Descobrir quem é o assassino é um mote que nos encanta em séries, novelas e minisséries há muito tempo. Difícil é trazer essa questão de maneira diferente. A minissérie Cruel summer (Amazon prime video) consegue. Tal como na nossa tupiniquim A favorita (novela de João Emanuel Carneiro disponível no Globoplay), somos apresentados a duas versões para a mesma história e oscilamos entre saber quem é a mocinha e quem é a vilã do caso.
Cruel summer se passa entre os verões de 1993 e 1995. Tudo começa quando Jeannet (Chiara Aurelia) completa 15 anos em plena crise existencial. Ela quer mudar de vida e sente inveja da popularidade de Kate Wallis (Olivia Holt). O problema é que Kate some misteriosamente e logo esse caso é ligado à ação de um serial killer. Quando ela reaparece, Jeannet já mudou de vida e está bem popular — usando uma falsa proximidade entre as duas como trampolim. Só que Kate acusa Jeannet de ter uma participação no sequestro dela em rede nacional de televisão num programa que lembra Casos de família.
Daí, a cada episódio vemos uma versão. Elas são apresentadas com uma riqueza de detalhes que a gente tende a acreditar no que está vendo, a duvidar do que acabou de ver no episódio seguinte e a retomar o raciocínio no próximo capítulo. Uma reviravolta no sétimo episódio (são 10 no total), porém, nos põe mais próximos do fim do mistério. Ou não…
É interessante notar o importante papel que o pai de Jeannet, Greg Turner (Michael Landes), e a mãe de Kate, Joy Wallis (Andrea Anders, excelente no papel), têm em Cruel summer. Eles defendem as meninas com muito fervor, não desistem nunca, mas têm “métodos diferentes”. As atrizes Chiara Aurelia e Olivia Holt estão muito bem em cena, o que não facilita em nada nossa “investigação paralela”. A fotografia, que vai azulando conforme o verão de 1995 se aproxima, também é um destaque.
Cruel summer nos traz a incômoda impressão de que aceitamos a primeira versão dos fatos de cara, deixando a outra parte à deriva, sem a chance de se explicar. Tomamos nossas verdades como absolutas e, no cúmulo da arrogância humana, não registramos o que não corrobora nossas ideias. A série policial nos mostra que nem sempre é assim que devemos agir, que somos todos anjos e demônios. Coisa difícil de se aceitar em tempos de polarização em vários âmbitos da sociedade.
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