“O bichinho da tevê me mordeu”. É assim que a atriz Ana Barroso define o momento atual da carreira. Mais conhecida pela trajetória no teatro, com passagem pela escola Tablado e companhias teatrais como BB Cia. de Teatro (da qual ainda faz parte), ela está atualmente no elenco da novela O outro lado do paraíso. Na trama, ela é Isabel, a mãe de Melissa (Gabriela Mustafá) e mulher de Raul (Genésio de Barros).
O núcleo da personagem passou por uma reviravolta nos mais recentes capítulos. Tudo porque Melissa se separou do marido Diego (Arthur Aguiar), por conta dos problemas sexuais do casal e a conselho da mãe Isabel. A movimentação rendeu boas cenas para o núcleo, inclusive, para Eliane Giardini, que faz Nádia, a mãe de Diego. E ainda renderá muito mais, já que Melissa irá para um bordel em busca de perder a virgindade.
Este é o segundo papel de Ana Barroso na telinha em que vive uma mãe que precisa lidar com “filhas problemáticas”. Ela também esteve na minissérie Verdades secretas, em que viveu Divanilda, a mãe da personagem Larissa, papel de Grazi Massafera, uma viciada em crack. “Sou mãe de um jovem também, já trago alguma bagagem nesse sentido, mas é importante estar disponível fisicamente e emocionalmente para uma história que está sendo contada”, definiu.
Ao Próximo Capítulo, a atriz falou sobre a novela e também sobre a experiência no teatro. Leia abaixo!
Em seus trabalhos mais recentes na televisão, Verdades secretas e O outro lado do paraíso, você interpretou mães que tinham uma grande influência nas filhas que acabaram seguindo caminhos inesperados. Como foi e tem sido para você interpretar papéis que demandam essa carga?
Pois é, mais uma mãe de filhas problemáticas! Em ambos os casos tive a sorte de trabalhar com uma equipe incrível e a sinopse já deixava claro que tudo poderia acontecer com essas filhas. Em Verdades secretas, a Divanilda era uma mãe oportunista e amoral, mas trabalhamos para fazer dela um ser humano, com suas contradições, culpas e, acima de tudo, um amor de mãe. Ela não hesita em buscar a filha Larissa, lindamente interpretada pela Grazi, na cracolândia, e faz isso por amor, mesmo que seja um amor controverso. Em O outro lado do paraíso, a Isabel é uma mãe super protetora, que criou a filha para ser feliz, bem casada, só que as coisas não acontecem como o planejado. Fui muito feliz nesses trabalhos, tudo contribuiu para essa construção, a direção do Maurinho, o texto do Walcyr…. Sou mãe de um jovem também, já trago alguma bagagem nesse sentido, mas é importante estar disponível fisicamente e emocionalmente para uma história que está sendo contada.
O outro lado do paraíso tem sido uma novela que está movimentando o público e você faz parte de um núcleo que acaba de passar por uma reviravolta com a separação da Melissa e a ida dela para o bordel para perder a virgindade. O que pode contar sobre esse enredo? Qual será a função da sua personagem nesse período?
A Isabel é uma mãe dedicada e super protetora. Imagina como ela vai sofrer com essa loucura da Melissa de ir para um bordel! Com certeza ela não vai abandonar a filha. Acho que a nossa família ali é um exemplo de cuidado e carinho pelos filhos. O Walcyr tem uma criatividade insuperável e está abordando o tema com muito cuidado, tudo ainda pode acontecer. Vão vendo…
Você tem bastante experiência, como tem sido atuar lado a lado com Gabriela Mustafá, que faz parte da nova geração de atrizes da televisão?
A Gabi é super disciplinada e concentrada no set, uma parceira excelente de trabalho, conversamos sobre as cenas antes de gravar, e logo nos entendemos na oficina preparatória. Temos a sorte de ter o Genézio de Barros como pai dessa família, um ator completo com várias novelas no currículo. É uma troca deliciosa, me sinto meio mãezona mesmo, mas, ao mesmo tempo, com um frescor de iniciante. Ainda tenho muito que aprender na televisão.
Verdades secretas foi uma série que teve muita repercussão na internet. Como você vê esse feedback dos fãs pelas redes sociais? Gosta? Acha que enriquece o trabalho de vocês?
