Débora Falabella e Adriana Esteves brilharam em Avenida Brasil | Crédito: Globo/Divulgação.
Patrick Selvatti
Fruto de diversas especulações e opiniões extremadas por parte do público e da crítica, a decisão da Globo de apostar em uma continuação de Avenida Brasil, sucesso absoluto de João Emanuel Carneiro que a emissora produz e exibiu em 2012, como tem se ventilado há alguns dias, representaria um gesto ousado e calculado — a tentativa de unir nostalgia e relevância. Mais do que reviver um sucesso de audiência, a emissora tocaria em um fenômeno cultural que moldou o imaginário popular brasileiro, conciliando a força do melodrama clássico com a urgência de temas contemporâneos.
A volta de personagens icônicos como Carminha (Adriana Esteves), Tufão (Murilo Benício) e Nina (Débora Falabella) permitiria explorar, com maturidade, o que acontece depois da catarse da vingança — o que resta quando o país e seus heróis precisam lidar com a reconstrução.
Ao mesmo tempo, o projeto seria um desafio estratégico: como atualizar o DNA de um folhetim que marcou época sem cair na armadilha da repetição? Para o Próximo Capítulo, a resposta estaria na nova geração — em figuras como Ágata (Anna Karolina Lannes), a filha caçula de Carminha e o falecido Max (Marcello Novaes), criada por Tufão, tornando-se a primeira mocinha gorda do horário nobre.
Para enriquecer a personagem, a proposta seria criar a figura de dois homens em seu entorno: Davi, ex-órfão do Lixão que se torna um jovem jogador de futebol aspirante, negro e ético em um universo ainda dominado pela aparência e pelo poder, representada pela imagem de Maurício, um jovem empresário ambicioso que volta o olhar para o Divino, ambicionando transformar o bairro em um paraíso imobiliário.
Assim, com Avenida Brasil — Filhos do Divino, a Globo sinalizaria uma transição de paradigmas: do espetáculo da vingança para o drama da permanência, do Brasil em fúria para o Brasil em busca de sentido.
Se a primeira novela falava de vingança e perdão, esta nova fase trata de autoestima, verdade e pertencimento. O que acontece quando o progresso tenta apagar as raízes de um lugar e de quem o construiu? O Divino, mais uma vez, vira metáfora do próprio Brasil: um lugar onde todos tentam provar seu valor diante de um sistema que ainda favorece os mais espertos.
Avenida Brasil chega ao fim atingindo público de variadas classes sociais
Passaram-se 15 anos. O Divino mudou, mas continua com o mesmo coração pulsante. Onde antes havia o boteco do Silas (Ailton Graça), agora há um bar gourmet comandado por Darkson (José Loreto), que também administra duas academias. O velho campo de futebol deu lugar a um centro esportivo municipal com o nome de Tufão. Agora há empreendimentos, prédios, shopping center, mas a desigualdade, o desejo de ascensão e o jogo de poder continuam. O bairro está em processo de “revitalização”, com condomínios de luxo que começam a cercar as casas antigas, e a disputa entre modernidade e tradição se acirra.
Tufão agora é comentarista esportivo, ficou viúvo de Monalisa (Heloísa Perissé), e dedica-se a manter o centro esportivo comunitário que mantém em sociedade com Adauto (Juliano Cazarré). Jorginho (Cauã Reymond) e Nina tocam uma vida simples: ele treina meninos da comunidade, ela comanda um restaurante de comida afetiva e dá aulas de culinária. Já Carminha, após cumprir pena, vive discretamente e se dedica a um projeto social de reabilitação feminina, tendo Zezé (Cacau Protásio), agora repaginada, como assessora — mas ainda carrega o fantasma do passado e uma ambiguidade constante: ninguém sabe se ela realmente se regenerou ou se apenas aperfeiçoou o disfarce. E Ágata, a menina apagada de antes, agora é uma mulher jovem, de 26 anos, formada em administração e sonhadora, mas insegura, tentando provar que é mais que “a filha de Tufão e da Carminha”.
