Pedro Ibarra
De 2006 a 2013, as artes marciais mistas (MMA) tiveram um lutador amplamente dominante: Anderson Silva. Nascido em São Paulo e radicado em Curitiba, o lutador defendeu 10 vezes consecutivas o título de campeão dos pesos médios no maior torneio de MMA do mundo, o Ultimate Fighting Championship (UFC). Porém, a luta do brasileiro, que a cada soco representava milhões de sonhadores, foi muito além dos octógonos e é contada em Anderson Spider Silva, nova série da Paramount .
A série tem um elenco de peso com Seu Jorge e Tatiana Tibúrcio fazendo os tios de Anderson, que é interpretado em três fases diferentes por William Nascimento, Bruno Vinicius e Caetano Vieira. Completam o elenco Douglas Silva, Iza Moreira, Jeniffer Dias, Larissa Nunes, Livia Silva, Milhem Cortaz, Vaneza Oliveira e o brasiliense João Ricken. “Eu só tenho a agradecer a todos os atores, a William, e eu acho que a gente vai conseguir fazer com que as pessoas se sintam conectadas com a série. A gente conseguiu entregar algo que provavelmente vai ser muito inspirador para muita gente”, clama Anderson Silva em entrevista ao Próximo Capítulo.
A narrativa acompanha a história de Anderson Silva da primeira vez em que pisou em um tatame até os octógonos mais televisionados do mundo. No entanto, os eventos esportivos milionários não são o foco do seriado, mas, sim, a trajetória de um dos maiores atletas da história do MMA. “A série não é sobre a luta, mas a superação, o amor da família. Além de ser sobre se colocar em condições de criar oportunidades melhores para que você possa seguir em frente”, afirma o ex-campeão mundial.
Intérprete do Anderson Silva na maioria das cenas, William Nascimento entende a importância do que está fazendo. “É uma responsabilidade muito grande você estar dando vida a um ídolo mundial, mostrar suas fragilidades, mostrar sua vida, além da luta, no caso do Anderson Silva”, diz. Ele acredita que levou ensinamentos da série para a vida. “A série nos ensina a não desistir dos nossos sonhos, fala sobre amor, afeto, sobre família, sobre o amor de uma família preta, que dá toda uma base para o Anderson Silva. Ensina a não desistir dos seus sonhos, a perseverar, a realizar tudo”, conta.
A série mistura a ação do UFC, com os dramas da vida de Anderson, contada de forma leve. “Como é uma história de família, eu achava essencial a gente fazer uma história para a família. Para que todo mundo possa sentar, pegar uma pipoca e ver. E o material que o Anderson fornecia era muito esse”, explica Marton Olympio, criador da produção. “É uma obra muito importante em vários aspectos, que consegue passar de forma inteligente por várias pautas delicadas, principalmente o racismo. E faz isso de maneira muito sagaz, tem tudo para emocionar”, complementa João Ricken, que vive Marco, um antagonista do primeiro episódio.
Um dos fatores cruciais da história é a forma como ela consegue ir além. “Quando as pessoas insistem de que é uma narrativa negra, eu falo, não, não é uma narrativa negra, é uma narrativa brasileira. Porque a narrativa negra, na verdade, é a brasileira”, diz Marton. “A gente precisa sair do nicho das narrativas brancas, que são consideradas brasileiras, para contar essas narrativas um pouco mais plurais. Eu acho que é exatamente sobre isso”, diz o criador, que vê um forte poder de identificação: “Essa poderia ser a história de qualquer outro menino preto do Brasil”.
Não há pretensão de mudar o mundo, mas Anderson Spider Silva é uma dessas produções que acredita no poder transformador da arte. “Eu acredito na força do audiovisual como transformador, como algo que possa mudar corações e mentes das pessoas”, afirma Caíto Ortiz, diretor da produção. “É por aí que a gente forma. Não é o único caminho, mas, certamente, é um dos grandes caminhos para formar um coletivo, uma identidade de população”, complementa o cineasta.
“Eu acho que a gente está filmando alguns homens pretos aí sem agência. Você vê o filme todo, o cara não tomou uma decisão, o cara não errou, o cara não acertou, o cara apenas está sendo conduzido por outras pessoas brancas. Essa é a minha preocupação”, acrescenta Marton, que vê como imprescindível o trabalho que fizeram de dar protagonismo real à negritude na série. “Mesmo quando a decisão não é dele, vem alguma pessoa preta e fala: ‘Cara, vamos por aqui’. Eu acho que essa talvez seja a grande diferença também, a gente criar potências e construir biografias de pessoas pretas e que sejam pessoas que tomam decisões na vida. Porque eu acho que isso a gente não está vendo muito”, reflete.
Do outro lado do protagonista, no primeiro episódio, está um adolescente maldoso e irritante, que usa do racismo para atacar a honra e a dignidade de Anderson. Esse intenso papel fica a cargo do doce ator brasiliense João Ricken, estreante no streaming vivendo Marco. Muito importante para o primeiro episódio, o artista recebeu elogios até do próprio Anderson Silva pela interpretação. “É uma coisa muito gratificante fazer um personagem que é inspirado na vida desse grande ícone e receber de volta um elogio, é realmente muito bom, estou muito feliz”, conta João que é formado em artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB) e mestrando na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O jovem Marco é um elo essencial que une os flashbacks da adolescência de Silva com uma das lutas mais emblemáticas da carreira do atleta: o primeiro embate contra Chael Sonnen. O mais interessante é que foi por meio dessa luta que Ricken teve o primeiro contato com o MMA. “A primeira vez que eu vi uma luta de UFC foi a emblemática e dramática disputa entre Anderson Silva e Chael Sonnen. É muito interessante que o meu personagem acaba sendo essencial para a costura do episódio justamente sobre essa luta”, lembra.
Muito satisfeito com a estreia na telinha, mesmo que apenas em um episódio, João se sente representando Brasília, mas, mais que tudo, realizando um sonho. “Estrear no streaming é uma realização imensa, tanto pessoal quanto algo que transcende essa esfera. Uma alegria intensa para todos que me acompanharam e fizeram parte dessa história. Desde a minha mãe, que nunca botou nenhuma restrição para eu seguir meus sonhos; minha irmã, que me levou ao teatro pela primeira vez aos 3 anos de idade; até todos os professores e colegas, tanto de estudo e trabalho, que eu tive e me incentivaram”, comenta.
“Eu me sinto representando Brasília. Quando era criança e adolescente na cidade, sentia que era um caminho muito distante e não entendia por que meios eu ia conseguir tornar isso meu ofício principal e ainda estou descobrindo isso aos poucos. Porém, hoje já parece uma realidade muito menos distante”, completa.
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