“Dar foco para o ensino é urgente!”, analisa Ariane Souza, de Segunda chamada

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A atriz vive Joelma na nova série da Globo, Segunda chamada, que estreia nesta quinta-feira (8/10), às 23h

No ano em que completa 20 anos de carreira artística, a baiana Ariane Souza vive um dos melhores momentos da trajetória. Nesta quinta-feira, ela estreia na nova série da Globo, Segunda chamada. Uma espécie de “Sob pressão da educação”, a produção aborda o dia a dia da turma noturna da Escola Estadual Carolina Maria de Jesus.

“Existe uma parcela muito grande da nossa população que entra no mercado de trabalho antes dos 15 anos, para ajudar na renda familiar, além disso, a pobreza e a desigualdade social são outros fatores que contribuem pra evasão escolar regular. É aí que os EJAS entram em ação! Dando uma nova chance para essas pessoas buscarem aprendizado, melhores oportunidades de trabalho e um futuro mais promissor. Dar visibilidade à essa realidade “invisível” é muito emocionante e instigante! Dar foco para o ensino, no momento em que vivemos, é urgente!”, analisa.

Na trama, ela é Joelma, uma das estudantes do EJA. A personagem tem personalidade forte e promete controlar grande parte da turma que tem ainda Rita (Nanda Costa), mãe de três filhos, Valquíria (Georgette Fadel), ex-presidiária, os irmãos Cleiton (William da Costa) e Gero (Sidney Santiago), o casal evangélico Márcia (Sara Antunes) e Pedro (Vinícius de Oliveira), e Aline (Ingrid Gaigher). “Ela meio que se acha dona da escola (risos). E fica bastante irritada quando as coisas fogem do seu controle. Não chega a ser mau caráter, mas sempre tentar salvar sua pele independentemente de qualquer coisa. Tudo isso com pitadas de humor!”, adianta.

Em meio a estreia de Segunda chamada, Ariane tem rodado o Brasil desde junho com a turnê do espetáculo O Frenético Dancin’ Days. Ela também poderá ser vista na segunda temporada de Ilha de Ferro, que estreia em 25 de outubro no Globoplay, e nos filmes Pluft, O Fantasminha e L.O.C.A.

Em entrevista ao Próximo Capítulo, Ariane Souza fala da estreia de Segunda chamada, da importância da série nos tempos atuais, além de fazer um balanço dos 20 anos de carreira, destacando o fato de ser uma atriz negra.

Entrevista // Ariane Souza

Como surgiu a oportunidade de integrar o elenco de Segunda chamada?
Fui convidada pela Vanessa Veiga, produtora de elenco, para fazer teste para a série. Ela apresentou meu trabalho para Joana Jabace, diretora da série, que gostou muito e eu entrei para o elenco!

O que você pode contar sobre a sua personagem Joelma?
Joelma é uma das alunas do EJA. Ela meio que se acha dona da escola (risos). E fica bastante irritada quando as coisas fogem do seu controle. Não chega a ser mau caráter, mas sempre tentar salvar sua pele independentemente de qualquer coisa. Tudo isso com pitadas de humor!

Joelma (Ariane Souza). Crédito: Mauricio Fidalgo/Divulgação

Segunda chamada é uma produção com foco no ensino noturno para adultos, um tema, talvez, inédito na dramaturgia. Para você, qual é a importância de retratar esse assunto com os dramas, problemas e superações na telinha?
Acho de extrema importância! E me sinto muito honrada de fazer parte de um projeto tão singular! Existe uma parcela muito grande da nossa população que entra no mercado de trabalho antes dos 15 anos, para ajudar na renda familiar, além disso, a pobreza e a desigualdade social são outros fatores que contribuem pra evasão escolar regular. É aí que os EJAS entram em ação! Dando uma nova chance para essas pessoas buscarem aprendizado, melhores oportunidades de trabalho e um futuro mais promissor. Dar visibilidade à essa realidade “invisível” é muito emocionante e instigante! Dar foco para o ensino, no momento em que vivemos, é urgente! A educação é a chave para a mudança de um país. Ela proporciona conhecimento, análise lógica e pensamento crítico, fatores essenciais para formação de um cidadão.

Você é uma artista bastante engajada. Para você, o audiovisual e a dramaturgia tem a função de debater assuntos importantes e atuais? E como é a melhor forma de fazer isso?
Com certeza! A arte em si é um agente transformador e como tal, ela deve conscientizar e discutir assuntos inerentes à nossa vida. A telenovela, por exemplo, traz situações que vivemos no cotidiano, muitas delas polêmicas. O
telespectador acaba traçando uma comparação entre a vida real e o que está sendo exibido, consequentemente ele passa a refletir e analisar as questões debatidas.

