ECHO Cena de Eco, nova série da Marvel na Disney+ | Foto: Chuck Zlotnick/Marvel Studios Cena de Eco, nova série da Marvel na Disney+

Eco aparenta ser o esboço de uma nova (e mais violenta) Marvel

Publicado em Séries

A nova série da Disney+ aposta em uma anti heroína menos popular e em uma mudança brusca de direção em relação ao MCU

Por Pedro Ibarra

O sucesso só é capaz de se perpetuar se a mudança ocorrer para uma constante evolução. Esta noção parece reger a Marvel nos últimos tempos, visto que após quase 10 anos de domínio absoluto do cinema de heróis, cultura pop e bilheterias, o Marvel Studios busca novos caminhos, personagens e histórias. Nesta toada, estreia na Disney+ a série Eco, segunda produção da Marvel Spotlight, uma nova divisão de histórias mais adultas e sóbrias.

O seriado acompanha Maya Lopez (Aliqua Cox), uma jovem que cresceu no meio mafioso de Nova York, após sobreviver a um acidente que matou a própria mãe. Com o pai, ela investiu nas artes marciais e se tornou uma das mais potentes armas do vilão Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio), o Rei do Crime. Porém, após ver o próprio pai ser assassinado, descobriu que Fisk teve papel crucial para que ela se tornasse um monstro e jurou vingança. Ela também é a primeira protagonista com deficiência do Universo Cinematográfico Marvel (MCU), visto que é surda e usa uma prótese em uma das pernas, amputada quando criança. A origem indígena também é importante para o desenvolvimento da personagem.

Maya foi apresentada na minissérie ‘Gavião Arqueiro’, lançada em 2021. Na ocasião foi tratada como uma anti-heroína aficionada pela figura do Ronin, alcunha que o Gavião Arqueiro levou depois que metade da população do universo desapareceu com o estalo de Thanos. Porém, após um embate com Clint Barton, o Gavião, teve a revelação que estava buscando vingança no lugar errado, visto que o Rei do Crime a havia usado durante todo este tempo como uma assassina contratada.

A nova série trata diretamente da origem dessa personagem que tem como poder nos quadrinhos principalmente a habilidade de imitar o estilo de luta dos inimigos que enfrenta, ou seja, um eco do movimento. Na produção, o fato de ela ser de uma linhagem sagrada de mulheres indígenas faz dela especial, algo como uma escolhida da etnia Choctaw, muito comum entre os indígenas norte-americanos.

Primeiras impressões

O Próximo Capítulo teve acesso aos primeiros episódios da série e apresenta a visão inicial do tom da estreia da semana. Eco estreia em formato seriado algo que há tempos era pedido pelos fãs da Marvel: uma realidade mais urbana, sombria e violenta. O selo Marvel Spotlight promete narrativas mais nesta pegada. Por este motivo, a série se destaca principalmente nas cenas de ação. As coreografias de luta tem muita qualidade e impacto em cada soco, chute, queda e tiro. O sangue, muitas vezes omitido no MCU, agora é exacerbado. O que fdá um caráter muito intenso e gráfico para as sequências antes apenas vistas nas produções da Marvel feitas pela Netflix, como Demolidor e Jessica Jones.

A narrativa chama atenção por não depender de outras milhares de produções lançadas ao longo desses mais de 10 anos de Marvel, Eco se contém em si mesma, é legal ter visto produções como Gavião Arqueiro, ou até o Demolidor da Netflix, afinal originalmente ela foi apresentada no quadrinho do Diabo Vermelho, mas não é necessário ter visto nada para entender o que é mostrado na tela. Esta é a história de origem de Maya Lopez, tudo é explicado antes para chegar ao ponto de combustão visto nos 5 episódios lançados hoje de uma só vez.

A capacidade de ousar da direção da série também agrada, explicando não apenas uma origem rasa da personagem, mas explorando as raízes profundas da cultura nativa norte-americana. A ideia é mostrar na tela que Maya só está ali, como protagonista, porque gerações de outras mulheres fortes e especiais pavimentou um árduo e tortuoso caminho para os indígenas Choctaw estadunidenses. Uma mensagem importante para além do caráter narrativo, uma vez que Eco não só representa as pessoas com deficiência, com pouquíssima relevância no histórico do cinema, como também os indígenas, muito mal representados, principalmente nas superproduções hollywoodianas.

As atuações são interessantes, principalmente pelo fato de Aliqua Cox estar estreando como atriz na personagem. A artista é surda na vida real, o que mostra mais um acerto da Marvel em investir em diversidade. O fato da personagem ser muito sisuda e mau humorada faz com que a emoção não ser um ponto forte, mas a atuação é segura e competente. Vincent D’Onofrio vive um Rei do Crime muito mais imponente do que o que interpretou no Demolidor da Netflix.

A parte estética é apurada. A cinematografia aposta em jogos de câmera arriscados, planos longos de luta e até colorizações de cena distintas para épocas diferentes. As aberturas de cada episódio que tratam da ancestralidade de Maya são visualmente arrojadas e destoam de muito do que foi feito na Marvel até aqui. Esta é uma das produções mais variadas no que diz respeito ao aspecto técnico do MCU, ao lado de WandaVision e a estreante da Marvel Spotlight, Lobisomem na noite.

Ainda é cedo para falar se Eco terá o potencial para ser lembrada entre os melhores lançamentos da Marvel em tempos recentes, mas, com certeza, é uma das coisas mais diferentes que chegaram a Disney+ por meio do estúdio. Com um final digno dos três episódios iniciais, Eco pode ser um pontapé efetivo para um MCU “de adulto” e uma personagem importante para o futuro dessas narrativas super heroicas.