Pantanal tem cara de superprodução com fotografia bem cuidada, texto e direção redondos e interpretações inspiradas
A primeira semana de Pantanal mostrou de cara a que o remake assinado por Bruno Luperi (neto de Benedito Ruy Barbosa, autor da primeira versão, exibida em 1990 na extinta TV Manchete) se propõe. O público, arrebatado, se encantou com a fotografia, o texto e o elenco da novela.
Falar da fotografia de Pantanal poderia soar óbvio e ficar no canto do tuiuiú. Mas a direção de Rogério Gomes vai além. São ângulos inusitados, tomadas aéreas da boiada e, mesmo quando as famosas onças, aparecem são surpreendentes. Ficamos à espera da transformação de Juma Marruá no felino.
Bruno Luperi já vinha mostrado em Velho Chico (2016) que é bom de texto. Mas lá, ele vinha acompanhado da mãe, Edmara Barbosa. Agora, em voo solo, Bruno se firma no rol dos jovens autores cujos textos se destacam não só pela clareza, mas também por fugir do didatismo dos seguidores de Walcyr Carrasco. Nem tudo está mastigado, o que faz parte do charme da novela, mas, mesmo o escondido, está bem escrito. Pelo menos até agora.
É bem verdade que não foi fácil engolir o casamento a jato de José Leôncio (Renato Góes) e Madeleine (Bruna Linzmeyer) após passarem uma noite juntos sem ao menos se conhecerem. Mas, pelo menos, rendeu uma emocionante conversa entre o peão e o futuro sogro, Antero (Leopoldo Pacheco).
Desafios não faltarão a Bruno. Convencer o público de hoje a embarcar na viagem de Juma e Velho do Rio, entre outras, não será fácil. Além disso, assuntos espinhosos como vícios, traições, posse de terra, machismo estão na mira do autor.
Todo esse cuidado com o texto que Bruno Luperi tem poderia ir pelo ralo se o elenco não o acompanhasse. Ponto para ele e para Pantanal. Difícil apontar ali um nome totalmente equivocado. Juliana Paes, irregular, cresce quando sua Maria Marruá exige mais força, como na morte do terceiro filho, Chico (Túlio Starling), ou quando faz as pazes com o marido, Gil (Enrique Diaz), à beira do rio. Renato Góes também não chega a brilhar como o protagonista José Venâncio e se destaca, surpreendentemente, em cenas quase cômicas. Mas o ator tem carisma e seu matuto peão caiu no gosto da audiência.
A semana foi de Irandhir Santos, mesmo que o personagem dele tenha desaparecido na quarta-feira. Na pele de Joventino, pai de José Leôncio, o ator brilhou e mostrou que pode sair do empresário inescrupuloso de Amor de mãe para um peão solitário com extrema competência. E ainda tem mais, pois o ator volta a Pantanal, na segunda fase como João Lucas de Nada, filho de José Venâncio.
Bruna Linzmeyer e Malu Rodrigues divertiram como as irmãs Madeleine e Irma, que vão disputar o coração de José Venâncio. A ótima Selma Egrei precisa se desgrudar do tom da psicóloga Dora de Sessão de terapia para viver sua Carolina. Repertório é o que não falta a ela. A hilária participação de Orã Figueiredo como um taxista mau caráter também merece nota. Por fim, Letícia Salles tem em mãos o difícil papel de Filó, jovem amargurada, mas sem muitos excessos. A atriz dá conta do recado e se sai muito bem.
Pantanal estreou com alta expectativa e campanha de divulgação que mereceu de Globo Repórter a presença do elenco em quase todos os programas da emissora, passando por apresentadores, como Ana Maria Braga (Mais você), Fátima Bernardes (Encontro) e Tadeu Schmidt (BBB22), vestirem estampa de onça no dia da estreia. Nesta primeira semana, deu sinal de que responderá bem: deu boa audiência, recebeu elogios da crítica e ainda bombou na internet.