_MG_5274 Louise Clós, atriz | Crédito: Priscila Nicheli

“Unidas, somos mais potentes”, afirma Louise Clós, de Reis

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No ar na novela bíblica e premiada internacionalmente no cinema, atriz gaúcha de 32 anos conta sobre o seu despertar para o feminismo

 

Por Patrick Selvatti

 

“Muita gente diz que eu tenho ‘cara de época’…”. Com essa frase, a atriz Louise Clós inicia a conversa com o Próximo Capítulo sobre o desafio de estrear com um personagem fixo em novelas na produção bíblica Reis, na qual emenda a segunda temporada como a serva Damaris, que contracena com alguns dos principais personagens, como Bateseba (Paloma Bernardi) e Mefibosete (Miguel Coelho).  

“Acredito que o maior desafio é entender como viviam as pessoas naquele período. Quais seus costumes, culturas e hábitos, como se comunicavam, como se vestiam e o que comiam. Existe muita riqueza nesta pesquisa para trazer para a cena a maior veracidade possível, fazendo com que o público realmente se transporte para a atmosfera da história”, afirma a gaúcha de Santa Maria, destacando que cenário e figurino ajudam muito na composição. 

Nas novelas bíblicas, a presença masculina tem muita força, até pelo viés patriarcal vigente na época. Louise, de 32 anos, aponta quais traços desse machismo ainda enxerga nos dias atuais. Segundo ela, a consciência sobre a estrutura patriarcal em que vivemos ainda é muito recente e concentrada, dependendo de estudo, história e informação. “É comum vermos histórias antigas tendo protagonismo masculino. Era o que se vivia naquela época. Apesar disso, acho as mulheres de Reis muito fortes e relevantes para a história. Acredito que estamos evoluindo enquanto sociedade, a caminho da desconstrução, porém temos uma árdua e longa estrada pela frente”, argumenta a atriz, que aproveita a oportunidade para comentar o quanto ainda se fala do feminismo de forma deturpada, como algo ruim. “O feminismo nada mais é que uma busca pela igualdade de direitos entre homens e mulheres”, defende. 

Louise Clós é Damaris em reis | Divulgação Record

Para Louise, toda mulher nasce feminista, já que a existência feminina é sobre sobrevivência e luta. “Há alguns anos, eu me despertei e entendi o quanto mulheres somam umas às outras e como mais potentes somos com essa união. Não é fácil, mas trabalho um olhar mais empático para as mulheres no meu dia a dia. Hoje, antes de julgar outra mulher, tento sempre entender a sua história, de onde ela vem, quais são as suas motivações e me abro para a escuta e para o acolhimento”, explica a atriz, pontuando que, sempre que pode, fala sobre isso, com homens e mulheres, com o intuito de gerar uma possível reflexão sobre a realidade das mulheres nos dias de hoje. 

Fruto do Rio Grande do Sul, uma região ainda muito patriarcal e conservadora, Louise define a terra natal como “berço, de onde eu venho e me formou como pessoa” e aponta que a maior referência que tem de lá são os amigos que fez ao longo da vida e a família que, em sua maioria, ainda mora lá. “Além da comida, claro, que é uma delícia”, acrescenta ela, que, além de participar de novelas da Globo, esteve em Topíssima e Todas as garotas em mim, também na Record.

9 vezes premiada

Nove prêmios internacionais não são para qualquer um. Mas esse foi o número de vitórias que Louise levou, em 2020, em festivais realizados nos Estados Unidos, na Inglaterra e na África, pelo filme Delphine, um curta-metragem dirigido por Fábio Brandão, que ela estrela ao lado de André Ramiro. “A premiação nada mais é que uma forma de reconhecimento do nosso trabalho que é feito com muito esforço e suor, então dá um quentinho no coração. Foram meses de preparação com uma equipe muito competente, os prêmios são apenas reflexo disso”, afirma a gaúcha, que chegou a disputar o título de Melhor Atriz com Dira Paes.   

Ainda no cinema, Louise encarou seu maior desafio profissional nas filmagens de Jorge da Capadócia, uma produção gravada no Brasil e na Turquia em que ela esteve como atriz e produtora. “A demanda de trabalho, carga horária e responsabilidade eram muito maiores. Gravamos no Rio e na Capadócia, então haviam obstáculos como a língua, a negociação, o translado, as locações e tudo que engloba o fazer cinematográfico com o plus de ser um país desconhecido e diferente do nosso. Dormíamos duas horas por dia, gravamos dentro das cavernas e comíamos a comida local”, conta ela. 

O filme está previsto para abril de 2024 com distribuição da Paris Filmes. Enquanto grava a oitava temporada de Reis, Louise também se prepara para voltar aos ensaios com duas peças que dirige. Uma delas, El, uma jornada dentro de mim, teve temporadas online na pandemia e agora irá para o presencial. Além disso, ela estará na direção do primeiro curta-metragem, a primeira experiência nessa função no audiovisual. O filme Não conta pra ninguém fala sobre abuso e relações familiares.