É verdade, e eu nem tinha consciência disso… Na época, nem tinha Instagram! Sou meio atrasada nesses meios… (risos). Fui aprendendo com os jovens e hoje já me considero mais esperta, mas não sou dependente disso, senão piro, não tenho tempo para acompanhar essa velocidade, é tudo muito rápido, é uma linguagem que eu não domino. Vou mexendo e aprendendo a interagir. É interessante, mas nós atores somos uma das pontas dessa cadeia…. Imagino que os autores e os diretores sofram muito mais essa pressão das redes, a ponto de mudar os rumos da história. É um retorno imediato, para o bem ou para o mal. Pessoalmente, acho divertido, tenho recebido mensagens carinhosas, mas procuro não me expor demais.
Conte um pouco como foi o seu início no Tablado? Quais lembranças guarda dessa época?
Frequentei muito o Tablado quando criança. Meu pai era primo da Maria Clara Machado (escritora, dramaturga e fundadora da escola de teatro do Rio de Janeiro, Tablado), ela é minha madrinha de batismo, e ele me levava com meus irmãos para ver todas as peças que estavam em cartaz, Pluft, o fantasminha, Cavalinho azul, Tribobó city. Era uma delícia… Aí na adolescência busquei de novo o Tablado, dessa vez como aluna, e me envolvi completamente. No primeiro ano de aulas já me convidaram pra fazer parte de um grupo amador com a Fabrízia Pinto, filha do Ziraldo, montamos o Flicts para apresentar em comunidades carentes e ensaiávamos na garagem da casa dele. Eu tinha 15 anos e já levava aquilo a sério, participava de montagens. Me encantei com todas as etapas de uma produção teatral. O Tablado abriu minha cabeça para o mundo e me abriu as portas para uma profissão. Com 18 anos já tinha meu DRT. O teatro ainda não era uma moda, ninguém pensava em ser famoso, em fazer televisão, aquele espaço nos bastava… Fui contemporânea da Andrea Beltrão, da Fernandinha Torres, do Ernesto Piccollo (que me convidou para o Flicts), da Catarina Abdalla e outros colegas tão queridos. Hoje o meu filho virou “tabladiano” também, junto com outros filhos daquela geração.
Você teve experiência na Itália com o grupo Teatro Due Mondi. Como foi essa experiência? Quais aprendizados dessa época você leva até hoje em seus trabalhos?
Na época, eu era integrante do Centro de Demolição e construção do Espetáculo, grupão dirigido pelo Aderbal Freire Filho, que teve seu auge entre 1989 e 1995. Por meio de um projeto de intercâmbio tive acesso ao trabalho de grupos de fora que trabalhavam com teatro de rua, técnicas de clown, máscaras e outros recursos que me interessava aprofundar. Fui na cara e na coragem, escrevi para o grupo me oferecendo como estagiária, faz-tudo, topando qualquer parada…. (risos). E foi maravilhoso! Eles me acolheram como uma mascote, ajudava em tudo, no final participei de espetáculos de rua, em pernas de pau, aprendi a tocar sanfona, voltei cheia de convicções e mergulhei de cabeça no teatro do grupo aqui no Rio. Na verdade, serviu como uma confirmação de tudo que eu acreditava. Carrego comigo essa experiência em todos os trabalhos, a ética e o empenho do ofício teatral, a disciplina, a generosidade do trabalho em grupo, minha conduta é muito pautada nesse aprendizado. Sem dizer que fiz amigos para toda a vida.
Você está tocando algum projeto paralelo à novela, como teatro ou cinema?
Sim, nunca paro com o teatro… Diminuo um pouco o ritmo durante as novelas, mas estou sempre envolvida com o trabalho da BB Cia. de Teatro, com minha parceira Monica Biel, somos uma dupla de clowns com 28 anos de parceria e mais de 10 espetáculos no repertório. Já rodamos todo o país com nosso trabalho e ganhamos diversos prêmios de teatro infantil. Ainda tenho fôlego e prazer de trabalhar para crianças. Temos uma temporada agendada para o mês de junho no Teatro Glaucio Gill, e depois faço uma temporada de Vianinha conta o último combate do homem comum, um clássico do Vianinha, dirigido pelo meu mestre Aderbal com quem continuei trabalhando todos esses anos. Será no Teatro Nelson Rodrigues, no Rio. Participei de um longa O sonho de Rui, com direção do Cavi Borges que está em fase de montagem e, claro, adoraria fazer outras novelas…. O bichinho da tevê me mordeu… (risos).
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