Ex-motoboy, Alan Oliveira virou ator e ainda mantém canal aberto para falar sobre representatividade na internet
Alan Oliveira não tem medo de mudar. O ator trans vive o DJ Cidão na novela Vai na fé, a primeira da carreira. Mas até pouco tempo antes da estreia, a profissão dele era outra: motoboy.
“A mudança foi de 0 a 100. A profissão de motoboy é muito complicada porque você está literalmente arriscando a vida todos os dias, com risco de acidente, assalto. Já atuar está num lugar totalmente diferente porque, além de não me representar riscos, é algo que eu gosto muito de fazer. Fico até triste quando estou de folga”, conta Alan.
O fato de Cidão ser um DJ ajudou nessa fase de troca de carreira, pois o universo da balada, da festa, era bem conhecido por Alan. “Sempre frequentei boates, festinhas e bailes. Quando soube que iria interpretar um DJ, comecei a observar mais os caras nas baladas, a fazer perguntas. Assisti a filmes de DJ e tenho estudado sobre eles para fazer uma atuação mais próxima da realidade”, afirma o fã declarado de hip-hop, rap e funk.
Nem mesmo estar no núcleo de nomes consagrados como Renata Sorrah, Luís Lobianco e José Loreto assustou Alan. Pelo contrário. O estreante aproveita a generosidade dos colegas e tira as dúvidas que vão surgindo para poder crescer mais.
Além de ator, Alan Oliveira é criador de conteúdo. Ele começou na internet falando sobre a transição de gênero dele, mas sempre com muito humor e leveza. “Até hoje recebo muitas mensagens de caras trans que estão perdidos, estão no início da transição ou ainda estão tentando se entender. Procuro ajudar todos com o carinho, gentileza e com toda a atenção que eu queria que me dessem quando eu comecei”, orgulha-se o ator. “Tenho vários feedbacks também de homens que começaram a transição por minha causa, viram
minha história, viram que é possível alcançar os objetivos. Saber que consegui ajudar de certa forma a vida deles a melhorar me deixa muito feliz”, finaliza.
Entrevista Alan Oliveira
Como você define o DJ Cidão?
DJ Cidão é o cara que é gente boa, trabalhador, divertido, alegre, amigo e um artista top. É ele que faz os beats das músicas do astro pop Lui Lorenzo.
Como é sua relação com a música e com o universo dos DJs?
Eu sempre gostei muito de escutar música, meus estilos favoritos são hip-hop, rap e funk, mas sou bem aberto e escuto outros estilos. Sempre frequentei boates, festinhas e bailes e achei irado os DJS que estão lá sempre pra animar e tocar. Mas nunca tinha me aprofundado no assunto. Quando soube que iria interpretar um DJ eu comecei a observar mais os caras nas baladas e até fazer perguntas (risos). Comecei a ver filmes de DJ e tenho estudado sobre eles também para fazer uma atuação mais próxima da realidade.
Vai na fé é sua primeira novela. Antes você era motoboy. Como foi essa mudança de profissão?
Foi de 0 a 100. A profissão de motoboy é muito complicada porque você está literalmente arriscando a vida todos os dias, com risco de acidente, assalto. É muito complicado porque você já sai de casa orando pra conseguir voltar bem, vivo, ileso. Já atuar está num lugar totalmente diferente porque, além de não me representar riscos, é algo que eu gosto muito de fazer. Fico até triste porque estou de folga.
Logo na estreia você contracena com nomes como Renata Sorrah e Luís Lobianco. Como está sendo essa troca?
São atores incríveis de quem eu já era fã e agora descobri que são pessoas maravilhosas, generosas e humildes que nunca me trataram com diferença mesmo eu sendo novo no meio e sempre me ajudam quando tenho alguma dúvida. É uma responsabilidade enorme contracenar com eles porque preciso mandar muito bem para não desequilibrar a cena.
Você é criador de conteúdo digital. Acha que o seu público da internet pode dialogar com o da novela?
Sim, justamente porque meu público da internet é uma galera que consome conteúdo de humor e o DJ Cidão está ali na parte cômica. Os conteúdos se batem.
Você começou na internet falando sobre sua transição de gênero. Sente que ajudou muita gente levando esse assunto para a rede? Você também acabou sendo ajudado com essa abordagem?
Sim. Até hoje recebo muitas mensagens de caras trans que estão perdidos, estão no início da transição ou ainda estão tentando se entender e procuro ajudar todos com o carinho, gentileza e com toda a atenção que eu queria que me dessem quando eu comecei. Tenho vários feedbacks também de homens que começaram a transição por minha causa, viram minha história, viram que é possível alcançar os objetivos. Isso é muito maneiro, pois são pessoas que nunca vi na vida, de outros estados, até países diferentes, saber que consegui ajudar de certa forma a vida deles a melhorar me deixa muito feliz.
O assunto da transição de gênero ainda precisa ser mais bem explorado pela mídia brasileira? Qual a importância de falar do assunto numa novela ou nas redes sociais?
Ele está sendo um pouco mais falado, mas ainda falta falar muito mais. Ainda é um assunto “desconhecido” por muita gente por falta de informação mesmo e acho que isso tem que melhorar! Por isso é tão importante representatividade de pessoas trans em espaços públicos, artísticos, cargos altos e bons porque somos o grupo de pessoas com menos chances no Brasil, inclusive de vida, visto que a média de vida de uma pessoa trans é de 35 anos no país que mais nos mata no mundo. Importantíssimo abordar o assunto em novelas e nas redes sociais porque precisamos ser vistos e acabar com esse apagamento de pessoas trans.
Você pensa em juntar essa temática e sua arte no futuro?
Sim. Eu faço muito conteúdo de humor, mas a caminhada de um homem trans e preto é bem puxada. Tem vários pontos tristes desde o racismo até a objetificação, mas depois vou me organizar com calma pra trazer uma temática educativa sobre essa vivência com um pouco mais de humor porque eu gosto de criar coisas que agreguem a vida das pessoas, mas de forma leve.