As palavras “clichê” e “atualização” cabem na mesma frase? Young royals, da Netflix, prova que sim!
Sueca, monárquica e teen. A curiosa receita de Young royals, da Netflix, pode até parecer inusitada, mas serve uma saborosa maratona. O drama adolescente é recheado com aqueles clássicos clichês adolescentes — primeira paixão, amizade, inveja — dentro de uma história arrojada e afiada, com temas e abordagens mais atuais e realísticas, em apenas seis episódios.
A produção foi criada por Lisa Ambjörn, Lars Beckung e Camilla Holter, que apresentam a dura realidade de Wilhelm (Edvin Ryding), um adolescente de 16 anos que é nada mais, nada menos, que um dos príncipes da monarquia sueca (sim, apesar de bem menos badalada e pop que a britânica, ela existe, e é milenar).
A história começa quando o garoto é mandado pela mãe dele, a rainha, a um colégio no estilo internato chamado Hilerska. Lá, ele vai se apaixonar pela primeira vez por Simon (Omar Rudbergo), um colega de classe.
O quão ruim pode ser herdar o trono?
Cuidado, spoilers a seguir
Ao mesmo tempo em que começa a viver a nova paixão, Wilhelm logo terá de aprender a crescer bem rápido. Sendo o irmão caçula da família real, o jovem nunca se preocupou muito com a tomada do trono, que, por tradição, iria para Erik (Ivar Forsling), o irmão mais velho.
O problema é que o primogênito morre em um acidente. Logo, chega a vez de Wilhelm se tornar o “príncipe herdeiro”. Além do “empecilho” de Simon ser pobre e bolsista em Hilerska, o fato de um príncipe herdeiro gay assumir o trono do país vai contra os planos da rainha Kristina (Pernilla August).
Encurralado pela mãe para manter uma imagem heterossexual e, em consequência, lutando contra o primeiro amor, Wilhelm ainda tem de lidar com August (Malte Gårdinger), primo invejoso que acaba divulgando um vídeo íntimo do príncipe herdeiro com Simon para a imprensa — que como todo mundo já sabe, não tem o costume de tratar de forma amigável a monarquia europeia.
É da Netflix mesmo?
Talvez a naturalidade distante dos Estados Unidos seja um dos grandes trunfos de Young royals. Diferente das produções do gênero norte-americano, chega a ser um alívio ver adolescentes que não são barbados e nem parecem o Hulk de tão musculosos. Agora, imaginem a surpresa mesmo de testemunhar garotos com espinhas, meninas que não são extremamente magras e o fato de um dos protagonistas ser latino — sim, tudo isso é possível!
Além desse sopro de naturalidade, Young royals ainda conta com uma linha narrativa muito afiada. Os acontecimentos andam sem enrolação ao longo dos seis episódios, a história se desenrola de forma linear. Os diálogos — geralmente o calcanhar de Aquiles do gênero — não são soníferos e ajudam nessa “caminhada” do roteiro.
Parte dessa agilidade da narrativa de Young royals se dá ao pequeno, mas eficaz elenco coadjuvante, composto por Felice (Nikita Uggla), uma garota apaixonada por Wilhelm, e Sara (Frida Argento), a irmã de Simon (que não vamos xingar pelo bom decoro deste espaço). Esse elenco de apoio não só serve como um ornamento da história, mas constrói situações próprias, o que dá um respiro da via crucis dos infortúnios de Wilhelm.
Em síntese, a série tem um ou outro tropeço sim, mas não é nada se comparado à história dinâmica e afiada de um mundo onde os adolescentes não se preocupam tanto com a beleza tanto quanto se preocupam com a ansiedade de viver em uma sociedade que mesmo “de sangue azul”, está bem longe de ser perfeita.