O Próximo Capítulo aponta alguns dos erros que podem ter fadado o reality a um ano sem popularidade
Por Patrick Selvatti
Há mais de duas décadas no ar, o Big Brother Brasil mobiliza multidões e, ainda que as gerações se renovem, é o tipo de programa que consegue atingir tanto a galera mais nova vidrada na internet, quanto os veteranos do sofá. Este ano, entretanto, a sensação, de um modo geral, é de saturação e um certo alívio com o fim de algo que agoniza.
O formato não é perecível, e uma prova disso foi o frisson causado pela edição de 2021 — que reuniu um elenco peculiar que se destacou pela ascensão gigante dos pipocas Juliette e Gil do Vigor e pela queda abismal dos camarotes Karol Conká e Projota. Tanto cancelamento, porém, dificultou a reunião de um elenco de famosos tão estrelado no ano seguinte. Um dos nomes mais fortes confinados em 2022, Tiago Abravanel, por exemplo, tentou criar um clima de colônia de férias gospel e, frustrado, apertou o botão de desistência. Como efeito direto, esse pavor da rejeição popular e até mesmo a pouca repercussão em cima do vencedor do BBB 22, Arthur Aguiar, se refletiram na escalação do elenco desta temporada, que se encerra na terça-feira.
O que vimos desde janeiro foi um camarote composto por dez famosos sem tanta notoriedade, que estava mais para A Fazenda — e está tudo bem, até porque este não foi o maior problema do BBB 23. O grande segredo de uma boa temporada de reality show é um elenco, ainda que anônimo, capaz de se entrosar na construção de uma narrativa robusta. E ela até que existiu, mas de forma reversa. Sem maniqueísmo, o programa trouxe para o protagonismo situações de relacionamento abusivo, elitismo, preconceito racial e — como se não bastasse — até um episódio lamentável de importunação sexual, que resultou na eliminação sumária de dois dos participantes mais queridos pelo público. Vida real na veia, mas longe do entretenimento saudável.
Diante de tamanho iceberg, a direção ainda tentou salvar o Titanic do naufrágio. Na mesma temporada, teve Casa de Vidro, Quarto Secreto, Quarto Branco, um festival de Big Fones, intercâmbio e semana turbo. Ufa! Eis que surgiu até uma repescagem, sacada do bolso de Boninho como uma poderosa tábua de salvação, mas que só rendeu o ineditismo de termos um participante — o controverso Fred Nicácio — eliminado três vezes na mesma edição, ainda que fosse apontado algumas vezes como um dos favoritos ao prêmio.
E, por falar em favoritismo, a grande final desta terça-feira trará ao menos isto de novo: ao contrário das duas últimas edições, a gente não tem certeza absoluta de quem vai ganhar e a bolada que vai faturar. Certo mesmo, a grosso modo, é que o telespectador será premiado por virar esta página na quarta-feira — e sem precisar passar pelo programa do dia 101.
Liga
Nunca é demais ressaltar o sucesso que é Vai na fé. Produção leve e saborosa, mas que vem tratando com cuidado temas sérios e delicados, como a fé religiosa, o preconceito racial e o machismo estrutural. Na ala cômica, a coluna destaca a interpretação precisa que a veterana Renata Sorrah dá à sua Wilma Campos, mas também rende muitas palmas para a novata Clara Moneke, na pele da suburbana Kate. São duas gerações dando o nome.
Desliga
Há de se admitir que a insossa Travessia ganhou um certo tempero na reta final, com destaque para a pimenta do aprofundamento nas tramas dos adolescentes envolvidos em problemas contemporâneos causados pelo mundo on-line, como compulsão digital e pedofilia virtual. Mas, no geral, segue imperdoável o tratamento raso dado por Glória Perez à questão das fake news e a abordagem da tecnologia que definiriam a trilha da novela.
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