Com Rodrigo Santoro à frente do elenco, 7 prisioneiros estreia na Netflix falando sobre trabalho escravo
O trabalho escravo de meninos num ferro-velho é o grande tema de 7 prisioneiros, filme de Alexandre Moratto que rodou importantes festivais do mundo e chega hoje ao catálogo da Netflix. Na trama, Luca (Rodrigo Santoro) comanda um esquema de trabalho análogo à escravidão, explorando jovens como Mateus (Christian Malheiros) e Samuel (Bruno Rocha).
Bruno conta que, apesar de o tema central do longa ser muito triste, Moratto achou “uma forma sensível” de condução e conseguiu “transpor a dor desses meninos de uma forma quase documental”.
“Samuel é um garoto que tem facilidade em acreditar nas pessoas. Ele beira a ingenuidade. Ele vem de uma cidade do interior, onde trabalhava na roça junto com Mateus e tem o sonho de conseguir juntar dinheiro para voltar e construir uma família. Mas quando ele chega a São Paulo vai entendendo que não dá pra confiar em todo mundo. Que os sonhos podem ser destruídos, e que a realidade esmaga. Samuel, que antes acreditava tanto na honestidade, no trabalho e no amor, vê tudo se desmanchando na frente dele”, comenta Bruno, em entrevista ao Próximo Capítulo.
O ator chama a atenção para a carga político social muito forte que 7 prisioneiros carrega. “O filme escancara uma realidade que acontece o tempo todo a nossa volta e ignoramos. Penso que, com 7 prisioneiros, as pessoas podem ficar mais atentas no que acontece ao redor delas, repensar as formas de consumo. Há tantas lojas enormes, vendendo roupas caríssimas que são produzidas por trabalho escravo. Eu acredito no poder de conscientização da arte, de dar a oportunidade de refletir e mudar atitudes”, afirma.
7 prisioneiros não é o primeiro trabalho de Bruno no streaming. Ele esteve também em 3% (Netflix), 13 dias longe do sol (Globoplay) e Psi (HBO Max) e comemora esse novo meio para atores poderem trabalhar.
“Assim como disse Wagner Moura, ‘o audiovisual no Brasil acabou’. Estamos vivendo um momento caótico no nosso governo atual. A arte e a cultura estão sendo banalizadas, tratadas sem importância, sendo que é fundamental para a construção de uma sociedade crítica, com voz, com expressão e com liberdade. Os streamings vieram com essa força, de movimentar novamente o mercado audiovisual, trazendo mais empregos. Mas, ainda assim, falta. Poderíamos produzir cada vez mais, ter o nosso cinema. O audiovisual gera muito emprego e devemos nos empenhar para que ele volte com força total”, afirma.
Duas perguntas // Bruno Rocha
A diversidade do streaming se reflete também em ter mais espaço para atores negros desempenharem papéis de destaque e com histórias próprias?
Quero ver cada vez mais pessoas pretas ocupando telas, teatros, museus. Somos contadores de histórias, nossas histórias são valiosas. Eu amo quando vejo um preto ou uma preta, representando um papel complexo, com aprofundamento e não personagens mastigados por uma sociedade inventada. É muito complicado falar de inclusão no mercado porque não adianta colocar uma pessoa preta em todo trabalho pra falar sobre racismo, sofrimento. Claro que isso existe, ainda mais na realidade que vivemos, e é incrível quando o filme funciona como denúncia, igual a 7 prisioneiros. Mas quando a trama é vazia, onde existem vários atores e atrizes brancos em núcleos riquíssimos e cinco negros numa comunidade ilusória, eu acho problemático. Sabemos falar de amor, amizade, família, dinheiro, sucesso. Somos plurais, não nos coloque todos dentro de uma caixinha.
Muitos chegaram a decretar a morte do teatro no início da pandemia, o que não aconteceu. O que ainda faz o teatro resistir?
O teatro não morre nunca, se reinventa. Agora estamos voltando a ocupar nossos teatros, mas no meio da pandemia nossas casas se tornaram palcos. Eu mesmo participei de uma montagem on-line chamada (IN) Confessavéis, dirigida por Marcelo Várzea, e conseguia sentir o frio na barriga antes de entrar em cena. Não é a mesma coisa, mas ver artistas se unindo para produzir teatro nas próprias casas foi emocionante. Enquanto existir artistas querendo se expressar, o teatro não vai acabar. Enquanto tiver histórias precisando ser contadas, pessoas querendo ser ouvidas, pessoas querendo escutar não vai acabar.