Anna Hartmann: “A arte deve tocar nos lugares que as pessoas normalmente se abstêm”

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Gaúcha Anna Hartmann estreia em Reality Z, da Netflix, enquanto dá pontapé em carreira no mundo das séries

A atriz gaúcha Anna Hartmann iniciou a carreira no mundo da atuação nos palcos, onde teve experiências com grandes nomes, como Zé Celso, do Teatro Oficina, e Maria Alice Vergueiro. “Com ela, aprendi que poderia ser radical nas minhas proposições. Descobri a beleza do grotesco, a potência da sombra humana, a infinitude criativa do inconsciente, que é amoral. Maria Alice carregava em cena a totalidade do ser humano, tinha a presença de uma grande rainha xamã. Assim, tracei uma trajetória muito afinada com a minha intuição de que a arte deve tocar nos lugares que as pessoas normalmente se abstêm”, conta, em entrevista ao Correio.

Essa trajetória no teatro a levou a alçar voos também na televisão. A estreia foi em 2018 na supersérie Onde nascem os fortes, da Globo. Na época, deu vida à versão mais jovem da engenheira química Cássia, uma das protagonistas vivida por Patrícia Pillar. Depois, foi convidada para atuar em #MeChamadeBruna, série da Fox. Até que, neste ano, estreou em Reality Z, seriado brasileiro da Netflix que tem como premissa acompanhar um grupo de participantes de um reality show, intitulado Olimpo, confinado em meio a um apocalipse zumbi. Na trama, ela é uma das personagens principais: a estagiária Nina, uma espécie de faz-tudo da equipe do programa. É ela quem percebe que esse isolamento proporcionado pela atração pode ser a salvação do caos.

Anna revela que a preparação para a série foi bem natural e similar ao trabalho que ela costuma fazer em outras obras. “Tenho um modo de preparação que passa por uma análise do autor, em comum com a minha realidade. Fazendo esse trabalho estrutural, posso permitir que, na hora da cena, meu inconsciente criativo seja ativado plenamente. Mas a preparação do ator se dá em todos os minutos, todos os momentos da sua vida, dentro e fora de cena”, explica.

A atriz também estará em Hard, produção brasileira que estreou neste ano na HBO e que retrata a história de uma mulher que herda, após a morte do marido, uma produtora de filmes pornô. Na história, Anna é Cecília. Ela ainda não pode divulgar muitos detalhes, porque a estreia dela na narrativa ainda está sem previsão. Isso porque o seriado teve as três temporadas já confirmadas gravadas antecipadamente. “Os capítulos dos quais participei em Hard ainda não foram lançados, e não sei a previsão de estreia.”

Antes de se tornar atriz, a gaúcha Anna cursou direito. Durante o estudo, percebeu que deveria se dedicar à arte. “O direito oferece reparações, normatiza o convívio, prevê punições, busca organizar a sociedade de forma a torná-la previsível. Mas o meu interesse sempre foi pelo que não pode ser nominado, organizado, previsto, julgado ou simplificado. Foi o mistério do teatro que me chamou. A capacidade dos grandes atores de se comportarem como outra pessoa, serem veículos de outra realidade.”

» Quatro perguntas // Anna Hartmann

Crédito: Fernando Piccoli/Divulgação

Você teve experiência no Teatro Oficina com Zé Celso como tradutora. O quão importante foi essa experiência?
Traduzir bem um texto significa se apropriar de um sistema de pensamento. Ou seja, já estava ensaiando para entrar no palco como atriz (risos). Estar no Oficina me impulsionou e me impulsiona até hoje. Estar lá me confirmou que a paixão que eu tinha pelo teatro era compartilhada. Pela primeira vez na vida, eu me sentia em um lugar em que pulsavam as mesmas energias.

Como tem sido a repercussão do trabalho em Reality Z?
Tenho recebido feedbacks positivos de pessoas que admiro muito e que são referências para mim. O mais incrível tem sido o carinho do público brasileiro e estrangeiro. Tenho um fã clube na República Dominicana. É surreal de lindo. Eu tô curtindo muito essa fase de criar conexões.

Você tinha projetos à vista, ou em processo, que foram inviabilizados pela pandemia?
Sim. Estou em um filme, como atriz, que foi paralisado, sem previsão de retorno. Também estava a caminho de dirigir meu próprio curta-metragem. No teatro, tinha, ao menos, dois projetos em andamento. Por enquanto, não foram inviabilizados, mas estão suspensos. Para o momento atual, estou em construção de um solo a ser transmitido on-line. É impossível ficar longe da cena.

Como tem sido a quarentena para você?
Meus dias têm sido de muita atenção para a qualidade que trago para o momento presente. Desenvolvi uma relação melhor com o meu corpo e com o meu dia a dia. Ao mesmo tempo, criei um espaço para a projeção de outras formas de conexão com o meu trabalho. Estou estudando muito, escrevendo muitos projetos, debruçando-me sobre o que realmente quero e preciso dizer para o mundo no momento.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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