Influenciadora plus size, Ágata é gentil, inteligente, divertida e de uma sensibilidade fora do comum, mas também marcada por uma vida inteira ouvindo que não era “bonita o suficiente”, “forte o suficiente”, “importante o bastante”. Ela vive um amor sincero, desde a adolescência, com Davi (Cauê Campos), ex-morador do Lixão, um jovem negro, jogador de futebol promissor, ético, educado, carismático — o oposto dos “machos de novela” convencionais. Mas o amor deles sofre preconceito dentro e fora do bairro.
É quando surge Maurício Duarte (Pedro Novaes, filho de Marcello Novaes), um jovem empresário sedutor de 30 anos que se apresenta como investidor social disposto a modernizar o Divino com um projeto de “revitalização sustentável”. O que ninguém sabe é que Maurício é, na verdade, filho ilegítimo de Max, nascido de um caso quando já estava com Carminha. Ou seja, meio-irmão de Ágata e Jorginho. Casado com Paloma (Bruna Griphao), a filha caçula de Cadinho (Alexandre Borges) — seu sócio — com Alexia (Carolina Ferraz, agora na concorrência, só citada), Maurício vê em Ágata a oportunidade perfeita: aproximar-se da herdeira de Tufão para manipular os negócios da família e assumir o controle do centro esportivo, que vale milhões em terreno.
Mas Maurício prefere agir nas sombras — e escala Gael (Felipe Ricca), um belo modelo aspirante a influenciador digital, para seduzir Ágata. Carismático, sensível, atencioso… e completamente comprado, Gael se infiltra no cotidiano dela e, por um tempo, parece genuíno. Ágata, carente e cansada de se sentir invisível, se entrega ao romance, se afastando de Davi.
Ao mesmo tempo, Maurício se encanta por Nina e rivaliza diretamente com Jorginho, seu outro meio-irmão., que se envolve com os moradores ameaçados de remoção das casas e começa a liderar um movimento de resistência, reacendendo sua veia rebelde e provocando tensão com Nina, que teme reviver o caos do passado ao mesmo tempo em que pressente um desgaste no casamento que ocorre justamente quando ele se aproxima da ativista Laura (Alice Wegman).
Por sua vez, Carminha vê na proposta da construtora uma chance de ascender novamente. Ela se aproxima de Maurício e passa a trabalhar para ele, disfarçando suas intenções. Aos poucos, descobre que o projeto é uma fachada para lavagem de dinheiro. O dilema: ela pode expor tudo — e se redimir de vez — ou se vender de novo por poder.
Mas é claro que Carminha pressente algo errado. Ela, que conhece melhor que ninguém os métodos de manipulação, percebe em Maurício o mesmo olhar de Max — e começa a investigar. Ao descobrir a verdade sobre a paternidade dele, ela decide agir à sua maneira: fingindo estar do lado de Maurício, enquanto tenta, por baixo dos panos, proteger Ágata e revelar a verdade. Enquanto isso, Nina se torna mentora de Ágata e uma figura materna real — o contraponto moral de Carminha. Quando descobre o esquema, entra em confronto direto com Carminha — agora não por vingança, mas por princípios.
Já Tufão se vê diante de uma disputa amorosa: de um lado, a doce Dora (Karine Telles), enfermeira do posto de saúde do Divino, que cuidou discretamente dele durante o luto; do outro, Antonella (Paolla Oliveira), uma repórter de tevê estilosa, articulada e envolvente. No meio da trama, veremos que uma delas está sendo manipulada por Maurício para influenciar e trair Tufão, e o público não saberá quem é — em uma nova alusão ao clássico de João Emanuel Carneiro, A favorita.
Enquanto isso, Tufão e Jorginho tentam salvar o centro comunitário do esquema de corrupção, e ambos são acusados publicamente de serem os mentores dos desvios. O clímax ocorre quando Carminha sacrifica a própria liberdade para expor os crimes de Maurício e da verdadeira traidora de Tufão — Dora ou Antonella — , em um gesto que mistura vingança e amor.
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