Séries antológicas estão caindo na graça do grande público e não faltam exemplos!
Antes das populares séries contemporâneas que contam com incontáveis temporadas ligadas na mesma história, as séries antológicas eram a regra. Ainda na década de 1940 e 1950, a tevê norte-americana vivia uma verdadeira época de ouro do formato. Com clássicos do cacife de The twilight zone e Alfred Hitchcock presents, as séries antológicas – ou seja, aquelas que tem apenas uma temporada com a mesma história – tinha um baixo custo de produção e ganhavam forte apelo popular, afinal grandes estrelas estavam mais suscetíveis a participar deste tipo de formato.
Um grande “defeito”, entretanto, fez as séries antológicas perderem um pouco de espaço com o passar dos anos. A própria base dessas produções é uma de suas maiores inimigas: a limitação. Começou a ser mais interessantes para os canais apostar em produções que pudessem manter uma base de fãs – do que tentar aglomerar um novo público a cada ano. Desta forma, a tevê começou a focar em formatos mais “sólidos” e duradouros (como E.R., com 15 temporadas, ou Law & Order, com 20 temporadas) a partir das décadas de 1980 e 1990.
Mesmo que mais caras – Friends, por exemplo, chegou ao fim com cada um dos seis protagonistas ganhado cerca de US$ 1 milhão por episódio da NBC – a grande questão era apostar em uma linha de narrativa que prendesse o público, dando mais do que uma sugestão do que poderia ser um hit (no caso das séries antológicas), e sim buscando uma certeza aos anunciantes.
Com a chegada dos anos 2000, todavia, este panorama começou a se alterar (deixando claro o quanto a tevê é uma dinâmica – e incrível – forma de arte). As séries antológicas começaram a brilhar novamente ao se destacarem pela própria excelência. Não foi só até Ryan Murphy botar as mãos em American horror story, por exemplo, que o terror começou a ganhar mais espaço na tevê.
Entre 2017 e 2018, o gênero começou a mostrar que talvez não só tenha ganhado espaço, mas sim se tornado a nova regra de 2019. Produções como Feud, Room 104, Black Mirror, Fargo, Easy, True Detective, High maintenance e The sinner mostraram como podem ser populares. Já O alienista, American crime story: O assassinato de Gianni Versace, Dirty John e Genius mostraram que também podem ganhar a crítica.
Confira quatro razões que explicam a volta das séries antológicas
Novos meios
A boa — e velha — Netflix não poderia estar fora de mais esta tendência. A verdade é que não só a gigantesca do streaming, mas várias outras empresas do ramo têm uma conexão forte com temas contemporâneos, e ao abordar tais conteúdos (seja no formato antológico, ou não) já ganham muitos pontos. Um dos maiores exemplos disto é Black mirror, que debate tecnologia e cybercultura. A produção conseguiu repensar o formato para um contexto que não só muda de temporada para temporada, mas também de episódio para episódio.
Os novos meios também promovem uma experiência individual para cada telespectador, que, com frequência, optam por histórias fechadas. Neste sentido, cada temporada de uma série antológica funciona como um “grande filme”, com começo, meio e fim bem definidos em uma temporada de fim de semana, por exemplo.
Em síntese, os novos meios têm uma facilidade maior em experimentação e eventualmente é mais consistente desenvolver conceitos em formato antológico (já que teoricamente não existe uma base de fãs em jogo). Algo similar ocorre agora com as novas produções do YouTube, ou do Facebook Watch: planejamento para uma temporada e se funcionar, só segue o bonde no próximo ano.
Economia
Como já explicado lá em cima, fazer uma série antológica é mais barato. A começar pelo preço de elenco, que é fechado pela quantidade de episódios fixo. É bem mais fácil do que ter de renovar um contrato para uma estrela que está há vários anos à frente de uma produção e começa cobrar altos valores por isto.
Outro detalhe de bastidores, mas que faz toda a diferença é venda das produções. Geralmente, ao se produzir uma série antológica de baixo número de episódios, a publicidade é feita de forma conjunta. Já em uma série de várias temporadas, a propaganda é vendida para cada episódio (e ainda de acordo com a audiência da série). Ou seja, é mais fácil, especialmente para os pequenos canais vender um número “X” de episódios fechados para um anunciante, e esse formato geralmente se destaca neste momento.
É óbvio, mas vale citar também a conexão deste contexto com os novos meios. Trata-se de uma união e tanto: a segurança econômica de criativamente desenvolver um conteúdo fechado com começo, meio e fim em uma plataforma que permite ao público acompanhar tudo de uma vez.
Digestão fácil
Este tópico é mais subjetivo, mas, ainda assim, faz uma diferença e tanto. As linhas narrativas de uma série antológica tendem a apresentar uma digestão mais fácil. Atenção: não se trata de ser uma série mais fácil, ou simples. Pelo contrário. A grande questão aqui é a proposta de um começo, meio e fim claro para o público, algo que as séries de grandes temporadas não tem como definir, afinal, dependendo da audiência, uma produção pode ser rapidamente “aumentada”, ou “encurtada” – e no fim das contas, o grande final é sempre relativo, e pode decepcionar o público.
Essa “digestão fácil” não é nenhuma novidade e já é velha conhecida dos proceduals (aquelas séries que contam uma história em cada episódio). Dick Wolf, o pai de Law & Order (um dos maiores exemplos de procedual da história da televisão mundial), costuma dizer que o formato é sinônimo de igualdade, porque todos podem assistir, independentemente de terem visto o último episódio, ou não. De certa forma é assim que as séries antológicas funcionam, em escala diferente, é claro.
Eles se destacam
No fim das contas, o destaque de marketing que as séries antológicas conseguem é a principal base de sua nova tendência. Os canais apostam nestes formatos porque eles estão na boca do povo. Ver a American crime story: O assassinato de Gianni Versace brilhando na temporada de premiações, ou Black mirror ficar dias a fios nos trending topics chamam a atenção das pessoas, e, em consequência, o interesse dos criadores e canais.
E dê seu pitaco: o que você acha do formato? Acha que a tendência é real?