Na novela bíblica, o ator de 29 anos interpreta Simeia, fruto do pecado do Rei Davi, e faz um paralelo com o fato de ser adotado
Por Patrick Selvatti
Na oitava temporada de Reis, o ator Arthur Santileone, de 29 anos, é Simeia, filho do Rei Davi (Petrônio Gontijo) com Bateseba (Anna Lima) e irmão de Salomão (Guilherme Dellorto), o sucessor do trono. Fruto de uma relação pecaminosa e desastrosa, o rapaz sofre preconceito e tem como desafio a inclusão no seio familiar. “Ele vive entre a sombra do pecado dos pais e a grandiosidade do futuro do irmão. Simeia sofre internamente para ser notado pela própria família”, explica o intérprete que, coincidentemente, também conhece esse lugar da “origem complicada”.
Arthur foi adotado, ainda bebê, algo que sempre o deixou inseguro em muitos aspectos. Mas, no caso dele, isso foi amenizado pelo amor dos pais, com o apoio que dão em tudo que ele faz. Sobre a particularidade parecida, ele conta que acha “espetacular”. “A arte sempre me perseguiu, e sempre impactou minha vida pessoal… desta vez, ela acabou me dando um presente de poder me fazer entender o que é estar numa família disfuncional”, avalia.
Formado em direito em Natal (RN), e com um livro escrito em formato de roteiro, Legado de História e Imaginação, em 2017, aos 23 anos, Arthur decidiu se mudar sozinho para o Sudeste para correr atrás do sonho de ser ator. Entre as duas profissões, ele assinala a ética como ponto em comum. “Advogado e ator se encontram na persistência em manter a ética acima de tudo nos meus relacionamentos. Muito do que eu aprendi enquanto estudante de direito, levo pra minha carreira, especialmente na forma de lidar com pessoas”, defende ele, que estudou psicopatia pelo viés clínico e jurídico e tem o seu TCC publicado em formato digital na Amazon.
Para Arthur, o universo dos psicopatas é assustador e fascinante ao mesmo tempo. “O que mais me impactou ao estudar a fundo esse tema foi a descoberta dos níveis de psicopatia, o impacto do ambiente familiar na construção de um futuro serial killer e o fato de que há psicopatas não completos andando entre nós, construindo família, contribuindo para a sociedade de forma positiva”, explica o ator, advogado e escritor, que também pode ser visto em participações na série Reality Z, da Netflix, e na novela Além da Ilusão, da Globo.
“Outra informação que descobri é a existência de um gene conhecido como MAOA, que é um ingrediente importantíssimo na construção de um indivíduo considerado psicopata e que é transmitido pela mãe através do cromossomo X”, finaliza ele, que faz aulas de canto e dança, corre e nada e perdeu mais de 20 quilos.
Confira a entrevista para o Próximo Capítulo:
Onde o Arthur advogado se encontra com o Arthur artista?
Na persistência em manter a ética acima de tudo nos meus relacionamentos. Muito do que eu aprendi enquanto estudante de direito, levo pra minha carreira, especialmente na forma de lidar com pessoas. Na época da faculdade fui atendente na Defensoria Pública do RN, e estar nessa posição te expõe a diversos tipos de situações e pessoas, tudo isso acabou me ajudando a criar e desenvolver uma inteligência emocional que uso diariamente no meio artístico, especialmente com as pessoas com quem preciso trabalhar.
Como surgiu o interesse em estudar a psicopatia?
Como eu morei 17 anos no Rio Grande do Norte, estava um pouco longe do polo artístico do Brasil que é o eixo Rio-SP. Como eu ainda não sabia se iria seguir uma carreira profissional na arte, escrever foi o que me restou para me manter conectado com esse universo. Mas, quando eu estava prestes a me formar, precisei escolher um tema para o meu TCC e busquei juntar dois grandes interesses meus: direito penal e psicopatia. Este é um tema forte que muitos filmes e livros abordam há anos e sempre me fascinou. Nessa brincadeira, acabei por transformar o meu TCC em e-book e publiquei, em 2017, na Amazon. Ele se chama Direito penal brasileiro e psicologia jurídica: uma análise sobre os casos de psicopatia. Inclusive, vai fazer 10 anos que estudo esse tema e cada vez mais aprendo coisas novas… É um tema assustador e fascinante ao mesmo tempo.
Qual foi a maior descoberta feita nesse processo de pesquisa?
O que mais me impactou ao estudar a fundo esse tema foi a descoberta dos níveis de psicopatia, o impacto do ambiente familiar na construção de um futuro serial killer e o fato de que há psicopatas não completos andando entre nós, construindo família, contribuindo para a sociedade de forma positiva como, por exemplo, o neurocientista James Fallon. Outra informação que descobri e que é de fundamental importância é a existência de um gene conhecido como MAOA, que é um ingrediente importantíssimo na construção de um indivíduo considerado psicopata e que é transmitido pela mãe através do cromossomo X. Sem falar que existe uma equação capaz de prever, não com certeza absoluta, é claro, o potencial surgimento de um psicopata de grau máximo, o famoso serial killer: imagine que um sujeito possui o gene MAOA, agora o deixe exposto a um ambiente de alto estresse emocional e violento durante seu crescimento; acrescente nesta equação o fato de que ele possui um dano cerebral que afeta o sistema límbico; surge, então, um indivíduo em potencial para a psicopatia gravíssima… Isso é insano!
Você foi adotado e recebeu todo acolhimento da nova família. Mas vive um personagem que, mesmo de sangue, não se sente incluído no clã. Como enxerga essa coincidência, ainda que oposta?
Eu acho tudo isso espetacular! A arte sempre me perseguiu, e sempre impactou minha vida pessoal… desta vez, ela acabou me dando um presente de poder me fazer entender o que é estar numa família disfuncional. É poderoso ser ator porque te dá a chance de viver na pele de outros e isso aumenta sua empatia, te faz ser cada vez mais grato por quem você é… e tudo isso fortalece meu caráter. Eu tenho o melhor trabalho que eu poderia ter.