Sem mocinhos cativantes e com tramas paralelas confusas, Travessia precisa de vários ajustes para decolar. Leia crítica!
Difícil embarcar na jornada proposta por Glória Perez na atual novela das 21h. A novela pode ser tudo menos uma travessia. A trama está parada praticamente desde que estreou, o casal de protagonistas não funcionou e o principal mote do folhetim praticamente desapareceu. Um claro sinal de que as coisas não vão bem é que a autora tem ido constantemente às redes sociais explicar e defender atitudes dos personagens. Não era para precisar, né? Faz lembrar a Glória Perez de Salve Jorge (2012), cada vez mais distante da que escreveu A força do querer (2017).
A situação dos mocinhos Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede) lembra a de Maya (Juliana Paes) e Bahuan (Márcio Garcia) na vencedora do Emmy Caminho das Índias (2009). Ari foi tão rejeitado pelo público e Lucy e Chay têm tão pouca química que, agora, a torcida do público é para que o coração de Brisa seja mesmo de Oto (Rômulo Estrela), inicialmente o vilão da história. Será que, assim como Maya terminou ao lado de Raj (Rodrigo Lombardi), Brisa e Oto terão o final feliz? Para piorar o caminho do casal principal, é ao lado de Jade Picon (a Chiara) que Chay explode.
Jade, aliás, vem sendo apontada como um dos grande problemas de Travessia. Sonho da direção e da Globo que fosse só isso. A ex-BBB é uma atriz inexperiente num papel que, por força das circunstâncias, cresce cada vez mais, e vem mostrando ser apenas uma atriz estreante. Não há na performance dela surpresas boas, nem ruins. Talvez o erro esteja na escalação para esse papel, talvez no desenvolvimento dos outros personagens.
Travessia chegou com a propensão de trazer para o horário nobre a discussão sobre crimes virtuais, especialmente o deepfake que desencadeou a virada de Brisa, e desapareceu. Glória Perez sabe perfeitamente como levar temas inusitados e futuristas para a tela, como fez em Explode coração (1995), com a internet. Mas desta vez a temática mal entrou em campo e foi jogada para escanteio. Os crimes, nas mãos de Rudá (Guilherme Cabral), ganharam ares de brincadeira juvenil. Parece que agora o investimento será mesmo num lado obscuro de Moretti (Rodrigo Lombardi), que já andou insinuando que gostaria de ver Oto morto. Será que precisamos de mais uma subtrama em Travessia?
Essa não é a primeira novela de Glória que enfrenta esse tipo de problema. Caminho das Índias mesmo deu a volta por cima e se tornou um dos maiores sucessos da autora. O clone (2001) também teve um meio com uma barriga interminável que acabou se resolvendo com o tempo. Deixando de lado experiências como América (2005) e imbuído de um otimismo que costuma me acompanhar, ainda acho que Travessia possa ser salva por Glória Perez sem que um furacão a acometa. Mas não pode demorar muito mais.
Liga
Liderado por um excelente e surpreendente Tony Ramos, o elenco de Encantado’s (Globoplay) está afinadíssimo. Com muita representatividade e sem aquele tom “gritado” das comédias nacionais, o programa é brindado por performances de nomes como Vilma Melo e Luís Miranda.
Desliga
Bastou uma passagem de tempo para tudo se confundir em Todas as flores. De repente, os nove meses da gravidez passaram apenas para a trama de Vanessa (Letícia Colin) e as outras estacionaram. Para piorar, na mesma semana, Diogo (Nicolas Prattes) não é reconhecido por Luis Felipe (Cássio Gabus Mendes) e Olavo (André Loddi), além de que o poderoso advogado não soube da liberdade do desafeto.