Você esteve em cartaz com o musical O Frenético Dancin’ Days, o qual você foi bastante elogiada. Como foi essa experiência para você? O espetáculo deve voltar aos palcos?
O Dancin foi um belo presente que recebi no ano passado! É a primeira direção teatral da Deborah Colker e ela me deu bastante liberdade para que eu construísse a Madalena com muito carinho, dedicação e atenção à cada detalhe. Fiquei muito feliz com o retorno que recebi sobre minha atuação, principalmente dentro do
Festival de Teatro de Curitiba, onde não existe uma tradição de apresentações de musicais. O espetáculo iniciou uma turnê pelo Brasil a partir do mês de junho. Estaremos em seis cidades, incluindo a minha: Salvador!!! Estou radiante de voltar pra casa com um trabalho tão especial!

No cinema, você gravou dois filmes. O que pode contar sobre eles e sobre a sua participação neles?
O primeiro foi Pluft, O Fantasminha, com direção da Rosane Svartman. Faço uma sereia cantora que se apresenta na taverna dos piratas. É o primeiro longa infantil brasileiro que usa a tecnologia 3D! A previsão de estreia é para o segundo semestre deste ano. Não vejo a hora!! O outro foi o L.O.C.A, dirigido pela Claudia Jouvin, onde interpreto a Bia, uma editora de moda. Primeiro personagem que faço que está inserido no mundo da moda. Fiquei tão apaixonada pelo figurino que muitas peças passaram a fazer parte do meu armário! (risos)

Você está completando 20 anos de carreira, de uma trajetória que perpassa pelos palcos, pela tevê e pelo cinema. Que balanço faz da sua carreira?
É muito louco pensar que este ano estou completando 20 anos de carreira tendo 32 anos de vida! Mas desde muito nova a vida artística esteve presente em meu caminho, primeiro com o balé , depois com a música e finalmente o teatro. E tudo aconteceu de forma muito natural! Eu me formei em artes cênicas na UFBA, onde tive grandes mestres que me prepararam não só para atuar, mas também à ter ética e comprometimento com o meu trabalho. Isso me possibilitou sair de Salvador em busca de novos horizontes para minha carreira. Tive grandes surpresas dentro desses 20 anos, como ter coragem de ficar longe da minha família, fazer televisão, que era algo que não estava nos meus planos, trabalhar com pessoas que eu admiro, passar entre safras gigantescas e pensar em desistir. Mas sabe de uma coisa? Não mudaria nada do que vivi até aqui! Eu amo ser atriz!

Quais ainda são os seus sonhos artisticamente falando?
Nossa…os sonhos são infinitos!!! Quero fazer tanta coisa ainda… Mas a curto prazo quero fazer um solo teatral, fazer mais cinema e quem sabe investir mais na minha carreira de cantora.

Crédito: Sérgio Santoian/Divulgação

Sendo mulher negra, como você vê a representatividade hoje? Quais são os maiores desafios e os maiores méritos até agora?
A representatividade feminina é minoria em praticamente todos os setores da sociedade, a representatividade feminina negra é minoria da minoria! Já fui uma criança negra que não tinha uma princesa da Disney que parecesse comigo, uma pré-adolescente negra que relaxava os cabelos pra se “disfarçar” perto dos meus colegas de colégio particular, uma adolescente negra que não encontrava um sutiã “cor da minha pele”. Sei exatamente a dor do não pertencimento. É inegável que podemos enxergar uma melhora no cenário atual, no que diz respeito à representatividade. É maravilhoso saber que minha filha poderá ter uma boneca parecida com ela, que a indústria de cosméticos disponibilize no mercado produtos para o meu cabelo, maquiagem para o meu tom de pele… Porém para que cheguemos na tão sonhada igualdade racial, ainda teremos um caminho árduo pra percorrer. A tevê, o teatro, o cinema e a publicidade são um retrato da sociedade. O Brasil é o país que tem a maior população negra fora da África e definitivamente ainda não é assim que somos retratados. Ainda precisamos chegar no momento onde eu, ou qualquer outra atriz negra iremos fazer teste para qualquer personagem, não só para aqueles que coloquem no perfil “mulher negra”.

Vi em suas redes sociais que você fez uma participação especial na segunda temporada de Ilha de Ferro. O que pode contar sobre essa ponta?
Fiz uma enfermeira. A participação foi pequena, em um episódio apenas. Mas foi muito importante pra que eu me familiarizasse com a dinâmica de gravação de uma série, que é completamente diferente de uma novela.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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