Com Travessia, nova novela das 21h da Globo, Gloria Perez aborda como a tecnologia pode ser benéfica ou perigosa. Folhetim não deixa de lado uma bela história de amor
Pedro Ibarra
Vinicius Nader
“Gosto de olhar a sociedade por meio das tecnologias. O mundo ficou pequeno porque a tecnologia nos permite chegar a qualquer lugar.” É esse o principal olhar de Gloria Perez em Travessia, novela dirigida por Mauro Mendonça Filho que estreia amanhã na faixa das 21h da Globo. O principal, sim, o único jamais.
Quem conhece o trabalho de Gloria sabe que ela não é autora de um tema só (diversidade, conflitos de gerações, o mundo dos negócios são alguns que prometem estar na novela) e que não abre mão de um romance, daqueles bem folhetinescos. Ao triângulo amoroso vivido por Lucy Alves, Chay Suede e Rômulo Estrela junta-se um elenco numeroso que tem, entre outros, Cássia Kis, Drica de Moraes, Alessandra Negrini, Marcos Caruso, Rodrigo Lombardi e Humberto Martins.
“É preciso lembrar que várias gerações passaram por um salto tecnológico. Estamos num momento de travessia com um pé no futuro e outro no passado. A novela mostra como as vidas das pessoas são tocadas por essa travessia”, afirma Gloria, em entrevista coletiva para o lançamento da novela.
A trama de Travessia começa no Maranhão, onde o casal de noivos Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede) vive e tem contato com as novidades tecnológicas de maneiras diferentes. “A gente fala sobre tempo. O tempo é orgânico. No Maranhão, é lento. A tecnologia é instantânea. Os personagens sofrem esse impacto e ficam no embate entre o orgânico e o inorgânico”, reflete Drica de Moraes, que será Núbia, a mãe de Ari.
A vida de Brisa é impactada pela tecnologia quando ela é vítima de um crime. Usando a técnica do deep face, o rosto de Brisa é colocado na imagem de uma sequestradora de bebês. Mas a imagem viraliza e ela acaba acusada de um crime que não cometeu. “Vamos falar de coisas boas, de avanço, mas de coisas ruins trazidas pela tecnologia também. O deep face é uma ‘brincadeira’, feita às vezes sem maldade, mas que toma proporções enormes na vida de uma pessoa. Além do deep face, vamos mostrar a robótica e a AI”, diz Gloria.
Direto das manchetes
A ideia de tratar o deep face veio de uma maneira comum na carreira de Gloria: lendo uma notícia ela arquiva aquele tema e, quando acha que é o momento, o desenvolve. “A trama do deep face veio de um caso real, de 2014. Alguém montou, no Facebook, a imagem do retrato falado de uma criminosa, colocou o rosto da vítima e ela foi reconhecida num mercado. A moça foi linchada. Eu quis mostrar até onde pode chegar uma brincadeira dessas. E também o comportamento dessas pessoas que responderam a um chamado de linchamento de forma mecânica, sem pensar, nem conhecer aquela mulher”, conta a autora.
A partir desse caso, Gloria refletiu que a tecnologia foi evoluindo e acabou trazendo novos crimes, o que renderia numa novela. Para investigar essa e outras infrações ligadas à tecnologia, a autora trouxe de volta dois personagens originalmente criados para outra novela dela, Salve Jorge (2012).
Helô (Giovanna Antonelli) e Stênio (Alexandre Nero) retomam as brigas e picuinhas pelas quais ficaram conhecidos e amados. “A volta é porque o público gostava deles. Nessa novela cabia o casal direitinho. Nada melhor do que trazer de volta essas duas figuras tão populares nas redes”, explica Gloria.
A autora conta que os personagens serão aprofundados: “Em Salve Jorge, os personagens eram mais restritos ao relacionamento, agora os empregos que exercem são diretamente relacionados com a trama”. Porém, o cerne de Helô e Stênio permanece. “Eles ainda são como gato e rato”, afirma Giovanna Antonelli.
Nero mostra que não tem medo da repetição. “O Alexandre não é o mesmo de 10 anos atrás, assim como a Giovanna e a Gloria também não são. Portanto, os personagens também”, pontua.
Mocinha, mas guerreira
Com tudo o que acontece com Brisa, o noivado dela é posto em xeque e todos duvidam da honestidade dela. Mesmo assim, a moça não se deixa abater. “A Brisa é uma mulher de força descomunal porque se mantém forte. Ela é a mulher brasileira, uma heroína que não desiste nunca”, define a atriz Lucy Alves.
Gloria completa: “A Brisa é como toda heroína minha: é muito humana. Então, vai chorar muito, vai sofrer, mas ela é forte. E ela erra também”.
Entre tantos erros e acertos estão o noivo dela, Ari, e Oto (Rômulo Estrela), um misterioso hacker no carro de quem Brisa se esconde para fugir da multidão que quer linchá-la sem ela nem saber o motivo. Juntos, eles vão para o Rio de Janeiro, onde ele pode ajudá-la. Ela avisa ao noivo, mas, num determinado momento, ela deixa de dar notícias e Ari também vai para a Cidade Maravilhosa, onde ele conhece e se encanta por Chiara (Jade Picon).
“É uma grande história de amor, com grandes conflitos. Quero o público dividido. Tem horas que você vai amar o Ari, tem horas que você vai odiar e torcer pelo Oto. Com que par ela vai viver esse grande amor eu vou descobrir junto com o público”, afirma Gloria.
Big polêmica
A escalação de Jade Picon para o papel de Chiara rendeu uma polêmica enorme nas redes sociais. Atrizes e público criticaram o fato de a influenciadora digital e ex-BBB ganhar um papel de tanto destaque. Jade está aproveitando o momento. “Estou ainda descobrindo o que temos em comum, mas há uma conexão forte com a personagem. Mas eu lido diferente com várias coisas. Eu aprendo com a Chiara porque ela vai atrás do que quer. Se ela quer uma coisa, ela dá a cara a tapa. É muito bonito isso. Eu não sou assim. Eu penso demais antes de fazer qualquer coisa”, conta. Gloria sai em defesa da atriz e dá o assunto como encerrado, pelo menos até a estreia: “A arte não tem só uma porta de entrada. Quando o talento existe, às vezes, o palco chega primeiro; às vezes, é o contrário. Já queríamos um nome novo. As polêmicas são inevitáveis, mas a verdade é que a Jade fez um teste, foi bem e é isso, fim do assunto. Já assisti a cenas dela e gostei muito do que eu vi. O público também vai gostar”.