Bandidos na TV é a primeira aposta no setor de documentação criminal original do Brasil produzido pela Netflix, um filão que é um dos carros chefes da plataforma. O streaming tem como exemplos do gênero Making a murderer, Wild wild country e Gênio diabólico.
Além da marca pioneira, Bandidos na TV veio também para estabelecer um novo panorama de qualidade. A produção traça um linha narrativa muito bem desenvolvida abordando um enredo absolutamente curioso, com uma execução muito bem construída, que prende a atenção do telespectador, não só para o caso em si, mas especialmente para a forma como a história é contada.
Se por muito tempo as produções seriadas brasileiras “perderam” na comparação para as apostas gringas, Bandidos na TV talvez seja o ponto de flexão desse amargo histórico. Isso porque, dentro do leque de opções da Netflix para documentários criminais, Bandidos na TV não fica para trás das atrações americanas, pelo contrário. Entre Making a murderer, Wild wild country e Gênio diabólico, Bandidos na TV é a mais bem avaliada.
Em Bandidos na TV, o diretor Daniel Bogado escolheu contar a história de Wallace Souza, ex-policial militar, que, nos anos 1990, apostou em um formato de programa que se tornaria típico na programação da tevê brasileira: os boletins policiais. Indo até o extremo da violência, o apresentador comandou durante anos (entre a década de 1990 e 2000) o programa Canal livre. No Amazonas, a atração se tornou líder de audiência mostrando assassinatos horrendos e absurdos.
Hoje em dia, talvez o formato nem choque tanto — ou até mesmo tenha se tornado mais brando. Mas na época, Wallace virou um verdadeiro herói no Norte, com o não mais inédito discurso do “bandido bom, é bandido morto”.
À frente do Canal livre, Wallace ganhou fama o suficiente para acabar se tornando em um dos deputados mais votados do Amazonas em três eleições (1998, 2002 e 2006). Entretanto, a glória do homem que sempre lutou contra o crime, estava perto de ser abalada.
Isso porque Wallace passaria — por volta de 2008 — por uma acusação e tanto. Segundo investigações, o então deputado era acusado de ser o líder de uma organização criminosa que matava traficantes para ter material para o programa policial. Ainda de acordo com as acusações, o homem também buscava mais espaço para o narcotráfico em um estado chave para a entrada de drogas no país. É importante frisar que Wallace sempre negou as acusações.
A história de Wallace, por si só já daria um belo documentário. As memórias dos familiares, investigadores, amigos e até inimigos renderia um bom material digno de Hollywood. Entretanto, Bandidos na TV não para por aí.
O grande trunfo do documentário é mostrar a história de Wallace por peças. Isso porque o documentário vai acompanhando todo esse enredo assombroso de forma “lado do Wallace” e “lado da polícia”.
Na prática, em um momento o público está com toda a certeza da culpa do apresentador. Contudo, em outro instante, as informações levam todos a acreditarem que Wallace passa por uma forte perseguição política — como o próprio afirmou até a morte.
Esse verdadeiro quebra-cabeça de Bandidos na TV leva o documentário a ficar muito perto de um enredo entremeado de enredos. A história prende a atenção do telespectador além do tema, que já é muito curioso. A série é uma excelente pedida, com proposta eficaz e execução bem pensada.
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