miklos2

A maturidade de um titã: Leia entrevista com Paulo Miklos, o Jurandir de O sétimo guardião

Publicado em Entrevista

Paulo Miklos comemora os 60 anos de idade num dos melhores momentos da carreira de ator, com personagem e música na trilha da novela das 21h

Paulo Miklos está rindo à toa. O ator, cantor e compositor completou 60 anos recentemente. A idade que, antigamente significava a aposentadoria e, para muitos, ainda leva à desaceleração tem gostinho de auge para ele. Com o personagem Jurandir, ele vive o melhor momento como ator na televisão e, de quebra, emplacou a canção Princípio ativo, parceria com Céu, na trilha sonora de O sétimo guardião.

Jurandir começou a trama com um extremista religioso, que implicava com o namoro da filha Elisa (Giullia Buscacio) e do coroinha Montoni (Matheus Abreu). Agora, o amor amoleceu o coração do personagem, que se vê apaixonado pela esotérica Milu (Zezé Polessa), uma das guardiãs da fonte mágica de Serro Azul.

“A gente não sabe o que vai acontecer com o personagem de uma novela. Conhecemos o personagem, mas não o caminho que ele percorrerá. Jurandir é um homem extremo transformado pelo amor. O mais interessante é que o amor entre duas pessoas maduras. É uma oportunidade muito grande falar sobre esse assunto. Eu completei 60 anos e vivo essa realidade com a minha esposa. A vida não termina mais aos 60. Aos 60, sinto tranquilidade e amadurecimento. Mas tem o lado roqueiro, de sangue nos olhos que ainda faz parte de mim”, afirma o ator, em entrevista ao Próximo Capítulo.

Um dos seguidores da vilã Mirtes (Elizabeth Savalla), Jurandir não tolerava muito quem não é afeito à religião católica. Agora, as coisas são diferentes. “A questão da tolerância é um desdobramento do personagem, de aceitar o outro como ele é. Jurandir tinha sérias questões com a filha ou com a Milu. O amor veio para relativizar tudo isso”, explica o ator, que enxerga nessa vertente uma consonância com o que vivemos atualmente no Brasil e no mundo: “O momento que vivemos no Brasil e no mundo é da busca pela aceitação do próximo. A gente não tem que mudar o outro, que impor o que acreditamos.”

Ator e cantor Paulo Miklos
Arquivo pessoal/Divulgação. Paulo Milkos: “Aos 60, sinto tranquilidade e amadurecimento”

Ator premiado no cinema, Paulo Miklos apareceu para o grande público com o grupo de rock Titãs. Por isso, não é de se estranhar que ele esteja na trilha sonora de O sétimo guardião também. A canção escolhida, Princípio ativo, é uma parceria dele com Céu e é tema exatamente dessa relação de Jurandir e Milu.

“Fomos conversar sobre o personagem e vi que a música combinava muito bem com a história da Milu e do Jurandir. Quando pedi Princípio ativo a Céu, queria que ela tratasse do feminino. E ela fez isso respeitando os mistérios das mulheres”, conta Paulo.

Tanto quando compõe como quando atua, Paulo Miklos busca se aproximar do que está sendo contado ali. Não foi diferente com o filme O homem cordial, do cineasta brasiliense Iberê Carvalho. “Quando o Iberê Carvalho me chamou para fazer um roqueiro dos anos 1980 brinquei: eu não sei fazer isso, não. Eu estou bem próximo desse personagem. Buscar essa proximidade é importante em meus personagens. Faço isso com o Jurandir também”, afirma Paulo.

Quatro perguntas/ Paulo Miklos

Este slideshow necessita de JavaScript.

Você ganhou duas vezes o prêmio Candango de melhor ator no Festival de Brasília. Como é sua relação com a cidade?
Brasília é muito especial e muito importante na minha carreira como ator. Já tinha um histórico, com a música, com shows maravilhosos e o brasiliense sempre acompanhando meu trabalho com o Titãs. Em 2001, quando eu estreei no cinema, com O invasor, o filme foi muito bem recebido e eu ganhei o prêmio de revelação no festival. Eu fiquei muito feliz, muito feliz mesmo. Então eu tenho uma relação inaugural com Brasília, principalmente com o festival porque depois eu recebi o prêmio de melhor ator por É proibido fumar. Então, eu tenho essa relação bem estreita com a cidade.

Você está voltando aos palcos, com o musical Chet Baker — Apenas um sopro. Como está sendo esse regresso?
O Chet Baker é uma peça muito interessante. Eu já fiz temporadas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte e pretendo retomar assim que terminar de gravar a novela, em maio. É uma peça muito especial, com um tema que me toca muito: a história de um músico, a decadência dele; é um músico muito problemático, alcoólatra, envolvido com drogas e numa relação muito conturbada com os colegas. É um personagem bastante dramático e intenso.

A gente pode esperar para 2019 um disco novo ou novas músicas?
Ainda não. Acho que ainda tem lenha para queimar no disco A gente mora no agora. Tem essa canção da Céu que está agora no ar (Princípio ativo faz parte da trilha sonora de O sétimo guardião) e tem mais uma canção muito bacana que eu pretendo trabalhar, que é uma música do Tim Bernardes chamada Eu vou. Se você for ver essa letra, ela tem tudo a ver com o que eu sinto atualmente. Ela registra bem esse meu momento, ela diz assim: “Não vou mais aturar baixo astral na minha vida/ Não vou mais carregar o peso e a dor que não é minha”. Eu quero mostrar essa música para o grande público antes de lançar um novo trabalho.

Esse momento que o Brasil está passando te inspira mais a compor ou acaba te desanimando mais?
As duas coisas. Me inspira mais a falar de coisas que têm pertinência, sobre aquilo que mexe com a nossa sensibilidade. Eu faço música de todas as formas. A música é transformadora. Ela toca na sua sensibilidade e pode entrar por um caminho e fazer a diferença. Pode ser uma questão mais de cunho político ou não. Pode ser uma canção romântica que vai chegar ao coração das pessoas e causar uma transformação. Então, nesse sentido a realidade é sempre instigante. A gente vive agora um momento bastante intenso, de mudanças e muita coisa eu lamento. Mas isso é da democracia. A gente tem que estar democraticamente aberto à discussão e na resistência.