O riso e a reflexão, a gargalhada e as lágrimas — está tudo junto na segunda temporada da série Filhos da pátria, em que Alexandre Nero vive o protagonista Geraldo Bulhões. Nesta temporada, a família Bulhões está nos primeiros anos da década de 1930, em contraponto aos anos 1820 da leva inaugural da série da Globo.
Com muito humor, Filhos da pátria diverte e critica ao mesmo tempo. Na estreia, terça passada, o texto de Bruno Mazzeo fez referências claras a Jair Bolsonaro e a Dilma Rousseff. “A grande brincadeira da série é essa: a graça e a desgraça estão no mesmo ponto. A graça da série é que verificamos que estamos parados no mesmo lugar há anos. A desgraça, não da série, mas do país, é que verificamos que estamos parados no mesmo lugar há anos. Patinando sem sair da mesma poça de lama”, afirma Alexandre em entrevista ao Correio.
Qual é a principal diferença desta temporada de Filhos da pátria para a anterior?
Acho que os autores estão mais afiados em relação à crítica. Falam de corrupção de uma maneira mais ampla, não apenas a que envolve dinheiro, mas em burlar as leis, por exemplo. Nessa temporada entra também na questão da moral e dos bons costumes mais a fundo, o que faz com que a gente se identifique muito mais com a situação atual do país.
O Geraldo Bulhões, seu personagem na série, mudou muito dos anos 1822 para 1930?
O Geraldo está mais inteligente. Na primeira temporada ele parecia mais inocente, sendo levado pelas circunstâncias. Agora, ele sabe que o que está fazendo não é certo, mas faz assim mesmo, e se exime da culpa dizendo que “está cumprindo ordens dos chefes”, como se não tivesse a opção de escolher. E é claro que o Geraldo de 1930 tem também alguns trejeitos de época que achei divertido levar para essa temporada.
Seu personagem acaba dando voz ao famoso jeitinho brasileiro, além de representar o estereótipo do funcionário público. Ainda há vários Geraldos fora das telas?
Acho que ele está muito mais para o estereótipo do funcionário público do que para do jeitinho brasileiro. Esse “jeitinho brasileiro” traz um componente de malandragem que o Geraldo não tem. Ele não quer que nada mude e, principalmente, tem essa postura de se eximir da responsabilidade por todas as coisas absurdas e erradas que venha a cometer. A culpa é sempre dos chefes, como se ele não pudesse dizer “não compactuo com isso”. Como ator e estudioso da natureza humana, acredito que todos temos Geraldos dentro de nós. A diferença está em se os deixamos aflorar ou não.
É possível traçar um paralelo entre o Brasil da primeira temporada, da segunda e o dos dias de hoje?
A grande brincadeira da série é essa: a graça e a desgraça estão no mesmo ponto. A graça da série é que verificamos que estamos parados no mesmo lugar há anos. A desgraça, não da série, mas do país, é que verificamos que estamos parados no mesmo lugar há anos. Patinando sem sair da mesma poça de lama.
Para você isso é natural ou assustador?
Nem natural, nem assustador. Acho triste, desesperançoso.
A crítica feita por meio da comédia acaba sendo mais bem “digerida” pelo público?
Filhos da pátria tem um riso torto. Costumo dizer que é um riso com dor de siso. E isso também é humor. O humor está em tudo, depende da maneira enxerga e como o diz. O problema é quando as pessoas acham que humor é feito só pra dar risada. Acho isso um equívoco. Humor é feito pra fazer pensar, também. E o da série, especialmente, é pra fazer cócegas no cérebro.
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