A primeira temporada da série de Pamela Adlon estreou em agosto no Brasil. Confira crítica de Better things!
Criada por Pamela Adlon e Louis C.K., Better things apresenta a vida de Sam, um mãe solteira de três garotas, que precisa aprender a equilibrar a carreira de atriz com a criação de Max, Frankie e Duke. Ao longo de 10 capítulos, foram exibidos episódios – quase antológicos – dentro de uma temporada brilhante.
Comecei a acompanhar a história com o olho bem aberto, esperando uma composição mais acusativa, direta e que me colocasse na parede. As expectativas foram compostas essencialmente pelos projetos anteriores de Pamela e C.K., pois não é a primeira vez que o duo trabalha junto (Lucky Louie e Louie são alguns dos projetos anteriores), mas essa é, sem dúvidas, a melhor parceria da dupla.
Better things apresenta uma narrativa familiar quase aconchegante. Mas não se engane, o humor ainda é extremamente ácido e, por vezes, cruel. Mas aqui o público encontrará uma maior sutileza e inteligência por trás das cenas e do dia a dia dessa família de jovens mulheres. Porém, de novo: isso não significa que a série seja piegas, ou ingênua. Pelo contrário, a série ganha uma maturidade, uma presença.
Uma situação que imprime bem essa nova vertente se encontra no episódio em que Sam está voltando a atuar. Estrelando uma sitcom ficcional de péssima qualidade, a personagem tem que lidar com uma situação complicada e ao mesmo tempo tem que aguentar um jovem ator tentar começar um caso amoroso com ela. Durante todo o desenrolar do plot, poucas piadas são explicitamente atiradas. O humor por constrangimento completa a narrativa e deixa a situação engraçada por si só.
As relações com as filhas é uma linha narrativa à parte. Diferentemente do que pensávamos a partir do piloto, Frank (a filha do meio, aparentemente transgênera) não ganha os holofotes por essa característica em específico (com exceção de alguns minutos no piloto e no episódio final), mas sim por ser uma garota extremamente inteligente, e um pouco cheia de si. Duke, a caçula, também é uma personagem chave, mostrando a Sam o “lado bom da maternidade” (um dos melhores episódios da série é a interação da pequena com a amiguinha forçada da religião mórmon, tão diferente da realidade de sua casa).
Max, a mais velha, é a ponta dramática da série. As brigas dela com a mãe são de partir o coração e frequentemente quebram a linha cômica da série apresentando o que a dupla Adlon e C.K. sabem produzir com maestria: uma boa dramédia. Essa situação é bem percebida no antepenúltimo episódio da temporada em que Sam é a única que resta para consolar a filha, após o fim de um relacionamento, ou ainda no penúltimo episódio quando Max fica cheia de ódio da mãe por dar conselhos amorosos a melhor amiga numa festa.
Outro ponto que merece uma celebração à parte na série é a relação de Sam com a mãe, que é definitivamente a mais recorrente da produção, e felizmente, construída de forma brilhante. A avó que só quer, insistentemente, palpitar na vida da filha é extremamente irritante, mas todas as vezes que Sam dá um chega pra lá na senhora, uma dor aguda aperta o coração dos telespectadores. Menção honrosa a cena em que a avó finge ter morrido para divertir as netas – quem não prendeu a respiração que jogue a primeira pedra –, e quando Duke questiona a mãe sobre o porquê do relacionamento difícil entre elas e obtêm como resposta: “Porque a vida é assim, eu sou má com ela, mas você também vai ser má comigo, é como as mães funcionam”.
Em síntese, Better things é uma série única: inteligente, eficaz, que entretém e te faz refletir. Com certeza deve entrar na sua lista de prioridades.
OBS: Para quem assistiu e está se perguntando, a trilha de abertura é do John Lennon. Trata-se da faixa Mother e é quase impossível não se emocionar com ela.