigada a lutar com os protagonistas. Até por isso, teve que se dedicar bastante à preparação física. “Foi muito em cima do trabalho corporal. Tive cenas de luta na série, um desafio tremendo para mim. Sempre pratiquei atividade física e faço boxe há muitos anos, mas kung-fu e karatê são completamente diferentes de tudo o que eu já havia experimentado”, conta.
Foram três meses de trabalho com Gutemberg Lins, um dos dublês mais famosos do Brasil e especialista em kung-fu, para ensaiar a coreografia das lutas. Só depois é que Bruna Aiiso trabalhou na personalidade, trejeitos e voz da personagem.
Atualmente, a paulista trabalha em dois projetos: Brasileiros, uma série de lives em que aborda a representatividade amarela no meio artístico, um longa-metragem sobre o campeão mundial de boxe Miguel de Oliveira, intitulado A fera de Os — Uma vida dedicada ao boxe. “Inscrevemos em vários fomentos e estamos esperando dinheiro para poder rodar o longa. É uma produção ousada, que almeja viagens internacionais com o Miguel”, adianta.
Como surgiu a oportunidade de integrar o elenco de A todo vapor?
Quando A todo vapor! surgiu, eu já conhecia o Felipe Reis, criador desse universo junto com o Enéias Tavares, e também diretor e protagonista da série. Fiquei sabendo que ele estava com essa produção e procurava uma atriz amarela, e ele me convidou para conhecer a obra e experimentar o figurino. Quando vesti, caiu como uma luva, parece que tinha sido feito sob medida para mim, foi inexplicável. Mesmo as peças mais chatinhas, como o corselete, calça de couro, botas, todos serviram. O Felipe olhou para mim e falou: “É, você é a Nioko”. E não teve jeito! Ele me passou o roteiro e foi aí que tudo começou.
Você se destacou na pandemia com a série de lives Brasileiros. Como veio a ideia do projeto e qual foi o principal objetivo da criação?
A série de lives Brasileiros nasceu no ápice da quarentena, quando eu estava preocupada por estar improdutiva, e comecei a pensar em coisas que poderia fazer. Nessa época estavam rolando muitas lives, e eu queria usar o formato com um propósito. Já pensava em fazer uma live com o Pedro Ogata, primeiro entrevistado da série. Como o Pedro é um adolescente, conversava tanto com ele quanto com a mãe, a Gi, e contei que queria marcar essa conversa para abordar a carreira dele, a participação no The voice kids. Mas pensei “quero falar também sobre o que ele acha da falta de inserção de artistas amarelos no mercado da música, no audiovisual como um todo”. Conversando com ela, me ouvindo, comecei a pensar que seria muito interessante ouvir a visão do Pedro, e também a de todos os artistas amarelos. O que eles pensam, o que eles esperam, como eles veem o mercado, porque eles acham que o mercado nos trata assim. Decidi marcar essa live com o Pedro e replicar o formato com vários artistas, fazer uma série de lives. Comecei a ligar para pessoas que queria entrevistar, elas acharam a ideia o máximo, eu não esperava tanto feedback positivo! Na primeira temporada reuni dezessete artistas, de última hora consegui fechar com a Danni Suzuki e com a Geovanna Tominaga, depois mais quinze na segunda, mais quinze na terceira, e agora na quarta já entrevistei dez pessoas, então são mais de sessenta artistas de ascendência leste-asiática e fenótipo amarelo. Foram muitas histórias que passaram por essas lives, gente muito talentosa e preparada, só oportunidade para que todos esses artistas possam mostrar o trabalho que eles têm para oferecer. E além de oportunidade, é importante existirem papéis de relevância e protagonismo.
A série deve continuar?
Quero que cresça e consiga atingir mais pessoas. Ainda está em fase de planejamento, mas acredito muito no potencial do Brasileiros com Bruna Aiiso, é isso que posso dizer por enquanto!
Como tem sido esse período de pandemia para você? Como isso te impactou pessoalmente e profissionalmente?
Foi bem difícil nos cinco primeiros meses, porque eu tinha acabado de encerrar um contrato de trabalho e fiquei sem trabalhar nas artes a quarentena inteira. Foi um período difícil financeira e produtivamente, passei alguns meses fazendo cursos e leituras antes de ter a ideia do Brasileiros. Buscar essas alternativas me ajudou a ficar melhor, tive chance de mergulhar muito na arte. Claro, o período foi desafiador para o mundo inteiro, e fui privilegiada em poder ficar em casa e até refinar minha profissão, embora ainda não possa exercê-la.
Você também pode ser vista na websérie M0therb0x. O que pode contar sobre a trama e sobre sua participação?
A websérie M0therb0x é uma produção de ficção científica totalmente independente, está disponível no YouTube. Eu protagonizo o primeiro episódio, chamado Teste, em que faço uma robô em um outro mundo totalmente desconhecido, um desafio à parte para buscar referências e compor o personagem. Foi uma experiência muito bacana junto a uma equipe maravilhosa, cada episódio é independente dos demais e conta com roteirista e diretor diferente, porém tudo se passa no mesmo universo. Nós acabamos de receber quatro indicações para o Rio Webfest, fico muito feliz com o resultado. Acho que o Brasil está produzindo webséries de altíssimo nível, é uma tendência de mercado e estamos surfando essa onda. Estou muito contente, e espero conquistar reconhecimento e conseguir uma segunda temporada com patrocínio e estímulo do governo.
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