Vandré Silveira vive o caminhoneiro Eurípedes em Amor dos outros, no CineBrasil TV, e aguarda lançamento de série na Amazon Prime Video
Foram precisos 20 anos de carreira para que o ator Vandré Silveira chegasse ao primeiro protagonista na televisão. Mesmo já tendo vivido o personagem principal nas telonas e nos palcos, só agora Vandré encara o desafio na televisão dando vida ao caminhoneiro Eurípedes na série Amor dos outros, do CineBrasilTV.
Isso não quer dizer, porém, que ele não tenha feito televisão nesse tempo. O ator esteve em Amor Veríssimo (GNT), A segunda vez (Multishow), Carcereiros (Globo) e Jesus (Record) e aguarda a estreia de Jenipapo – A Fronteira da Independência (Amazon Prime).
“Todo personagem, para mim, é uma grande responsabilidade. Gosto de pensar que o elenco é uma grande equipe e penso que a função do protagonista é estar sempre disponível e estimular seus colegas para que o jogo cênico tenha a sua maior potência”, afirma o ator, em entrevista ao Próximo Capítulo.
Fazendo um balanço da carreira, Vandré revê um caminho de trabalho, conquistas e abdicações. “Ser ator é mesmo um sacerdócio. Não é fácil. E precisamos lidar com as entressafras, quando saímos de um trabalho sem perspectiva próxima de um novo trabalho. É a natureza do ofício. Somos e sempre seremos resistência”, comenta.
Os 20 anos de carreira de Vandré coincidiram com os 40 anos de vida de Vandré, marca que o ator confessa ter tido importância para ele. “Eu realmente senti uma diferença. Mesmo com espírito jovem, curioso, os 40 me fizeram refletir sobre as minhas escolhas. Boas ou más, são essas escolhas que me moldaram, me tornaram o homem que sou hoje. Então, eu aceito e agradeço. Me sinto mais maduro emocionalmente e artisticamente e também confesso que tenho me achado um quarentão bem interessante”, brinca.
Para o futuro, além da série já gravada, Vandré tem o desafio de levar aos palcos o texto A hora do boi. Ele adianta que será um texto sobre a relação do homem com os animais. “Nos colocamos numa posição antropocentrista de superioridade e temos estabelecido uma relação de exploração e crueldade com os animais. Busco nos meus projetos artísticos, gerar reflexões que podem se transformar em ações. O teatro é uma plataforma de transformação no mundo”, reflete.
Entrevista // Vandré Silveira
Você estará na série Jenipapo – A Fronteira da Independência. O que pode adiantar desse projeto?
É um projeto de grande originalidade que aborda os fatos que culminaram na batalha do Jenipapo, ao lado do rio de mesmo nome, no Piauí. A batalha mais sangrenta na história da independência do Brasil. E que foi fundamental para a coesão de todo o território nacional.
Você interpreta o Simplício Dias da Silva. Já conhecia a figura histórica dele? Algum traço desconhecido da personalidade dele o surpreendeu?
É sempre um desafio interpretar uma figura histórica. Sabia que ele tinha sido o principal patrocinador da adesão de piauienses, maranhenses e cearenses na luta pela libertação brasileira do domínio português. Não conhecia seu lado cruel, e muitas lendas rondam a figura dele. Era um homem excêntrico. Diziam que em sua casa em Parnaíba (PI), havia uma calabouço com uma onça e que seus desafetos eram jogados lá. Há também a lenda do Corpo-seco. A ideia de que Simplício praticou tantas crueldades em vida, que após sua morte, ele vagava sobre a Terra como um Corpo-seco renegado pela espiritualidade.
O Simplício é visto por muitos como um vilão. Como humanizar esse personagem para que ele desperte o mínimo de empatia?
Foi este o grande desafio. Sempre busco humanizar meus personagens. Simplício tinha uma ligação forte com os filhos. Por ter estudado em Portugal e na Inglaterra, ele adquiriu o bom gosto e a paixão pelas artes, em especial pela música. Formou uma banda de música que levava seu nome composta por escravos que ele enviou para estudarem em Lisboa e no Rio de Janeiro, na Escola Nacional de Belas Artes. Não posso revelar detalhes, é uma série de 10 episódios, mas vamos acompanhar a derrocada deste homem poderoso. Vamos adentrar sua humanidade.
O processo de criação de um personagem real, que existiu, é diferente do de um tipo totalmente fictício? Em que eles mais se diferem?
É diferente, sim. Um personagem real cria expectativas no público, em geral. Quando fiz Farnese de Andrade no teatro, meu primeiro monólogo, assisti a imagens do Farnese e busquei trejeitos e uma certa cadência na fala que se aproximava do personagem real. Mas acredito que esse mimetismo é uma faceta nesse processo de construção. Não havia referências de imagens do Simplício. Ele nasceu no século 18. Então, o processo de abordagem é outro. Me inteirei dos comportamentos e da etiqueta da época. Do que significava ser o maior benfeitor do Piauí e ao mesmo tempo um dos homens mais cruéis, como muito se fala. Atuar para mim é acessar frequências. E na medida que você sintoniza a frequência do personagem, ele está ali.