Apresentando a vida de uma mãe solteira, Smilf é a nova promessa do canal Showtime. Diferentemente de outras estreias da fall season 2017, a produção surpreende
Um dos grandes desafios da televisão é entreter ao mesmo tempo em que consegue passar uma mensagem, uma reflexão. A maioria das pessoas não quer só rir de um personagem escorregando em uma casca de banana, ao mesmo tempo em que outros evitam mais ainda questionamentos à la Nietzsche. Nesse jogo pela busca de audiência, vence quem conseguir um leve equilíbrio entre o divertido e o inteligente. Smilf não só conseguiu os dois, como ainda apimenta tudo com uma boa pitada de ousadia – o termo “smilf” (“single mother I like to fuck”) designa “mulheres que são mães, mas ainda são desejadas sexualmente”.
A trama conta a história de Bridgette (Frankie Shaw, de Mr. Robot), uma jovem mãe, que tenta equilibrar a decadente carreira de atriz (que atualmente se resume em ser babá de uma adolescente) e as responsabilidades da maternidade. O enredo não é novo, pelo contrário, Better things está a dois anos dando uma verdadeira aula sobre como abordar o mesmo assunto. O que Smilf tem de novo é uma complexa mistura entre o drama da situação, uma – boa – apelação e uma sutil reflexão social, que sacia a fome do público por conteúdo (e ainda o deixa pensando alguns minutos além do episódio).
O piloto faz um trabalho exemplar em apresentar os personagens que montarão todo o arco da série. Conhecemos Tutu (Rosie O’Donnell), mãe de Bridgette, uma senhora um pouco desequilibrada psicologicamente, mas que é toda a ajuda que Bridgette tem; e Rafi (Miguel Gomez), o pai do filho de Bridgette, um rapaz que tenta manter a criação do garotinho em primeiro plano, mesmo tendo de lidar com os “altos e baixos” da ex-companheira. Connie Britton (Friday night lights, #saudades) e Samara Weaving (Out of the blue) ainda completam o elenco com personagens que, provavelmente, serão melhores explorados nos próximos episódios.
Frankie Shaw ainda é um nome novo, mas se eu fosse você já ia guardando. Além de estrelar, Frankie também dirige, escreve e produz a série. Bateu um leve déjà-vu? Não é para menos, Frankie faz bem o estilo Lena Dunham de ser, não só nas múltiplas tarefas, mas também na maior liberdade com a qual pretende lidar com o conteúdo. Nudez, palavrões e atitudes eticamente incorretas (como tentar transar com um cara na mesma cama em que o filho está dormindo) fazem parte do enredo e constroem uma narrativa que pode ser classificada como até melhor do que Girls.
Lidar com essa liberdade nas telinhas não é tarefa simples. É importante lembrar que Lena Dunham trabalhava com a HBO (canal historicamente conhecido pelos temas mais à frente de seu tempo), já Frankie tem de enfrentar o Showtime, canal fechado ligado a CBS (canal historicamente conhecido pela tradicionalidade). Outro ponto que pode ser preocupante é a questão da comédia. Algumas piadas parecem não funcionar da forma que deviam e acabam fazendo o público esboçar pouco mais do que um sorrisinho.
Em contrapartida, é fundamental citar a última cena do piloto, a audição de Bridgette foi um ponto fora da curva no quesito excelência. Em poucos momentos em séries tive o prazer de presenciar uma entrega total como aquela. Smilf tem tudo para se tornar uma nova referencia de ousadia e conteúdo original. Boas ideias, capacidade de execução e um elenco nível máximo já ficou claro que a série tem.