Por Pedro Ibarra
Uma surpresa do ano de 2022 na televisão foi a série Yellowjackets. A produção da Showtime, transmitida no Brasil pela Paramount+ , conta a história de um grupo de jovens que sobrevive a uma queda de avião e cria algo como uma organização social. Anos depois do trauma, vários mistérios ainda ficam em suspenso e os personagens, em sua maioria mulheres, já mais velhas, decidem investigar e responder questões que estão pendentes.
A série concorreu a sete Emmys, entre eles o de Melhor série de drama, mas o que pouco se sabe é que há um representante do Brasil no elenco. Kevin Alves, ator responsável pelo jovem Travis, na verdade, nasceu no Canadá, mas se naturalizou brasileiro para competir em patinação no gelo, por ter família brasileira. A carreira esportiva encerrou, mas, agora, pode-se dizer que tem um brasileiro em Yellowjackets, mesmo falando em inglês e sendo muito mais próximo da cultura norte-americana.
Kevin tem muito orgulho de poder representar o país mais uma vez. “Eu cresci na cultura brasileira e me sinto muito sortudo em poder trazer essa comunidade e esse contexto para as telas e representar esse povo, para que continuemos ganhando oportunidades no mercado internacional”, conta o ator.
Sobre o peso do sucesso, é taxativo: “Tento nem pensar tanto, para não sentir o peso nos meus ombros mais do que devo. Olhando para trás, eu aprecio poder representar o Brasil fazendo o melhor que posso”, diz o ator, que ainda não se sente preparado para atuar em português por não falar tão bem a língua. “Falo muito português com a minha avó, mas ainda preciso praticar um cadinho”, fala, em português.
Travis, como o próprio ator diz, é o “personagem mais odiado da série”. Uma figura complexada por não se sentir protagonista o suficiente. O jovem é mais presente nos flashbacks do período do acidente de avião, que, na história, se passa em 1996. O machismo da época, somado ao fato de a maioria dos sobreviventes serem do gênero feminino, traz um ar ressentido ao rapaz. “Travis é um jovem de 17 anos, criado em 1996, com as pressões que a sociedade impõe, em um lugar em que tem que lidar com o luto a todo momento. Ele processa as coisas com muita raiva, muito ódio. Tudo isso está muito fundo nele, ele tem dificuldade de expressar como se sente, por isso é tão misterioso.”
O personagem pode ser fruto do machismo estrutural, mas Kevin está muito feliz em dividir o elenco com grandes atrizes. “As mulheres dessa série brilham, eu não quero bloquear esse brilho delas. Muito pelo contrário, quero permitir que elas brilhem ainda mais”, diz o artista. “Quando percebi isso, como ator e homem, decidi que aprenderia e teria como referência várias dessas mulheres talentosas do elenco. A capacidade de atuação e a vulnerabilidade que trazem para a tela, eu só posso sentar na minha cadeira e observar para aprender”, complementa.
Kevin avalia a nova temporada de Yellowjackets como surpreendente e de um nível mais alto que a primeira. “A melhor forma de descrever essa temporada é como um mergulho mais fundo na história, da forma certa, no melhor ritmo e com o roteiro conduzindo toda essa narrativa. Para o amantes de mistérios, nós vamos continuar trazendo respostas e fazendo mais perguntas”, explica.
Para ele, Yellowjackets tem um algo a mais que a faz única. “Pensando no tema, várias outras histórias tocaram em ideias parecidas no cinema e na televisão, onde, inclusive, dá para encontrar similaridades. No entanto, o que Ashley (Lyle) e Bart (Nickerson) (criadores da série) fizeram foi mostrar, em formato de espelho, a dor de pessoas em períodos diferentes da própria vida. Independentemente se o ambiente é de sobrevivência ou em um futuro, em que estão tentando esquecer os traumas, a dor continua a mesma”, acredita o ator. “Eu estou surpreso como a série consegue dar o que você quer de formas que você jamais esperaria. Eles continuaram aumentando nível, eu penso muito em como eles vão conseguir continuar fazendo isso”, exalta.
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