Ator Augusto Gulum atua em duas séries que mostram mais de um lado da maconha, assunto ainda pouco discutido no audiovisual brasileiro
O grande número de séries jovens chegando ao streaming acaba trazendo à tona temas considerados tabus, o que acaba suscitando importantes discussões. É o caso de Temporada de verão (no catálogo da Netflix) e da segunda temporada de Pico da Neblina (segunda temporada aguardada no HBO Max), nas quais Augusto Gulum vive Caco e Joselo, respectivamente.
Em comum, as duas séries abordam o vício em drogas, mais especificamente em maconha. Augusto ressalta, porém, que os roteiros fogem do estereótipo e tratam o tema com coragem e responsabilidade.
“É muito importante abordar temas como esse. Falando especificamente sobre a maconha, existe muita desinformação e as pessoas cometem muitos equívocos. Acho legais essas abordagens porque não mostram somente o lado violento ou ruim da coisa toda, que sabemos que existe e deve, sim, ser considerado. Mas é importante ver, também, um pouco do outro lado da história. As duas séries mostram o uso da substância para fins medicinais e recreativos, sem hipocrisia, e acho que isso é um passo bastante promissor. Discutir o tema e mostrar diferentes realidades é fundamental”, defende o ator.
Além de poder levantar essa discussão, o Caco de Temporada de verão trouxe um lugar até então inédito para Augusto: o de vilão. A novidade agradou em cheio ao ator, pois “versatilidade é uma característica que quase todo ator quer, então, se eu puder exercitar isso, interpretando diferentes personagens em diferentes contextos, vou ficar muito satisfeito.”
Mesmo com tantas produções estreando no streaming e na TV aberta, além de espetáculos teatrais e filmes, a carreira de ator no Brasil é instável. Para enfrentar isso, Augusto conta com dois trunfos: é engenheiro de produção e, durante a pandemia, fundou a confecção Fuerza Latina.
“Quem pode viver somente da atuação representa uma parcela muito pequena da classe. Para conseguir espaço, o ator precisa ser produtor, roteirista, diretor, figurinista, professor e, por muitas vezes, praticamente, pagar para trabalhar. Isso que eu só citei funções envolvendo arte. Como atores, somos muitos garçons, motoristas, recepcionistas e por aí vai. Acho que, nesse sentido, a Engenharia de Produção e a minha formação técnica me proporcionam mais segurança e ações um pouco mais conscientes para conseguir encarar esse mercado de forma mais sólida. Porque é um mercado, uma indústria”, comenta.
Criativo e sem medo de investir, Augusto criou a Fuerza Latina com camisetas e bonés personalizados. A empresa funciona de maneira quase doméstica, no apartamento de um quarto que o ator aluga em São Paulo, espaço que ele tem que dividir com o maquinário e com o estoque. A Fuerza Latina nasceu da necessidade de pagar os boletos e da vontade de ter uma verba própria para investir em projetos culturais. Força para estar sempre recomeçando é o que parece não faltar a Augusto.